Salgado Maranhão, poeta e compositor. Nasceu em Caxias em 1953. Com diversos livros publicados. Foi vencedor do Prêmio Jabuti em 1999 com a antologia “Mural de Ventos”. Em 2012, sua antologia “Sol sanguíneo” foi traduzida para o inglês com o título de “Blood of the sun”.
Léria
Antes fosse a léria
onírica
que te acende
o lábio, antes
o teu húmus – porque
és flor do meu barro
e o sol queimou
teu nome em minha
carne.
De que cidades
te chamarei? Anthióquia?
Stambul? Estarminha?
Saberei te guardar
em meu reino — vicejante
e sutil
como o sono dos peixes.
E quando acordares
entre mim
e as estações,
serei teu bateau ivre
sem retorno.
As horas ocas, financiadas
pela dor,
enterrei-as
na terra
sem memória.
Perdi séculos antes de ti.
Visagem
Ela come damasco
com os esquilos
e ao redor a cidade
esfinge.
Com as palavras
ainda posso apertar
seus ombros
e guardar o silêncio
que oculta sua pérola.
Talvez eu possa
esconder-me
sob essa aragem de ausência
e o sabre
que anuncia as cicatrizes.
Talvez eu possa tomá-la
com as árvores, os rios,
os seixos
e o amanhã.