Bruno Gaudêncio (PB). Escritor e historiador. Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Os poemas, aqui publicados, fazem parte do seu recém-lançado livro “Blues e Minotauros” (Editora Leve, 2021).
MUDAR DE CASA É COMO MORRER
Para Lau Siqueira e Alana Agra
Mudar de casa
é como morrer
deixar sozinha
a criança que não nasceu
em camadas as paredes são testemunhas:
o azul com o mapa do tesouro da esquina
o verde com o nome da última namorada
o branco que escondia o jogo do primeiro sexo
as telhas que tomavam formas de nuvens
o quintal em que morava o triste cão fiel
santo agostinho estava certo
é impossível definir o tempo
mas mudar de casa
é como morrer
LÁPIDE
Para Stella Maris Rezende
Morreu dez vezes
nos últimos dias
ao colecionar crianças
deu voz ao passado
um rosto sem ânimo
a prosseguir nas auroras
de tanto ocultar casas
respirou blues e origamis
FORMA
No labirinto
do corpo
corre sangue
sem que eu possa ver
pressinto
seu movimento
em fluxo
contínua
metáfora
do existir
todas
as células
assemelham-se aos corpos
celestes
uma forma retorcida e leve
o embrião
como sabem
é uma futura
estrela
ANTIFAUSTO
Morrer Deus
o Fausto
a alma acesa
entregue à decadência
dos bárbaros
o bálsamo
dos fogos
na carne
dos gregos
abre-se (o cerco
o medo
o sono)
nas feridas
abertas
do abandono
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