2. Notas rápidas sobre política: Pedro Cardoso dialoga contra o fascismo brasileiro

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por Aristides Oliveira

Em 2017 – caminhando por uma livraria na Vila Madalena (SP) – encontrei Pedro Cardoso de longe, conversando com algumas pessoas no lançamento do seu Livro dos Títulos. Foi um evento tímido, sem lotação. Não sabia o que estava acontecendo e preferi não tietar meu ator preferido, mas vê-lo foi uma surpresa agradável.

Prometi ler, mas o tempo passou e não cumpri a promessa.

Um ano depois esbarrei com o ator na sua conta do Instagram.

Segui e fui me aproximando das suas colocações interessantes sobre cultura, política e arte.

Hoje eu não tenho conta nesta rede (a melhor anti-influencer que conheci se chama Shoshana Zuboff), que Pedro chama de “antissocial”, mas aproveito a conta que a revista mantém nas redes para ler e ouvir o que ele tem a dizer.

Pedro Cardoso é (assim como eu) um leitor >>>não-especialista<<< curioso sobre política. Ansioso, empolgado, sente necessidade de compartilhar impressões sobre a conjuntura. Também tenho essa mania de sair falando por aí com amigos e amigas as sensações de habitar no Brasil Inverso (preciso parar com isso e deixar os outr_s em paz).

Falando de Portugal, escreveu e se filmou (selfvideo) ao longo de 2018/2019 com reflexões fundamentais para compreender a situação absurda que o Brasil vive. Fala sobre o assunto até agora, mesmo com as ressalvas em torno do aplicativo.

Destaco Pedro nas minhas notas rápidas por causa do livro Pedro Cardoso eu#mesmo: em busca de um diálogo contra o fascismo brasileiro (Record, 2019).

Quem acompanhou suas postagens no Instagram vai poder relembrar os posicionamentos do ator no conforto do livro impresso, distante da praia virtual cheia de publicidades, onde ninguém está e povoa ao mesmo tempo, onde somos celebridades de nós mesmos e revelamos para os outros as inseguranças, egotrips e espetáculos nas fotos que publicamos.

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O livro eterniza falas que o Instagram torna efêmero. Fazia tempo que não encontrava vida inteligente naquelas bandas e Pedro Cardoso é uma presença que nos faz acreditar que nem tudo é cortina de fumaça ou distração na sociedade em rede. É um respiro saber que, além de dados para o capitalismo de vigilância, somos pessoas capazes de utilizar os mecanismos de controle do comportamento|consumo para agir sobre ele e propor um campo de diálogo democrático.

Pedro Cardoso me ensina neste livro que, apesar do tempo escasso com trabalho, burocracia, doença, amor e responsabilidades diárias, precisamos dedicar parte da rotina que carregamos com política: “e esse tempo ou será subtraído de nossa vida pessoal ou do trabalho. Acho mais justo que seja o trabalho a ceder esse tempo, que será assim um tempo remunerado”.

Fica minha indicação para quem se interessa por compreender a atual política brasileira com lucidez, humildade e coerência, na voz de um homem consciente do seu lugar social e aberto para construir novas possibilidades de escuta.

Pedro Cardoso, que já representou figuras inesquecíveis, desfaz-se dos personagens e senta junto com sua plateia para traçar saídas ao Brasil dos instintos, que usa a razão apenas para justificar suas brutalidades a nós.

O livro é ótimo, na minha opinião.

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