O Avesso do Apagamento: A Reexistência Akroá-Gamella em Uruçuí-PI

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Por Rebeca Freitas Lopes

“Nós somos os guardiões do Cerrado.” (Cacica Dan Akroá-Gamella)

Faz um tempo que convidei Rebeca para participar da Revista com um trabalho sobre a temática indígena, mas sua correria do cotidiano e seu envolvimento com a pesquisa acabou deixando mais pra frente sua colaboração acrobática. E agora, com muita alegria, compartilho com vocês a escrita dela. É uma pesquisa acadêmica que problematiza as narrativas em torno da história indígena no Piauí e seus esforços de apagamento dessas populações. Fiquei impressionado como Rebeca conduz sua escrita: profundidade analítica, vasta leitura e uma habilidade para tornar seu trabalho acessível a qualquer pessoa que sinta interesse em ler. Não é aquele artigo chato, frio e distante de nós. Pelo contrário, tem pulsação de quem ama o que faz e provoca uma indignação no leitor(a) que co-participa da história atravessada pela violência dos homens-ricos-brancos que buscam estraçalhar a memória e os corpos dos povos ancestrais. Qual será o próximo artigo que ela vai publicar? Estou na expectativa.


“Aqui tem índio de verdade?” – O silêncio que fala: o projeto de apagamento indígena no Piauí e as perguntas que denunciam.

A pergunta ecoou na sala de aula, inocente e cortante: “Tia, mas aqui tem índio de verdade?”. A criança, de no máximo cinco anos, fitava-me com olhos curiosos enquanto eu falava sobre os povos originários da região de Uruçuí, localizada no sudoeste do Piauí. Naquele instante, senti o peso de séculos de apagamento se materializar em uma única frase.  Como explicar que a ausência que ela imaginava era, na verdade, uma presença apagada? Como falar que a invisibilidade dos povos indígenas no estado não é um acidente, mas um projeto cuidadosamente costurado por interesses políticos e econômicos? Que, enquanto o Piauí celebrava seus vaqueiros e seus sertões, suas aldeias e suas línguas eram silenciadas?  E por que essa pergunta dói tanto? Porque revela que o apagamento não está somente nos livros, mas nas mentalidades. Que mesmo antes de aprender a escrever, as crianças já absorveram a ideia de que indígenas são personagens do passado, são portanto, sem história e sem existência no presente, e, quando uma criança naturaliza essa ausência, é porque alguém, em algum momento, apagou a presença.  A pergunta daquela criança não era solta. Era um sintoma, um reflexo de um sistema que ensina, desde cedo, que “índio de verdade” só existe em livro didático, em filme ou em terras distantes. É o indígena folclórico. Não aqui, não agora, não entre nós. Mas a história e a resistência contam outra versão.  E essa é a história que vai ser contada a partir de agora, de um dos muitos povos que hoje combatem o discurso do extermínio no Piauí: o povo Akroá-Gamella, de Uruçuí.

Povo Akroá-Gamella de Uruçuí-PI na retomada do Território Vão Seco/ Toco Preto.

Fonte: Colagem digital por Rebeca Freitas Lopes, 2025.

O Apagamento Como Projeto: Como o Piauí Foi Forçado a Esquecer Seus Povos Originários

Por séculos, as instituições políticas e intelectuais sustentaram a narrativa de que o Piauí não teria mais populações indígenas, pois estas foram dizimadas e que aqueles pouco que sobreviveram deixaram de ser “indígenas”, pois já estariam misturados à sociedade não indígena. Fruto de um discurso fabricado ao longo do século XIX amparado na ideologia da mestiçagem e mobilizado por elites políticas e econômicas ávidas por terras, essa narrativa se cristalizou não somente nas oficialidades do estado, mas na academia e na sociedade. Literatos do período republicano propuseram uma sistematização da história colonial brasileira uma perspectiva violenta, transformando o genocídio em “desaparecimento natural”, e os sobreviventes em meros “caboclos”, vestígios de um povo supostamente extinto. Essa máquina de apagar identidades operou sob a égide de mecanismos perversos, sobretudo a partir de uma leitura viciada pela perspectiva hegemônica do morticínio e do apagamento dos documentos oficiais que já mencionava a extinção desses povos e a expropriação legalizada de terras declaradas “devolutas”. O resultado foi tão eficiente que o Piauí se tornou o último estado brasileiro a reconhecer a presença indígena contemporânea em seu território: só em 2020 admitiu seus primeiros territórios indígenas, um século depois de outros estados, através da Lei N.7389, de 27 de agosto de 2020.

O projeto de apagamento indígena, no Piauí, foi meticulosamente articulado não apenas no campo das ideias, mas, também, através de instrumentos legais concretos. A promulgação da Lei de Terras de 1850, como analisa Vânia Moreira (2014) e Tatiana Oliveira (2020), representou um marco nesse processo ao estruturar uma política liberal de avanço sobre as terras coletivas dos antigos aldeamentos indígenas. Essa legislação não apenas facilitou a grilagem de territórios tradicionais, como operou em favor de uma deslegitimação étnica sistemática na qual a existência de povos originários passou a ser constantemente questionada.  Como parte de um todo mais abrangente, esse processo não foi isolado, pois integrava o projeto político do liberalismo oitocentista, que, se espalhando por toda a América Latina, buscou criar Estados nacionais homogêneos, apagando diferenças étnicas em nome de uma suposta unidade nacional. No Brasil, essa missão foi abraçada com entusiasmo pelos intelectuais do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), que se dedicaram a construir uma história nacional única, apagando as múltiplas identidades que compunham o território.

A construção do mito do “desaparecimento” indígena no Nordeste brasileiro – particularmente no Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte – constituiu um dos mais eficientes projetos de apagamento histórico já empreendidos no país. Como demonstra Costa (2011), essa narrativa foi cuidadosamente tecida ao longo do século XIX, servindo aos interesses de elites agrárias ávidas por terras e a um projeto nacional que via na homogeneização cultural seu ideal político. No Piauí, essa narrativa ganhou contornos ainda mais perversos. A historiografia tradicional da segunda metade do século XX propagou a falsa ideia de que os povos indígenas haviam sido completamente exterminados ainda no período colonial, apagando séculos de resistência e sobrevivência. Essa narrativa histórica serviu para justificar a continuidade da expropriação territorial e a negação de direitos, enquanto os povos originários seguiam existindo.

A produção historiográfica sobre os povos indígenas no Piauí, assim como em grande parte do Brasil, foi marcada por estereótipos que os confinaram a um passado distante, negando-lhes agência histórica e contemporaneidade. A literatura indianista também foi responsável por cristalizar a imagem do “bom selvagem” no imaginário social brasileiro, que reduziram os indígenas a figuras estáticas e como vítimas passivas da colonização.

No Piauí, essa narrativa foi reforçada por obras como O Índio no Solo Piauiense (1954), de Joaquim Ferreira Chaves, que enxergava os indígenas como grupos “fracos”, destinados à aculturação ou ao desaparecimento. Chaves via a mestiçagem como um processo de diluição identitária, ignorando as estratégias de resistência e adaptação desses povos. O historiador Odilon Nunes, por sua vez, tratou o território piauiense como um mero “corredor migratório” para populações indígenas, negando sua ocupação permanente e sua organização sociocultural. Essa perspectiva ecoava o racismo científico do século XIX, que hierarquizava civilizações e via os povos originários como “degenerados” em comparação com as “grandes civilizações” pré-colombianas.  A obra O Índio no Povoamento do Piauí (1982), de Moysés Castello Branco, seguiu a mesma linha de Chaves e Nunes, interpretando o contato interétnico como sinônimo de perda cultural. Para ele, os indígenas que sobreviveram ao colonialismo teriam se tornado “caboclos” — categoria que, no imaginário regional, os dissociava de suas identidades originárias. Essa visão aculturalista ignorava a dinâmica das identidades indígenas, que não se extinguem, mas se transformam e se reafirmam em contextos adversos. 

Longe de serem vítimas passivas, os povos indígenas do Nordeste, assim como o do restante do Brasil, desenvolveram estratégias sofisticadas de sobrevivência: mantiveram práticas culturais na “clandestinidade”, estabeleceram alianças políticas quando necessário e, sobretudo, preservaram a memória de sua ancestralidade. No entanto, para as elites dirigentes tal agência e resistência era vista como empecilho ao progresso e a civilização. No Piauí, essa resistência silenciosa pode ser rastreada desde os documentos coloniais até os movimentos contemporâneos de retomada identitária.

Nesse ínterim, a construção da memória histórica no Piauí constitui um dos mais eficientes projetos de apagamento cultural já empreendidos no Brasil. Através de uma aliança perversa entre oligarquias locais, produção historiográfica e símbolos oficiais, forjou-se uma narrativa que transformou o genocídio em “destino histórico” e a resistência em mero “vestígio do passado”. Uruçuí exemplifica esse processo com precisão cirúrgica: seu hino celebra o gado e o agronegócio, mas silencia os povos originários que precederam em séculos esses símbolos de “progresso”.[1]

Os mecanismos desse apagamento operam em múltiplas dimensões. Na historiografia, reduziu-se os indígenas a obstáculos superados pela civilização. Na toponímia urbana, quase não se tem rua ou praça que homenageia heróis indígenas. Nos currículos escolares, repete-se a falácia do “Piauí sem índios” como verdade incontestável. Essa máquina de produzir esquecimento teve como cúmplices voluntários até mesmo a poesia e a literatura regional que, ao romantizar o sertão, os bandeirantes e o gado, apagaram seus primeiros habitantes. Ao focar apenas nas violências, tais discursos estendem para além do papel a invisibilidade contemporânea desses grupos e de suas lutas por direitos como educação, saúde e demarcação de seus territórios.

As consequências matizam a realidade da vida desses grupos que são marginalizados cotidianamente pela sociedade. Por conta disso, o Piauí foi o último estado brasileiro a reconhecer a presença indígena em seu território e, ainda, existem muitas comunidades que estão em busca de seu reconhecimento étnico perante a FUNAI, a exemplo dos Akroá-Gamella, da comunidade Baixa Funda, localizados nos municípios de Uruçuí e de Baixa Grande do Ribeiro, cuja liderança se dá pela indígena Maria da Conceição Sousa que, desde 2005, busca junto à FUNAI o reconhecimento do seu povo e a demarcação de seus territórios. Anos se passaram desde a primeira reivindicação feita por Dan e a invisibilidade de seu povo e sua história continuava da mesma forma: silenciados pelo poder político local. Sua luta só foi ganhar visibilidade a partir de 2019. Segundo Dan, o processo da luta pelo reconhecimento étnico e da história indígena dos Akroá-Gamella se deu da seguinte maneira:

Olha pra começar, como eu falei pra você em 2005 a gente já pediu a FUNAI que estava no estado do Piauí, foi enterrado só tá lá os registros e não fizeram nada pela gente, tipo rodei várias vezes, aqui no município desde 2000 que a gente luta pra manter essas famílias lá que são indígenas e não tinham pra onde ir e ela nunca foi resgatada essa história no poder político  e também dentro da nossa sociedade civil porque quem estava em frente eles não tinham sangue de índio pra jogar a História indígena pra fora pra ser reconhecido. (Sousa, 2020)

Outra grande consequência da invisibilização da presença desses grupos étnicos no Piauí pôde ser vista durante a pandemia de Covid-19. Os povos indígenas do Estado foram excluídos dos grupos prioritários do Plano Nacional de Vacinação contra Covid-19. Somente em abril de 2021, a partir da luta e reivindicação do movimento indígena e com o apoio de pesquisadores e ativistas da causa, que eles foram incluídos.

No entanto, muitos povos indígenas sofreram racismo, como o caso das comunidades Guegue do Sangue e Akroá Gamela de Uruçuí-PI, que constantemente tiveram identidade indígena questionada. Exemplo disso foi a veiculação de uma matéria televisiva de uma emissora local que propagou a falácia de que, em Uruçuí, não existiam mais indígenas, pois estes teriam sido exterminados ainda durante a colonização, e que os povos indígenas atuais que conseguiram o direito a vacinação não passavam de oportunistas, o que fez com que as comunidades indígenas de Uruçuí sofressem insultos por parte de outras pessoas. 

Em resposta a tais conteúdos audiovisuais, lideranças Gueguê imediatamente se mobilizaram e, conjuntamente com professores/as e colaboradores/as do Grupo de Trabalho Índios na História/ ANPUH-Seção Piauí lançaram a “Nota de repúdio ao Jornal da Noite e Jornal da Tropical (TV TROPICAL FLORIANO – PI BARÃO – MA) por reportagem caluniosa e falas racistas contra os povos indígenas de Uruçuí-PI”[1]. Além do racismo, a invisibilidade da presença indígena contemporânea no Piauí retarda a efetivação de políticas públicas específicas para esses grupos, como educação escolar indígena, saúde indígena e demarcação de territórios.

Contra essa memória oficial, ergue-se hoje uma contranarrativa poderosa. Segundo o Censo Demográfico do IBGE de 2022, o número de municípios no Piauí que possuem população indígena cresceu significativamente desde 2010. No último censo, foi registrado que 122 municípios (ou aproximadamente 54,46% do total) possuem autodeclarações de pessoas indígenas. Já em 2022, o número de municípios com registro de população indígena aumentou para 157, o que representa agora 70,08% do total de municípios do estado.

O verdadeiro teste para o Piauí contemporâneo não está em reconhecer que “existiam” indígenas, mas em admitir que eles sempre existiram e resistiram. Enquanto o hino de Uruçuí canta “riqueza sem fim” no gado, os povos originários escrevem, nas terras retomadas, um verso novo: que a verdadeira riqueza está na diversidade que sobreviveu a todos os projetos de apagamento. Afinal, como provam os Akroá-Gamella, a única coisa que realmente se extinguiu foi a ilusão de que poderiam ser eliminados.

Piauí Terra Indígena.

Fonte:  Colagem digital por Rebeca Freitas Lopes, 2025.

A emergência de grupos como os Akroá-Gamella, Kariri, Tabajara e Gueguê no cenário político atual não representa um “renascimento”, mas sim a visibilização de uma luta histórica que nunca se interrompeu. Suas lutas por reconhecimento territorial e identitário desafiam não apenas o poder estabelecido, mas também a própria academia, exigindo uma renovação historiográfica que os coloque como agentes ativos de sua história.[1] Essa nova perspectiva revela que o apagamento nunca foi completo. Em arquivos esquecidos, na oralidade das comunidades, nos rituais que sobreviveram à repressão, encontra-se a prova de que o projeto colonial falhou em seu intento final. O desafio que se coloca agora é duplo: às universidades, cabe reverter seus métodos; à sociedade, reconhecer que a suposta “ausência” indígena foi sempre uma ficção conveniente. Afinal, como demonstram as retomadas territoriais e o ativismo contemporâneo, os povos originários no Piauí não precisam ser “redescobertos” – precisam, isso sim, ser finalmente ouvidos.

A Emergência Indígena no Piauí: Das Margens ao Centro da Luta por Direitos

Nas últimas três décadas, o Piauí tem assistido a um movimento histórico de reafirmação étnica que desafia séculos de apagamento. Desde os anos 1990, quando os Kariri de Queimada Nova iniciaram sua jornada por reconhecimento, até os dias atuais, os povos originários do estado vêm escrevendo um novo capítulo em sua trajetória de resistência. 

O caso dos Akroá-Gamella da comunidade Baixa Funda é emblemático desse processo. Após tentativas frustradas de diálogo com a FUNAI em 2005, foi somente em 2019, através de um abaixo-assinado liderado por Maria da Conceição Sousa (Dan), que suas vozes ecoaram com força. O documento, um testemunho cru da violência sofrida, descreve não apenas a expulsão de suas terras ancestrais pelo avanço do agronegócio, mas também a resistência silenciosa de gerações que mantiveram viva sua identidade, segundo o ofício:

Nós, abaixo-assinados, lavradores e residentes na comunidade Baixa Funda viemos afirmar a nossa identidade indígena e solicitar o acompanhamento da FUNAI, direito assegurado na legislação brasileira. Historicamente, temos sido expulsos do nosso território indígena e tivemos que nos mudar para outra área de terra, que fica pareada à nossa, separada apenas pelo rio que fica no meio. Novamente estamos sendo expulsos pelos latifundiários. Informamos que os indígenas caboclos, como somos conhecidos, vivem Riachão dos Paulo, Riachão dos Castro, Baixa Grande do Ribeiro, Palmeira do Piauí e Uruçuí, no estado do Piauí. Reafirmamos que estamos sofrendo um processo de expulsão e por esta razão nossos parentes têm se refugiado em outras comunidades, pois os latifundiários já chegaram desmatando e queimando toda a lavoura que havia em nossas terras. Os indígenas têm sido expulsos sem a chance de se defender ou explicar a importância de permanecer no território ancestral. No ano de 1995, algumas famílias voltaram a ocupar suas terras e novamente foram expulsas através de ameaça por parte da polícia e dos latifundiários, vários crimes bárbaros foram cometidos dentro de nosso território. No ano de 2012, mataram e queimaram um dos nossos parentes. Temos todas as provas necessárias para comprovar o nosso pertencimento étnico. Diante do exposto, solicitamos com urgência a presença da FUNAI para que possamos dialogar, contar nossa história e avançarmos na organização do nosso povo. Devido a situação de conflito, pedimos em regime de emergência, que sejam adotadas a medida necessária a demarcação de nossa terra, pois esse é um direito estabelecido na Constituição para os povos indígenas. (OFÍCIO, 2019)

O documento dos Akroá-Gamella da Baixa Funda (2019) emerge como um grito escrito, uma prova documental da resistência teimosa de um povo que o Estado insiste em não ver. Mais do que um pedido de ajuda à FUNAI, o texto revela em suas entrelinhas a anatomia completa da luta indígena contemporânea no Nordeste brasileiro. A descrição minuciosa do deslocamento forçado (“área pareada… separada pelo rio”) não é geografia, é topografia da resistência, mapa vivo de um povo que mesmo expulso não perdeu a bússola de seu território ancestral. O relato cru do parente “morto e queimado” em 2012 ecoa os autos de inquérito colonial, atualizando para o século XXI a mesma violência fundiária de sempre.

Este ofício é, no fundo, um espelho do Brasil que não quer se ver. Nele, se reflete o paradoxo de um Estado que assina convenções internacionais de proteção aos povos indígenas mas permite que latifundiários continuem agindo como colonizadores do século XXI. A urgência do pedido (“regime de emergência”) contrasta com a morosidade histórica do poder público – os Akroá-Gamella não estão descobrindo agora que são indígenas, estão há décadas tentando fazer o Estado enxergar o óbvio.

Por trás da linguagem, o documento evidencia uma sofisticada estratégia política. Cada palavra foi pesada na balança de séculos de opressão: são indígenas porque nunca deixaram de sê-los, são abaixo-assinados porque sabem que só a força coletiva pode romper o muro de indiferença. Este não é um documento sobre o passado, mas um manual de sobrevivência para o futuro, prova viva de que, no Piauí como em todo Brasil, os povos originários seguem escrevendo sua história, mesmo quando lhes negam a tinta e o papel.

Nesse sentido, a promulgação da Lei nº 7.389 em agosto de 2020 marcou um ponto de virada nessa trajetória. Pela primeira vez, o Estado do Piauí reconheceu oficialmente a existência de povos indígenas em seu território. As conquistas que se seguiram – a titulação das terras dos Kariri em Serra Grande, dos Tabajara de Piripiri e dos Tabajara de Lagoa de São Francisco – representam muito mais do que documentos oficiais: são a materialização de lutas que atravessam gerações. 

É crucial compreender que essas titulações, embora distintas das demarcações federais, simbolizam vitórias estratégicas. Elas não apenas garantem um chão para plantar e viver, mas também validam perante o Estado e a sociedade uma existência que durante séculos foi negada. Cada hectare titulado é uma página reescrita na história oficial do Piauí, que insistentemente tentou relegar seus povos originários ao esquecimento. 

Contudo, os desafios permanecem imensos. Enquanto o agronegócio continua seu avanço predatório, enquanto a violência contra lideranças indígenas persiste e enquanto a demarcação de terras segue emperrada na burocracia federal, a resistência se reinventa. Os povos indígenas do Piauí, longe de conformarem-se com migalhas de reconhecimento, seguem organizados, ocupando não apenas terras, mas também espaços políticos, acadêmicos e culturais.  Esta é, portanto, não apenas uma história de resiliência, mas de ressignificação. O que vemos hoje no Piauí não é o “ressurgimento” de povos extintos, mas a visibilização forçada daqueles que sempre estiveram aqui, mesmo quando o Estado insistia em negar. Sua luta atual por direitos não começa agora – é a continuação de uma batalha iniciada há 522 anos, e que segue mais viva do que nunca.

 Mobilizações Akroá-Gamella na luta por direitos.

Fonte: Colagem digital por Rebeca Freitas Lopes, 2025.

Aqui tem “índio” sim. Aqui sempre teve.

Volto ao início deste texto com uma tentativa de resposta, entendendo que a resposta à pergunta daquela criança não caberia em uma frase. Caberia em uma mudança de currículos, em textos como este, no reconhecimento de terras, no respeito às lideranças indígenas que ainda lutam por visibilidade. Caberia, sobretudo, em não deixar que a próxima geração repita a mesma pergunta – mas sim que ela saiba, desde cedo, que a resposta sempre foi sim. 

A crítica contemporânea a essas narrativas revela seu caráter político: ao situar os indígenas exclusivamente no passado, legitimou-se a ocupação de seus territórios e sua exclusão do projeto nacional.  Superar essa visão exige reconhecer que os indígenas não são “fósseis”, mas sujeitos históricos que negociaram, resistiram e se adaptaram.

Dessa forma, no sudoeste do Piauí, o povo Akroá-Gamella constitui um território multilocalizado que se estende por cinco municípios: Uruçuí, Baixa Grande do Ribeiro, Bom Jesus, Currais e Santa Filomena. Essa configuração espacial resulta de um complexo processo histórico marcado por deslocamentos forçados e persistentes conflitos fundiários. Segundo dados do Relatório da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME, 2023), a população Akroá-Gamella na região soma aproximadamente 1.625 indígenas. No município de Uruçuí, estão estabelecidas oito comunidades principais: Assentamento Santa Teresa, Assentamento Flores, Baixa Funda, Jacu, Barra da Estiva, Bananeira e Vão Seco Toco Preto, liderados por uma mulher indígena Maria da Conceição de Sousa, Cacica Dan Akroá-Gamella. Essa configuração territorial multilocalizada, embora decorrente de um passado de expropriações e violências, transformou-se hoje em uma estratégia consciente de ocupação e afirmação identitária. Ao mesmo tempo que preserva os laços culturais e a coesão comunitária, essa disposição espacial amplia a capacidade de reivindicação por direitos territoriais e fortalece a resistência do povo Akroá-Gamella no contexto do avanço do agronegócio sobre o Cerrado piauiense.

O relato de Dan, liderança Akroá-Gamella, sobre sua fuga aos seis anos de idade do território Santo Antônio em 1974 – “a custo de bala e fogo” – não é apenas uma memória pessoal. É a síntese brutal de uma guerra não declarada que transformou o sudoeste do Piauí em palco de um dos mais longos conflitos fundiários do Brasil, ainda hoje não resolvido.

Os anos 1960 e 1970 marcam o auge dessa violência sistemática, quando o avanço da fronteira agrícola se fez com cartuchos de espingarda e latifúndios demarcados a fogo. As margens do rio Uruçuí-Preto, longe de serem “terras devolutas” como alegavam os grileiros, eram o cenário de um êxodo forçado: famílias inteiras de Akroá-Gamella cruzando o rio fugindo da morte. O método era sempre o mesmo – queimadas nas roças, tiros para o alto, ameaças de pistoleiros, até que o terror fizesse seu trabalho e as famílias abandonassem suas terras. Segundo a Cacica Dan conta que saiu “a custo de bala e fogo”:

E aí saiu o homem branco chegou em 1974, expulsando nós das nossas áreas, eu era muito novinha, saí de lá mas através de fogo, me lembro que tudo de minha mãe era o giral de arroz, feijão, era o cofo […] e ai lá o fogo queimou tudo e minha mãe saiu com nós e uma trouxinha de roupa. (Sousa, 2020)

Coincidentemente, a época que Dan relatou a brutalidade da expulsão de sua família do seu território originário, conhecido como Santo Antônio, representou o auge das políticas desenvolvimentistas da ditadura civil-militar brasileira, que investiu massivamente na implantação de projetos agropastoris no Nordeste e, no caso da região sudoeste do Piauí, não foi diferente[1]. Em 1973, foi criada a Empresa Parnaíba Agropastoril com um capital de 30 milhões de cruzeiros, de acordo com o processo da Sudene de 1973, a empresa estava planejada para ser implantada na propriedade “Fazenda Parnaíba”. Dan também conta que um dos símbolos dessa dispersão Akroá-Gamella é o “pé de sucupira”, uma árvore nativa e medicinal do Cerrado, pois foi debaixo dele que a tia de Dan fincou seus pés e suas raízes em uma nova terra, a Baixa Funda, povoado hoje que concentra boa parte dos Akroá-Gamella e que serviu de abrigo após a fuga da família de Dan no contexto da expropriação fundiária e da violência no campo. O “pé de sucupira” representa, nesse cenário, a esperança de voltar para o território originário, o Santo Antônio, e, também, a luta pelo Cerrado e pela sobrevivência dos indígenas Akroá-Gamella. Para Dan, o “pé de sucupira” significa o elemento de coesão da comunidade Akroá-Gamella:

Daí a gente se arranjou em um lugar chamado Baixa Funda e as nossas casas quando nós chegamos tinha um pé de falarga, a minha mãe foi para um pé de falarga e a minha tia ficou debaixo de um pé de sucupira, que hoje ele está lá ainda, hoje ainda tem o pé de sucupira onde está um bocado de Índios que moram lá, no pé de sucupira, em um lugar chamado Baixa Funda, do outro lado do rio, Santo Antônio por um lado e Baixa Funda de outro.  (Sousa, 2023)

Sucessivamente ao episódio de fuga dos Akroá-Gamella, ocorreram uma série de conflitos na região mediante ao avanço do agronegócio. A partir da década de 1990, algumas famílias indígenas tentaram retomar ao território Santo Antônio, mas foram expulsas “à bala e fogo” com auxílio da polícia que trabalhava diretamente a favor dos latifundiários.

Nesse contexto de produção e reprodução de violências, o papel de Dan enquanto liderança indígena, assentada e sindicalista é fundamental nos movimentos de retomada étnica e territorial protagonizados pelos Akroá-Gamella de Uruçuí-PI. Desde muito nova, esteve à frente de processos de ocupação com o Movimento Sem Terra, além de ter ajudado a fundar dois assentamentos na década de 1990, o de Santa Teresa, onde mora atualmente, e o Assentamento Flores. A intersecção de Dan entre os movimentos sociais da terra fez com que construísse uma bagagem de lutas que a tornam referência no município pelo seu desempenho na luta pelos direitos dos que vivem da terra e da agricultura familiar, portanto, ela inicia a luta como trabalhadora da terra.

A metáfora da “viagem da volta” termo utilizado por João Pacheco de Oliveira (1998) para se referir às organizações dos movimentos indígenas e sua retomada étnica, emprestada do poeta piauiense Torquato Neto, ganha contornos profundos quando aplicada à relação do povo Akroá-Gamella com seu território. Assim como as mães enterram o umbigo de seus filhos recém-nascidos para mantê-los simbolicamente ligados à terra e à origem, esses indígenas veem no território muito mais que um espaço físico: ele é o cordão umbilical que os conecta aos antepassados, a um passado de resistência e a um futuro de reconhecimento.  O território, para esses povos, é um corpo coletivo marcado por cicatrizes históricas. Nele estão enterrados os antigos parentes, cujas memórias são invocadas não apenas em rituais, mas no próprio ato de caminhar sobre a terra onde um dia viveram. A violência sofrida por esses povos — expulsões, assassinatos, a destruição de seus territórios não é acidental, um projeto colonial que reverbera até os dias atuais. Mas assim como o umbigo enterrado insiste em lembrar à criança de onde veio, a terra dos Akroá-Gamella e Gueguê reclama seus verdadeiros donos. Sua luta, portanto, não é apenas por demarcação, mas por reconhecimento de uma relação ontológica com o território — aquele que os define, que os nomeia e que, no fim das contas, os mantém vivos como povo.

O “progresso” do Agronegócio,

Fonte: Colagem digital por Rebeca Freitas Lopes, 2025.

Assim, tendo em vista ao que foi exposto, a trajetória dos Akroá-Gamella no Piauí é mais do que uma história de resistência; é um testemunho vivo da capacidade de um povo de se reinventar sem jamais abandonar suas raízes. Desde os violentos despejos nas margens do rio Uruçuí-Preto nos anos 1970 até a criação dos assentamentos Santa Teresa e Flores, e das retomadas contemporâneas, como a do território Vão Seco e Toco Preto realizada no dia 30 de maio de 2024, essa comunidade transformou cada revés em estratégia, cada pedaço de terra conquistado em trincheira de luta. 

Seu movimento revela uma verdade profunda: para os povos indígenas, a terra nunca é apenas um espaço físico. Ela é o arquivo de suas memórias, o solo onde repousam seus ancestrais, o mapa que orienta seu futuro. Os desafios permanecem imensos. O agronegócio continua sua expansão predatória, a violência contra lideranças não cessou e a luta contra a invisibilidade permanece. Mas a lição dos Akroá-Gamella é clara: eles já sobreviveram ao fogo das armas e ao frio do esquecimento. Agora, com a força de quem carrega no corpo a memória da terra – como um umbigo enterrado -, seguem escrevendo seu próprio destino.

Para a Cacica Dan o seu principal papel na luta pela terra é:

Olha é assim, eu como mulher indígena, a minha conquista e a minha paixão maior que eu tenho, é a terra, é a agricultura familiar. O meu papel é gostar de ir pra agricultura familiar, é ver todo mundo de barriga cheia as pessoas, que a terra é que dá nossas comidas nós plantar para produzir naquela terra, se nós não tem a terra, nós não temos vida boa, nós temos vida ruim. (Sousa, 2021)

O que move Dan vai além da reivindicação jurídica – é a certeza íntima de que a terra é a base de tudo: da alimentação, da cultura, da autonomia e da dignidade de seu povo. Enquanto o agronegócio vê o solo como mero suporte para commodities, ela enxerga um organismo vivo que precisa ser cuidado e honrado. Sua luta diária com a enxada nas mãos é tão importante quanto os embates jurídicos – ambas são faces da mesma moeda: a sobrevivência física e cultural dos Akroá-Gamella.

Neste século de catástrofes ambientais, a sabedoria de Dan ecoa como profecia: sem terra, não há vida boa. Sua batalha transcende o Piauí – é farol para todos os povos que entendem que demarcar terras é demarcar futuros. Enquanto ela plantar, os Akroá-Gamella seguirão existindo – e ensinando ao Brasil que justiça territorial começa quando se reconhece: a terra não nos pertence, nós é que pertencemos a ela.

Cacica Dan Akroá-Gamella.

Fonte: Fotografia por Síria Borges, 2024 e Colagem digital por Rebeca Freitas Lopes, 2025.

REFERÊNCIAS

ALEGRE, Maria Sylvia Porto. Cultura e História: sobre o desaparecimento dos povos indígenas. Rev. de C. Sociais, Fortaleza, V. XXIII/XXIV, N”” (1/2): 213-225, 1992/1993.

ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Os índios na história do Brasil. Editora FGV, 2010.

ARRUTI, José Maurício Andion. Morte e vida do Nordeste indígena: a emergência étnica como fenômeno histórico regional. Revista Estudos Históricos, v. 8, n. 15, p. 57-94, 1995.

CASTELLO BRANCO, Moysés.O índio no povoamento do Piauí. In: DIAS, Claudete Maria Miranda; SANTOS, Patrícia de Sousa. (Orgs.). História dos Índios do Piauí. 2.ed.Teresina: EDUFPI, 2016.

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[1] Relatório da SUDENE do ano de 1973 autorizando a implantação da Empresa Agropastoril Parnaíba em Uruçuí-PI.


[1] É relevante destacar, ainda, a significativa contribuição do Grupo de Trabalho “Os indígenas na História”, vinculado à Anpuh Seção Piauí, ao longo dos últimos cinco anos. Sua atuação representa uma transformação paradigmática nas abordagens historiográficas acerca dos povos indígenas no Piauí, promovendo novas perspectivas teóricas e metodológicas.  Além disso, cumpre ressaltar o caráter plural e interdisciplinar do grupo, composto por pesquisadores indígenas e não indígenas, cujo trabalho está intrinsecamente comprometido com uma produção historiográfica com e para os povos originários. Essa colaboração não apenas amplia os horizontes epistemológicos, como também fortalece o diálogo entre diferentes áreas do conhecimento, consolidando uma escrita histórica mais inclusiva e crítica.  Assim, o referido grupo consolida-se como um espaço acadêmico fundamental para a reavaliação e ressignificação da história indígena no estado, articulando saberes diversos em prol de uma narrativa historiográfica comprometida. Para conhecer mais sobre, acesse as redes sociais do Grupo de Trabalho: @gt.indigenaspiaui.


[1]  A “Nota de repúdio ao Jornal da Noite e Jornal da Tropical” está disponível em:  https://www.instagram.com/p/CP9FaNBlE79/ . Acessada em: 07 de Out. de 2022.


[1] O trecho em questão se refere ao início do hino: “ Uruçuí tem arroz e tem gado, tem céu estrelado, riqueza sem fim” (Autoria desconhecida).

Rebeca é graduada em História pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI- Campus Floriano) e Pós-graduanda no Programa de Pós-graduação Interdisciplinar nível Mestrado em Sociedade e Cultura pela Universidade Estadual do Piauí. Atuou como Professora Formadora do Programa Ação Saberes Indígenas na Escola realizado pelo Instituto Federal do Piauí e financiado pelo Ministério da Educação. Integrante do Grupo de Trabalho “Os indígenas na história” vinculado à Associação Nacional de História- ANPUH-Seção Piauí, faz parte do projeto de pesquisa “MOVIMENTO INDÍGENA NO PIAUÍ: desafios e avanços na luta pelo território, saúde e educação” da Universidade Estadual do Piauí. Foi pesquisadora do Projeto PARI-C/”Respostas Indígenas à Pandemia de Covid-19: Arranjos Sociais e Saúde Global”, financiada pelo UKRI MRC/Global Effort on Covid-19 (Pesquisa e Inovação no Reino Unido – Conselho Médico em Pesquisa/Esforço Global em relação à Covid-19), em parceria com a City University London.

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