3 Poemas de Alexandre Morais Paulino

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Alexandre Morais Paulino, poeta paulistano trabalha como professor no ensino fundamental na rede pública de Osasco. Participa do cenário da literatura marginal através dos diversos saraus da região paulistana. Conta com a participação em doze antologias literárias de várias editoras e produções independentes. Conta também no forno com outras três antologias nas quais há a participação de seus textos, todas elas a serem lançadas neste 2021. Além disso, teve textos publicados nas revistas literárias EntreVerbo de Canoas/RS, Cabeça Ativa de Santos/SP, DArte de Londrina/PR e Poesia sem Medo de São Paulo/SP. Dirige, produz e apresenta o programa CasArte Marginal na Web Rádio CasIlêOca.
Para um pouco mais: http://paulinoalexandreletraseverbos.blogspot.com

Foto do poeta por Roberto Candido


Flor de Maio

Durante todo ano
Guardo-me em verde esperança
Para o florescer.

Tão viva resquício
Daquela já quase morta.
Chama a Mata Atlântica.

Todas em silêncio,
Cactos, Flor de seda o ímpeto
Multicor em maio


Carne ao molho madeira

Vem ao vento, nos diz,
Lá na Floresta Amazônica,
Derrubam-se árvores,
Caem arvoredos,
A Floresta sangra,
Definha, pede socorro.

A cada filha-mãe verde morta,
A cada filha-mãe verde tombada,
A cada filha-mãe verde derrubada,
A cada filha-mãe verde que se corta.

Vem ao vento, nos diz,
Lá na Floresta Amazônica,
Plantam-se pés de gado.
Sobem os lucros,
Polpudas contas infladas de verdes notas.

A cada mãe-filha verde morta, morremos também.
A cada mãe-filha verde tombada, tombamos também.
A cada mãe-filha verde derrubada, derrubados somos.
A cada mãe-filha verde cortada, cortados somos também.

Vem ao vento, nos diz,
Ao prato nossa fome é saciada,
Somos servidos por generosas porções,
Carne, carne ao molho madeira,
Madeira da nossa mãe morta ao chão.


Há trinta dias

Há trinta dias se levantou
E olhou a sua volta e tocou a solidão.
A solidão dos que a sua volta tão longe estavam.
Olhou a sua volta e tocou a dor,
A dor do corpo, a dor da alma.
Há trinta dias se levantou,
Respirou a sua volta e encheu os pulmões,
Pulmões cansados pelos anos, caminhos e descaminhos.
Há trinta dias se levantou,
A sua volta os ruídos lhe trouxeram a memória,
A lembrança amiga, a bem-vinda.
Lembranças dos filhos, da juventude,
Da vida que dia a dia se esvai para todos,
Para todos e, causa a dor de sentir, penar, fingir, findar…
Há trinta dias se levantou,
Tocou os objetos a sua volta,
Tocou a rotina a sua volta,
Rotina que a todos oprime,
Rotina que a todos prende,
Rotina que nem todos se desprendem.
A dor da alma não mais competiria com a dor do peito.
Há trinta dias se levantou,
Levantou para não mais olhar,
Não mais sentir,
Não mais tocar,
Não mais ouvir,
Não mais ver, ver, ver…
Adeus disse à solidão,
Ao cansaço,
À rotina,
Ao acaso,
À dor dos anos,
Adeus, adeus, adeus…Despediu-se da dor na alma, no corpo, na vida…
Libertou-se da dor dos homens, do finito.
Uniu-se ao infinito.

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