Nós somos, como diz Elys Regina Zils em um de seus poemas, imortais na noite, essa noite que elegemos como mesa sagrada onde desossamos a própria existência. E o fazemos de modo ritual, recriando a própria natureza da criação a cada página de seu livro profano. Somos o capítulo inacabado das transmutações e o vozerio de mil personagens que desafiam a ilusão do livre arbítrio. A presença anárquica desses demônios que retalham o tempo e nos desabrigam à luz do dia. Somos o que criamos, esses poemas que avultam a própria existência, como se fôssemos seus sósias premeditados.
A poesia dará sempre por incontáveis as vezes em que se perde no esteio de nossa respiração, ao buscar em provérbios e estrofes videntes que compartilham céu e terra as charadas ruborizadas diante dos símbolos e suas identidades mais simples. Um homem cria uma situação misteriosa, ao tentar voltar pelo caminho que imagina ter sido o de sua origem. Ali é frequentemente dado como ausente. A expressão poética é um paradoxo lendário. O que vislumbramos jamais assume a forma pensada. O poema é um pássaro que desconhece a raiz de seu voo até que uma boca lhe diga que tem a seu dispor mil véus estelares. Assim como no próprio homem, em cada poema sempre falta algo. Nisto consiste a trama da criação, em sugerir os fios que podem mover o sol e suas imagens tecidas sucessivamente.
Cada um de nós presente neste encontro – Demetrios, Elys, Floriano, Gladys, Márcio – somos as vozes enfáticas da criação mais antiga. Embaralhamos a ordem secreta das palavras de modo que a forma esteja além da forma, que o caos esteja além do caos, que todos os erros e acertos não seja senão a dança das sombras que nos vigiam e o tesouro desejável de todos os desafios. Assim esperamos que sejam lidos os poemas que ouvimos cantar dentro de nós. Os poemas que vieram dar neste livro.
Link para baixar o livro: https://lp5.cl/2024/02/coleccion-libros-de-la-red-las-cinco-puntas-del-abismo/