Maria Giulia Chiozzini é psicanalista membra da C l a r e i r a escola de Psicanálise, professora e pesquisadora vinculada ao G.E.Di (Grupo de Estudos do Discurso – IFSP Sertãozinho), além de mestranda no programa de Estudos Literários da UNESP/FCLAr, com pesquisa nas áreas de Psicanálise, Literatura Brasileira Oral e Análise de Discurso. Publicou poemas nas revistas Aboio e Frentes Versos. Publica semanalmente conteúdos de Psicanálise e Literatura em sua página no instagram, @escrituraclinica
Cleópatra pintando os olhos de kohl
Viver é
ser carregada por insetos
formigando o corpo epiléptico
tentar
livrar-se de
incômodo infinitamente inalcançável
cultuar Rá num dia de desespero
tatuar escaravelhos
tornar-se
cleópatra pintando os olhos de
kohl
deitar-se cansada finalmente onde a grama nasce
deixar que as formigas voltem para
a terra que corre dentro de nós
***
XVIII
Se a lua te divide, amor
Eu já não desço
às águas onde padeço
Se a lua de divide é porque estás
duplicado
com a boca aberta a esperar qualquer
virada de maré
Eu sou uma lagosta vermelha
Que brota da fresta da feixa
Lunatismo das profundezas
Una
Cheia
***
Mitomania
Não abro mão do desconhecido que me funda
Faço inventar verigens
***
Vista à meia-noite
Que quer ser um coqueiro na noite?
Quer ser nada, apenas coqueiro
silhueta preta
Icônica
decifrável por seus contornos de aquarela
Majestosa e Memorável
Coqueiro-Mulher
apenas a cena nas luzes urbanas
a brisa suave
das noites
ao pé do mar
Menina-de-manto-de-areia
quisera apenas ser
Copa
grande e escura
acenando a uma desconhecida Janela.