4 Poemas de Allan Jonnes

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Allan Jonnes nasceu em 1990 na cidade de Lagarto-SE. Desde 2013 circula o país com seu trabalho de performance e experimentação de poesia falada. Seu trabalho já foi publicado em diversas revistas brasileiras, como a Modo de Usar & Co, a Acrobata, a Continente, a Cumbuca, e a portuguesa In.Verso. Em 2014 publicou o livreto O problema na cabeça, que compôs as microantologias do projeto Leve1livro (BH), e participou da Antologia Poesia Agora, que apresentou o trabalho de novos poetas do Brasil para o Museu da Língua Portuguesa. Em 2016 venceu o campeonato nacional de poesia falada FLUPP SLAM BNDS, na Cidade de Deus – RJ, onde lançou também o livro-zine intitulado Pequeno Volume. Em Aracaju organiza diversas ações culturais, foi membro fundador dos coletivos Sarau Debaixo (2013-2015) e Slam do Tabuleiro (2017 – 2018). Em 2019 lançou Luz dentro do Caos, disco de poemas realizado com a banda Madame Javali.

Os poemas, aqui publicados, são do livro “Areia para Engrenagens” que acabou de sair pela editora Impressões de Minas.


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sonho com cinco poetas chilenos
nascidos a partir de 1991
estão numa periferia de san bernardo
e emitem alternadamente sinais
com a garganta a ver se conseguem
trincar os ossos de um pássaro vivo
sob a mesa
e dão de explicar:
isto aqui é um sarau
quem primeiro trincar os ossos
deste pássaro é o campeão
mas não adianta a força
que os ossos de um pássaro trincam
sobretudo é pelo alvoroço da carne
quando ressoa nele uma palavra exata


A IMAGEM DE UMA QUEDA

não se pode medir a falta
com as duas pontas de um barbante
esticado e dizer:
olhe, este é o tamanho
do que não sei o nome
as medidas de uma mutilação
podes ver?
(um imenso cordão de lã
rodeando a casa).
não se pode.
valeria mais subir numa colina
dezenas de mil metros topo avante
estar olho no olho do penhasco
largar os fios de lã naquele abismo
e observar sua dança no vazio
só se pode medir a falta
pela imagem de uma queda


O TRIUNFO DO CHÃO

pode-se modificar
o metro de uma perna.
o cabelereiro modifica
o centímetro de um cabelo
a natureza amplia o metro
de um menino
um acidente o diminui
em pelo menos metade
há capacidades para tudo isso
só os metros entre dois endereços
no continente é que são irrevogáveis
dado que no início olharam os lugares
do mundo para dividi-lo
e o fizeram por debaixo
instituíram o triunfo do chão
sobre os animais de pé que se moviam
daí o caráter rasteiro do mapa-múndi
— a imensa figura de um chão
dado que se uma força arrastasse
todo o reino animal do timor-leste
para outro canto
essa força ainda não bastaria
para arrastar o nome timor-leste
para junto dos seus animais
o que está em pé
não interessa, disseram
e começaram com a cartografia
de modo que o volume de uma casa
não tem validade nenhuma
para as instituições
se eu desarmo por exemplo
minhas paredes e levo embora a casa
e aparece no lugar
um homem dos correios
ele deita os meus papéis por cima
do deserto e vai embora


INOVAÇÃO

o homem A estava em casa
e temeu a morte então calçou os pés
com um tênis e correu
nesta ordem:
temor / calçar os pés com um tênis /
correr
do seu horizonte veio o homem B
em direção contrária (também veloz).
o homem A desconfiou — pelo modo
obstinado daquele homem B
na direção contrária —
que a morte estaria ao certo
vindo daquela outra direção
e ele então volveu veloz
(para segui-lo)
um homem C que assistia a tudo
deu àquilo o nome de running-around
e franquiou academias
são já quarenta e oito
autorizadas no brasil
tutelando a novíssima modalidade
correr de lá para cá
e depois de cá para lá
o running-around
um insight.

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