Cleber Baleeiro é natural de Maracani – BA, morou em Recife e no interior do Maranhão e reside atualmente em São Bernardo do Campo – SP; é doutor em Ciências da Religião e professor de Teologia e Filosofia da Universidade Metodista de São Paulo; escreve poesia há mais de 20 anos, publicou poemas em algumas coletâneas e recentemente lançou seu primeiro livro de poesia: A constituição do mundo; agora está se preparando para a publicação de seus próximos livros: O lavrador e seu irmão e O homem em queda livre.
lagartixas na boca
as lagartixas escalam as paredes
da boca muda
aberta
povoam de pegadas pequenas
o céu da boca
único céu de lagartixas
exploram a boca vazia
de palavras
oca
passeiam no espaço
das palavras não ditas
vazio
lagartixas ocupam
lugares vazios
sem nomes ditos
as lagartixas estão na boca
que não diz
muda
vila do esquecimento
era uma vila de mortos
que não se sabiam mortos
era uma vila parada
no tempo que não voltava
eram homens se esquecendo
entre as ruas desoladas
era um grande cemitério
formado de ruas e casas
era uma vila parada
entre o esquecer e a morte
eram mortos de uma vila
de lembranças esquecidas
era uma vila sem tempo
de viver o que viria
era uma vila vazia
do tempo que já passou
eram homens sem crianças
sem correria nas ruas
eram homens sem lembrança
dos velhos que já se foram
era uma vila esquecida
por aqueles que morreram
eram homens esquecidos
no tempo do esquecimento
o natal dos desgraçados
no natal dos desgraçados
Jesus é natimorto
desgraçados dormem
sob as marquises
das lojas de presentes
desgraçados pedem dinheiro
nas portas dos supermercados
e nos caminhos das casas
desgraçados ceiam
cachaça e pedra crack
na noite do menino
no natal dos desgraçados
Jesus é só um nome
textos incríveis 👏💯