por Aristides Oliveira
Eva,
Não sei por onde começar, mas o seu olhar é um guia para descobrir como me organizar nesse nevoeiro. Com seus olhos cortantes eu encontro fragmentos, rastros para decifrar meu próprio enigma. Não é possível que um dia as coisas voltem ao seu devido lugar.
Evinha, por onde andei que não percebi isso antes? Menti e roubei. Agora não há tempo para pedir desculpas. As feridas estão abertas e não há flores para cicatrizar o corte.
O cenário era perfeito. Eu tinha tudo para ser feliz, tinha um sorriso cor de meio dia, nem imaginava que poderia morrer de amor. Tropecei e arranquei as raízes.
Naquele tempo o tempo não corria, que era azul claro quase todo o dia. Estava tudo muito arrumado, mesmo com as tempestades possíveis de se proteger.
E tendo tudo para ser feliz, sair de casa pela vida afora, trouxe comigo o último arco-iris que eu fiz. Mas veio a chuva desbotando tudo pelo meu rosto. Era um projeto bonito, sonoro e cheio de aventuras pela frente, mas quantos furos e atropelos pelo caminho?
A chuva veio e arrastou tudo… Levou nossos sonhos mais tolos e alegres. Confesso que o temporal é parte da minha erosão, das rachaduras que não cuidei, do ar poluído que respirei. Não era bem isso que tinha pra você, Evinha.
Olha, pra que tanta tristeza? Se eu já disse adeus,
problemas são meus
Você me faz sofrer, eu não reclamo,
por isso não consigo lhe entender
Tudo para mim virou saudade, ninguém vai saber,
Não dou a entender
Mas vejo nos seus olhos a tristeza de quem anda
cansado de sofrer
Pense duas vezes pra não se enganar, é bom lembrar
que pode haver alguém depois
Não precisa nem falar e eu sei porque
Seus olhos falam por você
Tudo para mim virou saudade, ninguém vai saber…
Para mim também. Vou dizer ao mundo inteiro o quanto te amei.
Foi um sonho lindo que se foi. Uma presença física tão potente nunca antes vista na história.
Cada encontro foi uma esperança que guardei, mas agora escapou das mãos.
Perdi.
Foram tantos escombros que calei por medo de sofrer.
Me dizendo pra esquecer. Foi pensando só em mim. Que eu pensei só em você.
Evinha é hora de ir.
Preciso fazer uma longa caminhada para recolher meus pedaços do chão.
A marcha de vinte léguas para lugar nenhum é um exercício para balançar o coração.
Ora cai pra cá. Ora cai pra lá. Continua o coração.
Se caminhar por dentro é bom. Balance o caminhão. Carregue o coração.
