X Transfusão destaca o Brasil multilíngue; Evento é organizado pelo Centro de Estudos de Tradução Literária do museu Casa Guilherme de Almeida

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foto: Ryoji Iwata

Com mais de 20 convidados, o Encontro de Tradutores aborda a diversidade linguística existente em território nacional, sobretudo as línguas indígenas, africanas e Libras

A partir do dia 8 de setembro ocorre a décima edição do Transfusão – Encontro de Tradutores da Casa Guilherme de Almeida, composto de debates, palestras e apresentações centrados no tema da diversidade e dos direitos linguísticos. O objetivo é mostrar e lembrar que o Brasil é um país multilíngue, no qual o português convive com 274 línguas indígenas (segundo o Censo de 2010), “línguas especiais” remanescentes de idiomas africanos e com a Língua Brasileira de Sinais (Libras).

Durante cinco dias, 8 a 12 de setembro, o público poderá assistir e interagir com as atividades e convidados em plataforma online, ao vivo. As inscrições estão abertas neste link (clique aqui). A programação é gratuita e composta por diversos recortes: o trânsito interlingual, a passagem por tradições poéticas extraocidentais (do oral ao escrito), a travessia do poético entre os códigos verbal e gestual, tradução de tradições afrodiaspóricas, abordagens tradutórias dedicadas às questões de gênero, diversidade do ponto de vista de tradutores de textos sagrados judaicos, cristãos e islâmicos, pesquisa sobre a interculturalidade dos processos tradutórios do candomblé, além do cenário literário de outros países multilíngues como a Bélgica e a Suíça.

Com concepção e mediação de Simone Homem de Mello – poeta, escritora, tradutora literária dedicada à poesia moderna e contemporânea de língua alemã, e coordenadora do Centro de Estudos de Tradução Literária da Casa Guilherme de Almeida – o X Transfusão abordará a identidade e a alteridade na perspectiva da tradução literária. Por isso, conta com diversos especialistas, pesquisadores, tradutores e lideranças de povos originários. Para conhecer todos os nomes que participam, acesse a programação completa no site do museu Casa Guilherme de Andrade (aqui).

Alguns deles são Fernanda Machado – artista plástica, atriz e poeta surda; Julie Dorrico – do povo Macuxi, é doutora em Teoria da Literatura na PUC-RS, autora e pesquisadora da literatura indígena; Daniel Valencia Sepúlveda – do México, é educadore, curadore e tradutore independente, além de coordenador de ações como o laboratório A Raça Cósmica, tecnologias da branquitude e arquivos raciais na colonialidade; Michel Sleiman – há 30 anos é professor de Língua e Literatura Árabes na USP, onde coordena um grupo de tradução da poesia árabe e desenvolve estudos em tradução crítica do Alcorão; Ivete Miranda Previtalli – doutora em Antropologia pela PUC-SP e autora do livro Candomblé: agora é angola (2008).

Casa Guilherme de Almeida faz parte da Rede de Museus-Casas Literários de São Paulo, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo e gerida pela Poiesis. É uma instituição que se tornou referência na área da tradução literária com suas ações de difusão, formação, pesquisa e edição que fazem a ponte entre tradutores, editores, pesquisadores, escritores e leitores. Esta edição do Transfusão – Encontro de Tradutores da Casa Guilherme de Almeida: tradução e diversidade conta com o apoio da fundação suíça para a cultura Pro Helvetia América do Sul, do Program Looren América Latina, representação latino-americana da residência de tradutores Looren (Suíça), e da Valônia-Bruxelas Internacional, representação da cultura francófona da Bélgica.

O Centro de Estudos de Tradução Literária da Casa Guilherme de Almeida também oferece atividades formativas e de difusão voltadas para profissionais da área, para estudantes interessados em seguir a profissão e para o público leitor em geral.

A seguir, datas e horários das atividades:

X TRANSFUSÃO – ENCONTRO DE TRADUTORES DA CASA GUILHERME DE ALMEIDA: TRADUÇÃO E DIVERSIDADE

8 a 12 de setembro, quarta-feira a domingo Inscrições abertas neste formulário (link)
Plataforma: online e ao vivo pelo Zoom
Grátis | 350 vagas

Quarta-feira, 8/09

10h / A FRANCOFONIA LITERÁRIA NA BÉLGICA
Com Laurence Boudarde tradução simultânea do francês para o português por Marina GiliiEsta palestra aborda a dinâmica da produção literária multilíngue na Bélgica, com destaque ao cenário francófono. O lugar da literatura de expressão francesa no sistema literário do país, bem como a especificidade dessa literatura em relação à produção literária da França, serão abordados.

15h / VISITA VIRTUAL AO MUSEU CASA GUILHERME DE ALMEIDA
Com Alexandra Rocha e tradução do português para Libras por Lara Gomes Silva.
O acervo e os espaços do museu Casa Guilherme de Almeida, residência do poeta de 1946 até a sua morte, em 1969, se fazem acessíveis numa visita virtual com tradução para Libras, conduzida pelo Núcleo de Ação Educativa do museu.

18h30 / TRANSFUSÃO – X ENCONTRO DE TRADUTORES DA CASA GUILHERME DE ALMEIDA
Com Marcelo Tápia e Simone Homem de Mello
Apresentação sobre o museu e o encontro conduzida pelo diretor da Rede de Museus-Casas Literários de São Paulo e pela coordenadora do Centro de Estudos de Tradução Literária da Casa Guilherme de Almeida.

19h / DIREITOS LINGUÍSTICOS NO BRASIL: CONQUISTAS E DESAFIOS DO SÉCULO XXI
Com Julia Izabelle da Silva
A palestra aborda os direitos linguísticos como parte do Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH). Também discute os avanços mais recentes nessa matéria no Brasil, a exemplo da aprovação, em 2019, da Resolução 287 pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), bem como os principais desafios presentes na implementação dessas normativas, entre eles a criação de políticas públicas na área.

Quinta-feira, 9/09

10h / POESIA SINALIZADA E SUA AÇÃO TRADUTÓRIA
Com Fernanda Machado e Rachel Sutton-SpenceHaverá tradução Libras-português.A mesa-redonda aborda a expressão poética em Libras e a especificidade da poesia sinalizada, destacando o trânsito entre os códigos escrito e gestual e os métodos de transcrição/tradução da produção poética em Libras para o português. Nesse contexto será apresentado o projeto da Antologia de Poesia em Língua Brasileira de Sinais.

15h / O ENTRELÍNGUAS NA POESIA DE AUTORES INDÍGENAS

Com Julie Dorrico, Olivio Jekupé e Yaguarê Yamã
Poetas brasileiros indígenas discutem a ligação da sua produção poética em português com as suas respectivas tradições e línguas ancestrais. Até que ponto a interculturalidade e a tradução também são intrínsecas às suas poéticas é uma das questões a ser debatida nesta conversa.

19h / TRADUÇÃO DE TRADIÇÕES E VOZES INDÍGENAS
Com Daniel Valencia Sepúlveda, Ian Packer e Sara Lelis de Oliveira
Esta conversa permite conhecer o processo de tradução de cantos indígenas das tradições náhuatl e krahô, e, ainda, textos de autores indígenas latino-americanos. Questões como a passagem da oralidade para a escrita, a tradução mediada por uma terceira língua, os gêneros específicos de certas tradições ancestrais, as discrepâncias culturais a serem superadas na tradução norteiam a discussão entre os tradutores convidados, participantes da residência virtual “O que estamos traduzindo?”, promovida pelo Programa Looren América Latina.


Sexta-feira, 10/09

10h / TRADUZIR A BÍBLIA HOJE
Com Marcelo Musa Cavallari e Oswaldo Payon
Quem traduz a Bíblia hoje confronta-se com uma tradição textual, exegética e tradutória milenar, ao longo da qual se constituíram novas religiões e uma reflexão própria sobre a tradução de textos sagrados e literários. Esta mesa-redonda apresenta projetos tradutórios contemporâneos em língua portuguesa e aborda a especificidade da tradução de escritos bíblicos.

15h / TEXTOS SAGRADOS MUÇULMANOS E JUDAICOS EM TRADUÇÃO
Com Michel Sleiman e Moacir Amâncio
Tradutores de textos estruturantes das religiões judaica e islâmica para o português comentam a sua experiência numa mesa-redonda sobre os cânones textuais em línguas semíticas, as peculiaridades de cada religião em lidar com a tradição escrita e os diferentes propósitos e públicos para traduções contemporâneas do Alcorão e do Talmud.

19h / TRADIÇÃO E TRADUÇÕES: FACES DO CANDOMBLÉ CONGO/ANGOLA DE SÃO PAULO
Com Ivete Miranda Previtalli
Olhar para o candomblé de nação congo/angola de São Paulo remete ao embate entre as irreconciliáveis forças da tradição e da tradução resultante do hibridismo e da diversidade. Nas tentativas de ser reconhecida como autêntica, essa nação de candomblé procura reconstruir uma identidade purificada baseada em aquisições de traços culturais bantos africanos e da ‘limpeza” de elementos católicos e de nação queto, adquiridos na diáspora. No entanto, encontramos essa identidade gravitando ao redor da “tradução”, isto é, sujeita ao plano da história, da política, da representação e da diferença, o que a impossibilita de ser unitária e pura, além de dar origem a novas formas de hibridação.

Sábado, 11/09

15h / AYVU PORÃ – AS BELAS PALAVRAS NOS RITUAIS DE BATISMO GUARANI MBYA
Com Anthony Karaí Poty, Darci da Silva Karaí Nhe’ery, Eduardo Fernando Duwe e Roberto Werá
Pesquisadores indígenas Guarani Mbya e ativistas do coletivo Tenonderã Ayvu comentam as práticas de batismo do subgrupo Mbya da etnia Guarani, com base em imagens e sons gravados especialmente para o TRANSFUSÃO no interior das casas de reza das aldeias, no mês de agosto de 2021. Entre os temas abordados estão a mediação entre o ritual e a imagem digital, a tradução dos textos sagrados da língua nativa para o português e a transferência do oral para o escrito do ponto de vista de quem vive entre culturas e línguas diversas.


Domingo, 12/09

10h / DIVERSIDADE NA CENA LITERÁRIA MULTILÍNGUE DA SUÍÇA
Com Gabriela Stöckli e Ruth GantertTradução simultânea do alemão para o português por Claudia DornbuschA Suíça é um país onde quatro idiomas – alemão, francês, italiano e retorromânico – compartilham o cenário cultural. Até que ponto a literatura suíça nessas línguas pode reivindicar uma especificidade nacional ou não é um dos temas a serem discutidos nesta mesa, que também abordará a relação interna entre esses diferentes espaços linguístico-culturais.

14h / QUESTÕES DE RAÇA E GÊNERO NA TRADUÇÃO LITERÁRIA
Com Dennys Silva-Reis, Jess Oliveira e Sheyla Miranda
Tradutores e pesquisadores discutem os desafios colocados à tradução literária por textos que problematizem posições de raça e gênero, recorrendo a abordagens teóricas pós-colonialistas, feministas e enfoques LGBTQIA+. Possíveis consequências dessas posições para as práticas tradutórias também serão debatidas nesta mesa-redonda.

16h / TEÓRICAS DA TRADUÇÃO EM LIVRO
Com Dirce Waltrick do Amarante, Fedra Rodríguez e Sheila Maria dos Santos
Estudiosas da tradução apresentam o livro recém-publicado que organizaram com textos de importantes teóricas mulheres dos Estudos da Tradução, em tradução de profissionais brasileiras. A invisibilidade das pensadoras mulheres, o critério de escolha das dez teóricas representadas na obra, bem como o lugar do pensamento feminista nessa área de conhecimento serão alguns levantamentos da conversa

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