Poemas traduzidos por Paulo Franchetti
PAULO FRANCHETTI | SC . Entre outros livros, publicou os ensaios Alguns aspectos da teoria da poesia concreta (1989 – 4ª Ed. 2012), Estudos de literatura brasileira e portuguesa (2007) e organizou o volume Haikai – antologia e história (1990 – 4ª ed. 2012). É também autor da novela O sangue dos dias transparentes (2003), da coletânea de haicais Oeste/Nishi (2008), do livro de sátiras Escarnho (2009) e dos livros de poemas Memória futura (2010) e Deste lugar (2012). Alguns de seus textos em paulofranchetti.blogspot.com.br
Ilustração de Gil Duarte
Meu caro Thiago,
Em algum momento, muitos anos depois da primeira publicação do livro Haikai – antologia e história, pensei em traduzir mais alguns haikais, em parceira com a Profa. Elza Doi.
Acho que era para preparar a quarta edição, que terminou por sair, no que toca aos poemas e notas, idêntica às demais.
Fiz o que já tinha feito antes: munido dos meus parcos conhecimentos do japonês, de um bom dicionário e dos maravilhosos livros de R. H. Blyth, repassei os haikais de que mais tinha gostado e selecionei uns tantos. 68, para ser exato.
Pensava, com a ajuda da Elza, poder escolher uns 50, para aumentar assim em 50% o número de haikais no nosso livro.
O trabalho envolvia duas etapas: eu fazia uma tradução mais ou menos livre, temperando a interpretação do Blyth com o que eu podia perceber do texto original; e a Elza, trabalhando sobre o original japonês, faria uma tradução bem literal, centrada na semântica do texto, sem se preocupar com a sintaxe, quase palavra-por-palavra. Cada um de nós fez a sua parte. Mas não prosseguimos. Por algum motivo.
Interrompemos o projeto, o livro foi publicado e eu fiquei com duas listagens, que afinal foram trabalhadas parcamente em conjunto.
Isso ficou esquecido em alguma pasta aqui em casa, até que recebi o seu pedido. Busquei então o material e recuperei as traduções duplas.
Os textos que lhe envio são as minhas traduções, aqui e ali alteradas por conta do belo e erudito trabalho da Elza.
Espero que lhe agradem e que sirvam para a revista. Um abraço. Paulo.
1.
Noite de lua –
Subindo numa pedra,
Um grilo canta.
[tsuki no yo ya ishi ni dete naku kirigirisu]
Chiyo-jo
2.
Mal anoiteceu –
E as estrelas já brilham
Sobre o campo seco.
[kure madaki hoshi no kagayaku kareno kana]
Buson
3.
Ainda mais só
Do que no ano passado –
Entardecer de outono.
[kyonen yori mata sabishii zo aki no kure]
Buson
4.
Juncos secos –
Dia após dia se quebram
E vão rio abaixo.
[kare-ashi no hi ni hi ni orete nagare keri]
Rankō
5.
Nuvens de mosquitos –
Sem isso, no entanto,
Mais solitário.
[ka bashira ya kore mo nakereba ko-sabishiki]
Issa
6.
Ainda cantando
Os insetos são levados
Sobre o tronco que flutua.
[naki-nagara mushi no nagaruru ukigi kana]
Issa
7.
Com uma lanterna,
Alguém anda no jardim, lamentando
O fim da primavera.
[teshoku shite niwa fumu hito ya haru oshimu]
Buson
8.
Quando a lesma
Ergue a cabeça, eu vejo:
Parece comigo!
[dedemushi no kashira motageshi ni mo nitari]
Shiki
9.
Estivesse meu pai aqui,
Contemplaríamos a aurora
Sobre os campos verdes.
[chichi arite akebono mitashi aotabara]
Issa