Poemas com tradução de Luciano Dutra
CARL JÓHAN JENSEN | ILHAS FEROÉS Nasceu a 2 de dezembro de 1957 e se criou em Tórshavn, capital das ilhas Feroés. É casado e tem dois filhos com Kate Anderson, desde 2012 embaixadora das ilhas Feroés junto à União Europeia em Bruxelas. Há mais de um quarto de século, ele é uma das personalidades mais atuantes da cultura feroesa como poeta, jornalista, ficcionista, articulista e crítico literário. Recebeu o prêmio feroês de literatura (Mentanarvirðisløn M.A. Jacobsen) em seu país em três ocasiões (1989, 2006 e 2015). Foi indicado cinco vezes ao prêmio de literatura do Conselho Nórdico, três das quais pelos livros de poemas: Hvørkiskyn (Neutro) em 1991, Tímar og rek (“Tempos e marés”) em 1998 e September í bjørkum sum kanska eru bláar (“Setembro nas bétulas que quiçá são azuis”) em 2008. Em outubro de 2011, seu romance Ó- søgur om djevulskap (“Non- estórias de demonharia”), de 2005, foi uma das 10 obras selecionadas para representar as Feroés na primeira participação do país na maior feira do livro do mundo, a Buchmesse em Frankfurt, como convidada especial da vizinha Islândia, país-tema da feira do livro de Frankfurt naquele ano. Obras de Carl Jóhan já foram traduzidas e publicadas em livros, coletâneas e revistas na Dinamarca, na Noruega, na Suécia, na Islândia, nos Países Baixos, na Alemanha e nos EUA.
Visio Sancti Pauli apostoli
(leygarkvøldið. Tíðliga)
tað er ikki tað
At sólarlagið breyt seg
Í gjøgnum ein kúging
Ið sløddist
Á lónni
tað er ikki tað
At alt skifti lit
Og knastarnir á skelini
Snerktu út í
Kvøldið
tað er ikki tað
At heysurin lá
Opin í Neðra
So tað sást inn í Brimið
Gjøgnum Holið
Í Erva
tað er ikki tað
At húðin var avflett
Sjálvt um tú flenti
tað er ikki Tøgnin
ið græt
Innnan
Úr
Svartari
Kringlu
men tað er
At eg
Sigi
At tað er
visio sancti pauli apostolo
(noite de sábado. Cedo)
não é porque
O pôr do sol se transforma
Por obra da opressão
Que se derrama
Pela pradaria
não é porque
Tudo muda de cor
E as asperezas das conchas
Se contraem na
Noite
não é porque
a cabeça jaz
escancarada lá embaixo
permitindo ver as chamas
Através do Buraco
Pela Fresta No Velório
não é porque
a pele foi arrancada
mesmo diante do teu riso
não é pelo Silêncio
que eu choro
De
Dentro
Dum círculo
Negro
mas sim
Por que
Digo
Ser assim
Avboðanardagur Mariu
tá ið tað skýmir í orðunum tendraðu stjørnurnar.
brobberst eitt hím av sundurleysum kulsi
ið heldur saman hendur. andstødd við
blaðið, sum varraskerst í vatnið.
ovboðið og ævigt.
tá ið orðini skýmdu og skíggin fær lit
farlegst eitt rekfang á alt ið er eftir
og stigvaldast um at moldin av nýggjum
fær skap av einum fugli sum hongur í ongum
tá ið gentan fer frá og letur forritið aftur.
(Úr Tímar og rek, 1997)
O Dia da Negação de Maria
quando as palavras escurecem, acende as estrelas.
tomilha-se uma película de frio difuso
que mantém as mãos unidas. ao contrário da
página que penhasca na água.
impossível e eterno.
quando as palavras escurecem e a tela ganha cor
deixa o rastro do estigma de tudo que restou
fazendo aos poucos que a terra novamente
assuma a forma duma ave dependurada no nada
quando a guria vai embora e deixa um programa.
(de Tempos e marés, 1997)
LUCIANO DUTRA | RS-ISLÂNDIA. Nascido aos 6 de novembro de 1973 em Viamão (Rio Grande do Sul) e naturalizado islandês, é bacharel em língua e literatura islandesa (2007) e mestrando em estudos de tradução pela Universidade da Islândia, tradutor juramentado islandês-português desde 2009 e pesquisador sobre a imigração islandesa no Brasil. Além de literatura islandesa e nórdica contemporânea, traduz as sagas, obras únicas de prosa de cção compiladas na Idade Média por autores anônimos da Islândia. Em 2014, fundou em Reykjavík a Sagarana editora forlag, microeditora mul língue especializada na publicação de literatura traduzida entre as línguas nórdicas e o português.