pós poemas – plural emblema – supostamente fecharia (não sou eu quem diz) uma tetralogia, com despoesia (1994), não (2003) e outro (2015). não creio em fecho, mas em fechadura: buraco negro mallarmaico para o salto-falésia gideano. creio em quatro dimensões, relativas a inaugurar esferas da experiência. logos de gazua.
este livro compila trabalhos realizados de 2005 a 2024 e radicaliza a depuração rigorosa da condensação que demarca a poética de augusto de campos. o recurso da concisão é correlato ao transladar e decupar por estranhamento a palavra ou frase de senso comum, em intervenção meticulosa que gira sentidos insuspeitos a partir do elementar espanto do alumbramento.
poemas em estado de código, entre-outras-artes.
a palavra articulada como signo coagulado e complexo de implicações (fonte de letra; disposição na página). a con/figuração da economia minimal de meios maximiza a significação. o engenho de procedimentos opera pela dialéxica que encapsula antinomias permutacionais.
elaborados com perícia sensível e preciosa técnica,
os poemas são perpassados por fina angústia existencial.
o imponderável é tratado com precisão e augúrio
de ur-dor, ironia du…champs. poesia sem troco, e em miúdos. a exasperação da paixão humana e o desespero irreconciliável em forma concentrada e arrebatadora.
sob a musa da recusa, o livro vale por um manifesto – vela a arte poética, profissão de fé no difícil ofício (afazer de amador), a instaurar a missão não-messiânica de afasia na poesia, remissão ao repertório de rizomático paideuma. tradução é abdução. (a)ventura no (p)rumo do desconhecido. o testemunho do poeta agitprop que arguiu à hölderlin; a cronomicrometragem da vitalidade-cummings.
encerrar não é só concluir, mas recolher e compreender. pós poemas tem a audácia de quem desbrava, com a devida visão do vazio e da vida que vaza; deriva. poesia em condição de gueto, em situação de guerrilha. cinzas em crise, cinzel, crisol. após os pós, restam poemas. e que poemas.
Texto de orelha escrito por Carlos Adriano
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Sobre o autor
Augusto de Campos é poeta, ensaísta e tradutor. Com Haroldo de Campos e Décio Pignatari, lançou em 1952 o livro-revista Noigandres, origem do grupo literário que iniciou o movimento internacional da Poesia Concreta. Em 1953 produziu a série de poemas em cores, Poetamenos, primeira manifestação da poesia concreta brasileira. Em 1956 participou da organização da 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta, no Museu de Arte Moderna, em São Paulo, que reuniu pintores, escultores e poetas.
Tradutor de poetas modernos, como Pound, Cummings, Maiakóvski, Joyce, Gertrude Stein, dedicou-se ainda à recriação de textos dos grandes inventores do passado, dos trovadores provençais, como Arnaut Daniel, e dos clássicos, como Dante Alighieri e Guido Cavalcanti, aos “poetas metafísicos”, Donne e outros, e aos grandes simbolistas como Mallarmé, Rimbaud e Corbière, destacando–se nessa área as suas coletâneas de ensaios e traduções criativas publicadas por esta editora, Verso Reverso Controverso; Rimbaud Livre; Hopkins: A Beleza Difícil; August Stramm: Poemas-Estalactites e Coisas e Anjos de Rilke.
Como ensaísta, é coautor de Teoria da Poesia Concreta, com Haroldo e Décio, e autor de outros títulos abordando a poesia de vanguarda e de invenção, como Poesia Antipoesia Antropofagia, O Anticrítico, Linguaviagem e À Margem da Margem.
A partir de 1980, intensificou seus experimentos com as novas mídias, apresentando seus poemas em luminosos, videotextos, neon, hologramas e laser, animações computadorizadas e eventos multimídia. Sua cooperação com Cid Campos, iniciada em 1987, ficou registrada no CD Poesia é Risco (1995), reeditado em 2011, e se desenvolveu no espetáculo de mesmo nome — uma performance “verbivocovisual” de poesia/música/imagem, apresentada em diversas cidades do Brasil e do exterior.
Ficha Técnica
Título: Pós Poemas
Autor: Augusto de Campos
Acabamento: brochura
Tamanho: 23 x 23 cm
Número de páginas: 120 páginas
ISBN: 978-65-5505-225-1
Preço: R$ 124,90
Data de Livraria: 14/02/2025
Editora: Perspectiva