VOZES DO PUNK segue em campanha. Saiba o que vem por aí!

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Nos últimos quatro anos, a Revista Acrobata publicou a série Vozes do Punk, organizada por Aristides Oliveira e Eduardo Djow. Eles fizeram um mapeamento da cena punk em Teresina (PI) a partir do final dos anos 80 até os dias atuais, através de entrevistas com nomes que fizeram história pela cidade. Do Grito Absurdo – considerada a primeira banda do gênero no Piauí – até os eventos mais recentes, a série buscou construir um painel que situa as interessadas(os) conhecer a história da música underground na capital.

Agora os caras querem transformar essas memórias em livro, mas precisam da sua ajuda para esse sonho virar realidade. Através de uma campanha colaborativa, os organizadores buscam arrecadar o valor para fazer uma tiragem mínima, no qual os custos da produção (capa + diagramação + impressão + distribuição) custa em média 5.000,00.

Através do apoio via PIX até o dia 17 de abril, eles acreditam que é possível levar o material para a gráfica, através da parceria com a Editora Cancioneiro.

Quem puder ajudar e mora em Teresina, o livro custará 40,00.

Quem mora em outro Estado, o livro custa 40,00 + 15,00 (frete correios).

Patrícia Marcondes conta pra gente o que vem por aí na coletânea:

Nesta obra, organizada por Aristides Oliveira e Eduardo Djow,  vislumbra-se a cena underground construída na tórrida Teresina. Através de entrevistas, se adentraram nas memórias relatadas por seus participantes que vieram na esteira de um contexto histórico sombrio balizado pela ditadura militar.

Altaide Pedreira do Nascimento, o Chakal, importante protagonista do movimento punk em Teresina com a banda Obtus, postula: “Inventamos a banda pra gritar, xingar, meter o dedo na cara e dizer: você é um escroto e todo mundo sabe o que você faz! Você é um canalha! Um maldito desgraçado!”. O estilo punk é implosão e explosão de sentimentos, pulsão de morte, uma relação dinamitada pelo próprio sistema que o criou.

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As memórias como se sabe, são dinâmicas e se relacionam intrinsecamente com a história do tempo presente, portanto, o avivamento dos anos de repressão em meio às ameaças autoritárias dos últimos anos são relembradas intensamente pelos artistas que fizeram toda a mágica acontecer e que mantém de forma essencialista a chama da indignação acesa.

Os depoimentos do livro foram realizados em clima informal de bate-papo e os leitores de alguma forma, se sentem convidados a participar, ressignificando suas próprias memórias em relação ao tema e à época. As histórias relatam também os lugares onde o punk aconteceu, como o Teatro do Boi e o bar Elis, a exemplo, que aparece em vários depoimentos.

Outra recorrência é a da importância do Grupo de Estudos Anarquistas (GEA) que se propunha a debruçar sobre os conceitos principais do anarquismo, perceptível nas produções da época. A epopeia outsider começou com o grupo Grito Absurdo (1985-1988) que revelou não apenas uma preocupação política, mas também estética, inserindo a poesia de Fernando Pessoa, com inspiração direta nas aulas e pesquisas da professora Dorinha (UFPI).

Dentro da perspectiva interartes inerentes à época, este grupo mesclou o punk com a literatura, a dança e o teatro.  Tal iniciativa não agradou a todos, mas realmente esta nunca foi a perspectiva dos punks, como afirma Eduardo Crispim da banda Obtus: “Não era música para agradar, era música para agredir”.

Na esteira do grupo Grito Absurdo outros surgiram, cada qual com sua especificidade, mas unidos na proposta anti sistema: Obtus, Verme Noise, Fimose, Campo Minado, Resistência Libertária, Anarcóticos, entre outros. As vozes dissonantes aqui presentes são inicialmente de: Fábio Almeida de Carvalho, Jorge Oliveira, Eduardo Djow, Chakal, Fernando Castelo Branco, Bayaku, Zé Nildo, Eduardo Crispim, Makline, Vidal Neto, Jairo Mouzinho, Heitor Matos, Sid Blues, Fofão, Demetrios, Dante, entre outros. 

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Mulheres punks de outros locais foram convidadas a participar do livro. Em “As Lutas tem canções”, a obra conta com a participação da pesquisadora e professora Paula Guerra, do Departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Paula coordena e participa de vários projetos de pesquisa nacionais e internacionais no campo das culturas juvenis e da sociologia da arte e da cultura.

Em seu depoimento, apresenta o itinerário em que se apresentou o punk na sua trajetória de vida e pesquisa. A professora ressalta também sobre os alcances e desafios da inserção dessas culturas marginais juvenis nas universidades de forma geral, e especificamente, em Portugal.

Em “Frequências sonoras do rock”, Olga Costa, jornalista cultural e com uma longa estrada no cenário da produção musical, em seu depoimento, conta de sua experiência com o punk rock e compartilha sua trajetória, uma verdadeira inspiração a todas e todos os amantes da música pesada em suas diferentes nuances.

E para finalizar, temos a pesquisadora musical Maria Caram e seu depoimento intitulado “A força da sonoridade feminina no cenário independente”, em que nos apresenta questões relacionadas à mulher em um campo eminentemente masculino como o rock. Produtora de eventos na área musical e estudiosa da música feminina nacional e internacional, transita entre o indie, o eletrônico e o punk e nos revela sobre o duo musical com Olga Costa, denominado Motosserra.

Foram muitas as vozes do punk que compuseram o cenário neste livro, todas viscerais no som e na crítica, postulando contra toda a forma de poder e marca de gado no ser humano a fim de normalizá-lo: papéis, recibos, certificados, hierarquias, cartões-ponto, uniformes, reuniões, partidos, religiões, entre outros.

Vozes que alcançam o século XXI ainda como transgressoras.


A profa. Dra.Patrícia Marcondes de Barros (UNESP) é pesquisadora nas áreas de História e Literatura Marginal (UEL).

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