Ricardo Aleixo é artista-pesquisador intermídia, ensaísta e editor. Suas obras mesclam poesia, artes visuais, vídeo, dança, performance, música e design sonoro. Já se apresentou em países como Alemanha, Argentina, Portugal, México, Espanha, França, EUA e Suíça. Desenvolve seus projetos de pesquisa, criação e formação no LIRA / Laboratório Interartes Ricardo Aleixo e no KORA / Kombo Roda Afrotópica, situados no bairro Campo Alegre, periferia de Belo Horizonte.
Os poemas, aqui publicados, são do livro “Extraquadro” lançado no ano de 2021 pela Ed. Impressões de Minas.
E rir à solta e não morrer
Poder morrer
Ainda no ventre
da mulher
que me pariu.
E não ter
morrido lá.
Poder morrer
de algum veneno
que alguém
insuflou num fruto
que eu menino
colheria enquanto
brincava sozinho.
E não morrer.
Poder morrer
Adolescente sob
as patas distraídas
de uma esquina
de domingo.
E rir à solta e
não morrer.
Poder morrer
num dia quente,
tudo já seco
por dentro, e a
cidade e o mundo
alheios. Não morri
num dia assim.
Poder morrer
de tantas formas
e não ter morrido
nunca nenhum
desses tantos anos
que eu vivo
aqui entre
os humanos.
Até perder
Meus 5 sentidos querem
olhar os seus 5 sentidos ouvir os seus
5 sentidos tocar os seus 5
sentidos cheirar os seus 5 sentidos até perder
os sentidos
Misturam-se ao rumor do mar
Misturam-se ao rumor do mar,
mas são e serão sempre o que são:
ecos de tentativas de conversa
em línguas estranhas entre elas,
dentro dos tumbeiros, a caminho
de novos sucessivos desastres.
Como ouvi-las sem tentar inter-
pretá-las, dada a total impossibi-
lidade de ignorar suas cadências,
suas inflexões, o granulado dos
seus timbres, seu quê de coisa e de
água fluindo em meio a água e mais
água e um nunca se acabar de água?
Mesmo qu
ando
só eu só
ando
em b
ando
Muito bom. Lindas poesias.
Uau! Poesia de primeira! Que sorte a minha de tropeçar em tal poeta.