Vítor Guima é escritor, compositor e cineasta, exercendo tais funções com o objetivo de enxergar as diferentes formas de arte como algo unificado. Por conta disso, seu disco de estreia, O Estrangeiro, lançado em julho de 2019 nas plataformas digitais, tem na lista de inspirações compositores — como Bob Dylan, Belchior, Joni Mitchell, Patti Smith e Lô Borges — e escritores — como Albert Camus, Fernando Pessoa e Charles Baudelaire. Chamado de grande aposta da nova MPB pelo site Keeping Track e de promessa da MPB pelo Observatório de Música da UOL em 2019, seu álbum de estreia foi eleito um dos melhores discos nacionais do ano pelo Estadão. No primeiro semestre de 2020, lançará seu primeiro livro de poemas, A Morte da Graça no Baile dos Erros, pela Editora Urutau. Entre as suas maiores inspirações na literatura estão Herberto Helder, Ana Cristina Cesar, Roberto Piva, Wislawa Szymborska, Cesário Verde, Allen Ginsberg, Fernando Pessoa e Paul Auster.
Sombras e Fogo
a Sergei Parajanov
no dia em que foram
esquecidos
os signos das frutas e
suntuosas vestes
santificadas em película
nas mais vívidas cores
as sombras de fogo e os
cavalos dos meus antepassados
de ensandecidas maneiras
relembraram a história
das censuras
daqueles registros das jantas com suas tantas galinhas
e infinitos véus
o templo das imagens, das luzes e da realidade
encarcerado
as esculturas e bonecas destruídas
em tão semelhantes uniformes
do que teriam sido tingidas as
fitas
fora de um jogo de xadrez?
qual o limite bestial
das entidades que pretendem aniquilar
o encanto?
a imagem
cicatrizada no fundo dos globos
não permite o
mais abominável dos vetos
nem suas incontáveis lacunas.
Yumi
depois do gole de saquê do almoço
observo a palha
tentando desvelar a
coloração das
ventanias
nesses dias embalados
do tic tac dos hashis,
lembro de ter reparado
na metade dianteira dos tigres,
no batismo dos bonsais que acabei fazendo
em algum lugar de Shibuya
esmagado por seus tamancos e máscaras
consegui encontrar as ritmadas mensagens decodificadas
em
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que tipo de tatame é necessário para que eu descanse?
qual tecido, sombrinha ou véu é preciso para que me possa tocar?
ao percorrer
uma a uma
as armadilhas do pó de seus haicais,
inverto meus eixos ao colher flores de cerejeira
e transformo minhas fogueiras
em pequeninas brasas
para poder pensar o céu
Os Espelhos
ao apagar as luzes
quantos reflexos estão a uma fagulha
da extinção?
é tão difícil parar de reparar
nas sombras dos quartos
formadas pela luz
dos corredores
parar de esperar uma
ventania que leve
o barulho daquela sirene que nunca
parou de tocar
qual poder é maior do que a representação?
partes de nós
precisam morrer para que
o resto viva
(mas talvez não
continuemos
vivendo muito
bem)
nas estimativas
diagramas de olhares
algoritmos de perfumes
hipóteses nas bocas
uma amálgama de prata e de poemas
dois labirintos
que levam à glória