A SEPARAÇÃO DOS BEATLES, DROGAS, SATANISMO E COMUNISMO (ou mantenha sua ignorância 50 graus de separação da minha vida)

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por Henrique Douglas

Músico e jornalista

O anúncio do fim dos Beatles 50 anos atrás – “Paul Quits The Beatles” – foi manchete no Daily Mirror e deixou devastados seus inúmeros fãs. Intimamente já sabiam disso, pois era intenso o desgaste, mas guardavam segredo para não influenciar nas vendas de discos que iriam ser lançados.

A morte do empresário Brian Epstein, a antipatia pela nova companheira de John, desavenças financeiras, repressão criativa e um ambiente de mágoas contribuíram para esse final.

Fazendo relação com os Beatles nessa data, rememoro outro fato lamentável, e muito acima disso, bem bizarro pra dizer o mínimo.

“O rock ativa as drogas que ativa o sexo que ativa a indústria do aborto e por sua vez estimula o satanismo… John Lennon disse abertamente que fez um pacto com o diabo pra fazer sucesso”. Lembra?

E ainda, segundo o mesmo sábio, “certos indícios” (hahahahahaha) indicavam que “agentes soviéticos infiltrados na CIA distribuíam LSD em larga escala para juventude”. Que vigor de teses!

Quero lembrar do famigerado vídeo onde o ‘maestro’ que foi ex-presidente da Funarte – Fundação Nacional das Artes – Dante Mantovane, deu essas declarações bem deslocadas da realidade terrena e, elas sim, são parecidas com as utilizadas nos cultos sombrios citados por ele.

Ninguém falou muito à época, mas é meu dever também lembrar pros que estão em casa, outra grande influência e referência para construção do pronunciamento débil do maestro intelectual ocultista: o vídeo de uma senhora chamada Débora Barbosa que se apresenta como “MA em Inteligência, Espionagem e Inteligência na Inglaterra” (seja lá o que for isso!).

Jamais imaginei que poderia existir essa formação catedrática, e aí fiquei pensando na rigidez da Scotland Yard com seus agentes e investigações vendendo cursos à distância, apostilas em bancas de revista e diploma pelo ‘Royal Mail’. Assim como James Bond e os demais agentes do Serviço Secreto inglês, certamente a moça tem “permissão para matar”, no caso dela, matar a gente de vergonha. Confira lá.

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Você pode se deliciar com 31 minutos das teorias mais amalucadas, dementes e cômicas, pois o vídeo não foi recolhido por “vergonha alheia”, muito menos por vergonha na própria cara. O título do vídeo (que guarda a maior característica dos sábios, a humildade) chama-se “A verdade sobre os Beatles e sua influência na humanidade”.

Vai fazer muita vergonha num futuro próximo quando e se ela se conectar com a realidade. Boa opção pra se divertir assistindo essa comédia da vida privada ou levar à sério e fazer um estudo de caso psiquiátrico.

Vindo do mesmo poço profundo da desconexão mental, não esquecer o anúncio de que as músicas dos Beatles foram feitas por Theodore Adorno.

Agora sim, podemos ir adiante e chegar à cereja do bolo. E viva os Beatles.

Assisti um documentário de 2011, desconhecido e obscuro, chamado “Programming The Nation” sobre mensagens subliminares e que aborda um estudo através do tempo dos efeitos da propaganda, TV e rádio, política e música no subconsciente das pessoas. Algo que eles chamam de “Sedução Subliminar”.

Senti o mesmo cheiro e sabor de teorias conspiratórias usadas por essa plebe intelectual e ao longo da sessão, me deparei com as fontes que influenciaram a excepcional teoria do escalafobético ex-presidente da Funarte.

Falo de um intrigante livro chamado “COMMUNISM, HYPNOTISM AND THE BEATLES”, escrito por David A. Noebel. Um clássico da intolerância e do obscurantismo. Um apanhado das teorias mais absurdas e cheias de fantasia que um fanático pode reunir em um escrito. É ler pra crer. E tem mais, portanto não fica por aqui.

Disponível no youtube, existe uma palestra do autor sobre o livro que foi proferida em 1964. Vale a pena ouvir e sentir a insensatez do palestrante, típica de quem não dialoga com a história sociocultural do mundo ao seu redor e do nefasto pensamento autoritário.

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E pronto, está demonstrado e confirmado onde se construiu e se constrói o alicerce antintelectual e turvo de pessoas como foi com o ‘maestro das trevas’ e suas conspirações. Discursos idênticos e só separados pelo tempo, mas certamente registrados na mesma maternidade. A semelhança das mensagens, traços linguísticos similares e a teatralidade do discurso que disfarça suas deduções incertas, frágeis e inseguras.

Nunca viu um filme, nunca ouviu uma canção, mas sabe como o filme termina e sugere que sabe dançar.

Vale a curiosidade de conhecer esses delírios!

Teorias conspirativas na sua natureza são covardes em sua ameaçadora invisibilidade, são falsamente deslumbrantes porque geralmente calcificam as mais estúpidas convicções e também por isso são de fácil assimilação, disseminação e deslumbre. Conhecendo suas origens é mais fácil conter seu avanço.

A batalha ideológica é longa e melhor que armas de destruição são as armas de dissuasão. Bom é criar convicções se apoiando em fatos.

Pesquisar, analisar, checar, fazer conexões, reunir fatos e apresentar dados dá mais trabalho do que sair gritando o que se ouve durante a correria do ‘efeito manada’, mas o resultado é sempre mais útil e desejado.

Nesses dias, festeje olhando por absurdo. O livro tem PDF e os vídeos loucos estão no ar. Tome um LSD (ouvir Lucy in The Sky, viu?) e viaje nos delírios dessa espécie de ‘Blue Meanies’ que odeiam música!

50 anos sem Beatles juntos deixa muita gente triste por não ter mais a oportunidade de ver e ouvir algo inédito. Talvez nem produzissem nada mais valoroso, nunca saberemos. Mas a julgar pelo que foi produzido em suas carreiras solos, poderíamos ainda ter mais clássicos. Acima de tudo, o que ficou será eterno. Algumas outras coisas vão pra lata de lixo da história.

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Os rapazes de Liverpool fizeram muito mais pela humanidade em um fim de semana de gravação em Abbey Road do que esses regentes da ignorância tentarão pela vida inteira.

Livro PDF Communism, Hypnotism and The Beatles:

https://www.testimonypress.org/wp-content/uploads/2015/11/Communism-Hypnotism-and-the-Beatles.pdf

Imagens: Internet.

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