Duas Marias, livro de Mariana Pio está em pré-venda na editora Patuá

| |

Mariana Pio lança, pela editora Patuá, seu segundo livro de poemas, intitulado Duas Marias. A obra é uma incursão no presente, uma dança com o passado e uma semente. Neste livro se brinca de criar histórias para as lacunas das origens. Também se lança luz e corpo em direção às memórias de menina.

Em Duas Marias livro há criança, mãe, avó e bisavó narrando através de uma voz só os capítulos de uma mesma história. Duas Marias é uma pergunta, uma escavação, um jogo de imaginar e uma oferenda com mesmo destinatário e remetente: as mulheres.

O livro está em pré-venda pelo site da editora.

Mariana Pio nasceu em Belo Horizonte. É mãe, escritora e tatuadora, além de oraculista. Leitora voraz de escritoras, suas maiores referências são Elena Ferrante, Alba de Céspedes e Hilda Hilst. Publica periodicamente em umpio.com.br.

Este é seu segundo livro de poesias.

Conheça cinco poemas que fazem parte do livro:

***

Sobre o chão vermelho de terra, a pequena casa
também em tons de marrom, telhas de barro
janelas azuis de madeira.
O abacateiro na varanda, precipitando o fruto, quebrando
uma e outra telha.
A palavra temporão – Gil na voz de meu pai em noite de
fogueira. Tempo abrindo buraco
espaço para ver o céu, infiltrar a goteira.
No chão, pequenas rachaduras começam a apontar.

Estrias estourando no contato com o solo.
Depois de muito exame, conclui-se que ali se instalou
uma colônia gigante,
minúsculas e infinitas, as formigas se movendo sob o piso
como um mar subterrâneo
sob o comando de uma rainha.
Um império sob a casa, vida interna que se choca com o meio
começa a despontar do interior em direção à morada da avó.


***

Maria carrega um mapa hidrográfico
nas costas da mão
(os volumes dos rios de uma mulher nunca se pode saber,
nem o que corre neles).
Só o que se pode saber é que uma mulher faminta,

quando saciada,
limpa os farelos da boca
com os rios de sangue
que leva nas mãos.


***

Toco sua mão sem me dar conta
viro-a
observo a palma.
Os caminhos rachados, secos
como as estradas de terra batida do interior de Minas.
Sei que foram jovens um dia, mas a gente não observa a
juventude, apenas supõe
ver na avó a moça.
Como as Erínias, a quem até mesmo os deuses devem
obediência, costuram à mão os destinos.
Não sei ler o futuro, mas posso ver
o tempo na planta das mãos de uma mulher.


***

O tempo de dentro é outro.
Pêndulos não funcionam no mar.


***

Darwin diz que a forma vem antes. E não a função.
Umbigo, dedos dos pés, orelhas
surgiram meio como massinha, nas tentativas

não lineares da evolução.
Mudaram de forma várias vezes para só então se
tornarem meio para algo.
Os cetáceos um dia tiveram o nariz pra fora d ́água,
como os jacarés. Respiração de quem precisa observar
muito e se deslocar pouco, mas
com o tempo resolveram atravessar oceanos.
Mamíferos gigantes, pré-históricos, cruzando o sem-
-fronteira.
Li em algum lugar que o amor é um jeito bonito de falar
da necessidade de reprodução do ser humano.
Penso que esse talvez seja o tesão, mas não o amor,
que é mais como um olho.
Coisa que surge sem finalidade.


Compre o livro de Mariana aqui:

https://www.editorapatua.com.br/duas-marias-poemas-de-mariana-pio/p

Deixe um comentário

error

Gostando da leitura? :) Compartilhe!