Jamila Martins: duas décadas aquecendo as pistas

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por Aristides Oliveira

Jamila Martins é DJ e produtora cultural, com uma carreira 360, que abrange quase duas décadas. Além de artista é empreendedora cultural, ganhando destaque na cena nacional fomentando a música eletrônica desde os anos 2006 através de produção de eventos.

 Além de dominar as pick-ups, Jamila também atua como stage manager e mestra de discotecagem.

Como fundadora e proprietária da @beatlifeoficial – Curso de Formação de DJs e da @beatplaybr, agência de DJs.

Jamila deixou sua marca nas capitais paulista e santa catarinense, conquistando públicos em São Paulo, Florianópolis e em diversas cidades, incluindo Campinas, Jundiaí e Bragança Paulista, bem como no sul de Minas Gerais.

Um dos pontos altos de sua carreira foi quando ela se tornou a única mulher sul mineira a se apresentar no Club Stage do extinto Soulvision Festival, o maior festival de música eletrônica do carnaval do país que acontecia em Altinópolis.

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Quais foram os primeiros passos que fizeram despertar seu interesse pela música eletrônica?

Desde a infância, a figura do DJ sempre me fascinou. Na quarta série, eu já me imaginava como um DJ, desenhava muito isso, possuindo até mesmo uma “danceteria” (termo que era usado na época) imaginária, nos desenhos.

As fitas k7 sempre foram objeto de afeto para mim, e ao longo da adolescência, minha paixão se desenvolveu em uma verdadeira coleção de CDs. Eu trabalhava para adquirir os lançamentos musicais, além de revistas, e pra poder me aventurar nas noites agitadas das baladas. Eu me posicionava sempre à frente dos DJs, na frente das caixas de som, buscando interagir e, em muitas ocasiões, fui presenteada com CDs exclusivos desses artistas.

Entretanto, o que era inicialmente uma curiosidade inocente se transformou em uma paixão. Eu selecionava, baixava e gravava cds para amigos e amigas, até que um dia, uma colega me diz “Por que você não faz um curso de DJ? Você tem talento!”

Levando essas palavras a sério, decidi buscar meu sonho em uma jornada rumo à metrópole dos sonhos, São Paulo. Lá, mergulhei de cabeça no universo da música eletrônica, usei toda a minha parte financeira da indenização do falecimento do meu pai pra cursar e adquirir os equipamentos, na época CDJ 200.

Foi possível construir uma carreira na sua cidade ou foi necessário se deslocar para outro centro de produção cultural para ter visibilidade na cena musical? Como você gerenciou esse processo de formação profissional?

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Como frequentadora assídua das baladas e privates da região, consegui me inserir no ainda incipiente mercado local. Ao longo do tempo, conquistei reconhecimento, notoriedade e respeito, embora minha principal fonte de renda sempre tenha sido outra, por treze anos dessa jornada. Naquela época, o acesso ao conhecimento não era tão amplo como hoje, e muitas das minhas decisões foram baseadas em intuição e feeling, o que me levou a cometer erros, mas também acertos significativos.

Além disso, assumi o desafio de criar e produzir dezenas de eventos, contribuindo para o enriquecimento do cenário cultural da região. Essa jornada não foi fácil, uma vez que enfrentei um mercado cultural marcado pelo machismo e pessoas de má índole. Suportei prejuízos consideráveis, aprendendo com meus erros e tendo que me provar diversas vezes. Por causa dessas adversidades, optei por temporariamente deixar de lado a produção de eventos autorais e me dediquei exclusivamente a trabalhar assessorando projetos para terceiros.

Que desafios foram enfrentados para fundar e manter a Beatplay Bookings? Que aprendizados você tem adquirido em formular um projeto para descobrir novos talentos na música eletrônica?

Acredito com toda convicção que a fundação da Beatlife foi um marco importante, onde quase nenhum outro havia ousado. E porque antes de responder menciono a Beatlife?  Sempre enxerguei a inovação como um estímulo poderoso, e desde o início da nossa jornada em 2017, a Beatlife tornou-se a ponte de indicação de artistas. Nossa escola oferece uma ampla gama de cursos profissionalizantes para DJs, consolidando-se nestes 6 anos de jornada.

Fundar a Beatplay não foi difícil, toda ideia no começo é um estímulo e faz a gente brilhar os olhos, apesar das duas pessoas  que fundaram a Beatplay comigo terem saído devido ao desgaste emocional e financeiro, minha crença inabalável na estrutura e credibilidade que construímos mantém-me firme e determinada.

Embora saiba que o caminho a percorrer é árduo, estou convicta de que, em poucos anos, seremos reconhecidos como referência no mercado de backoffice artístico. O trabalho árduo e o comprometimento com a excelência são os pilares que sustentam meu entusiasmo pela Beatplay, e estou confiante de que o retorno será notável a longo prazo. 

Arquivo pessoal

O que significa ser a primeira mulher a se apresentar no Club Stage do antigo Soulvision Festival, num contexto em que fomos equivocadamente “educados” a naturalizar a profissão DJ como masculina?

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Chegar no Soulvision Festival foi o sonho de qualquer DJ que colocou o pé dentro do festival, eu frequentei por sete anos seguidos, e o convite pra tocar significou uma virada de chave em minha vida. Foi a partir dessa oportunidade que tive a coragem de ir atrás do meu sonho de viver de música e estimular mais pessoas de que é possível, larguei o CLT, a “estabilidade” e cá estou falando desse marco.

Se o festival voltar a ser produzido tenho certeza de que a nova geração de produtores e djs vão poder entender isso, e quem já participou dos carnavais do Soulvision conseguem ter dimensão do que é subir no palco do festival.

Que métodos você utiliza para organizar seu setlist? O que uma DJ não pode esquecer na hora de produzir uma festa que leve energia e vibração ao público?

Eu avalio muito o público que consome aquela noite/club/festival. A partir disso já consigo garimpar e separar tudo o que tenho que se identifique com aquele público, geralmente preparo uma intro, e a partir dali eu sigo como a pista permitir. Tenho gostado muito de fazer long sets de três horas pra mais, a liberdade musical e os passeios tem sido algo que tem marcado as minhas apresentações.

São muitos detalhes que não podem ser esquecidos, mas a curadoria é primordial. A curadoria de forma geral, desde a escolha como a montagem do line up. Tem muito produtor de evento que ainda não percebeu, que um time line mal feito te faz vender menos no bar, perder público ou deixar de conquistar novas pessoas.

Nas suas idas à festivais de música pelo Brasil, poderia destacar a que marcou sua experiência como produtora ou DJ?

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Eu dediquei anos dos meus salários como gerente administrativa de uma empresa a ida a festivais, as pistas foram meu investimento de tempo e dinheiro por mais de dez anos, e eu não me arrependo por nem um centavo gasto.

Mas as que mais marcaram foram:

Edições do Soulvision Festival de 2015 e 2017.

Uma edição da Moving no D-Edge em Julho de 2017.

Sivanéris Festival de 2014.

Como você avalia a forte presença das mulheres no ambiente que você trabalha? Como essa conquista pode ser entendida historicamente no Brasil?

Ainda não vejo como “forte”, pois identifico várias brechas no mercado da música, como DJs e produtoras musicais, gestoras de carreiras e áreas da música eletrônica em geral. Nessas áreas, encontro dificuldades em localizar mulheres, principalmente porque reconheço que para nós é mais desafiador, desgastante e complicado construir uma carreira sólida.

No entanto, desde o início da pandemia, tenho participado ativamente de comunidades de artistas do sexo feminino, tais como UH Manas, Etnias e Cultura Cosmo. Também tenho abraçado a oportunidade de encorajar todas as mulheres que se envolvem na comunidade Beatlife, com o intuito de explorarmos juntas novos horizontes, enfrentar nossos medos e alcançar nossos sonhos. Estou comprometida em fortalecer essa rede de apoio e empoderamento, pavimentando o caminho para um cenário mais inclusivo e diversificado.

Arquivo pessoal

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