Marleide Lins de Albuquerque nasceu em São Paulo, mas reside em Teresina. É poeta, cronista, editora, pesquisadora, designer gráfico. Publicou vários livros de poemas, dentre eles, “Lirismo antropofágico e outras iscas minimalistas” (2016). Em 2018 organizou, com Algemira Mendes, e publicou a antologia “A mulher na literatura latino-americana”. É Conselheira Municipal de Cultura.
Menino/Ave de Arribação
(em dois partos)
(Aos meninos da África subsaariana, sempre em arribação)
I PARTO
nasce menino/ave
e toca – anjinho negro –
tambor no ventre materno
e rompe a intrafronteira
e cinde a linha umbilical
: reserva rezas e ervas
II PARTIDA
e voa o menino/ave
avermelha-se o arrebol
o galo descortina o dia
o apito ao longe ecoa
afina o seu destino e anuncia o amanhã
: revoadas se vão ao vão
Lirismo Antropofágico
Há um lirismo nos encontros das pessoas e dos rios
E húmos na interrogação invertida (azol/isca)
A navegar rumo aos que pela boca morrem de fetiche.
Há um lirismo e Omega três no olho do peixe
E resquícios de sol num brilho que ainda se arrisca
A iluminar seis bocas famintas dos portuários.
Há um lirismo nos frágeis habitantes de aquários
E nos de Mariana que a lama incorpora e rabisca
A representar a obra dos homens que finda o peixe.
Mas, há uma secura nos espíritos alheios e frios
Mais que a aridez, que assola, sob o sol em faísca
A cega, pois não sabem ver a luz sublime do feixe.
Lindas poesias