Carlos Arouca, 40 anos, poeta a 25 anos, com um livro lançado: “Osso da palavra, palavra de osso” (Ed. Organismo, 2016). Participou da curadoria da revista organismo nº10. Autor do blog Poeta de Praça Vazia https://carlosarouca.blogspot.com/
SAINDO DO ARMÁRIO
Contanto que o amor
Não acabe, sigamos para ambos os lados
Contanto que tua partida
Não parta o parto, o pacto
Te vejo por outro lado
Do amor gerado, concebido
Nenhuma geração há de duvidar maior
A vida segue seu rumo
em suma: nosso melhor
Quanto de mim são lágrimas?
Sabe que os esforços não foram em vão
Sabe, o intervalo válido duma paixão
Requer uma entrega,
Requer as vezes que se seja brega
Requer não pensar solução
Das incertezas todas elas
São reflexos de espelhos quebrados
Uma luz com várias penumbras
E eu sendo anteparo
Onde paro?
No meio da sala
Esperando você sair do armário. ..
SOFÁ
O sofisma de palavras orais
No sofá os orais
Independe das oratórias
É clitóris, falo, estórias
Muitos enredos , o sofá
Quase sempre estático
Um verdadeiro palco
Um tribunal de família a julgar
As pernas sempre a mostra
Pernas cruzadas, abertas, em cima, atrás
No sofá tudo se come
Sempre se derrama
Mas nada vira lama
O sofá santuário, confessionário e puteiro
Fetiches, bíblias abertas e um cinzeiro
Filme pornô, amigos punheteiros
O sofá antecede a cama
As vezes o gozo ali fica
Sem chegar ao travesseiro
As esperas longas das moças
Saírem dos banheiros
Sofá testemunha de Jeová,
De tudo que é humano
O sofá é nosso divã
Liturgia: sagrado e profano…
VOCÊ É PRAXES
Um olhar sobre um céu de telhado
Um sozinho sempre acompanhado
Força mãe, força porque força
Porque não se pode acovardar
Diante de tantos covardes
É sublime ao passo que não se vê vantagem
Em ser sempre tempestade
Única na perspectiva da bondade
Um jeito de se fazer justiça: milagres
Percorrendo o caminho da razão
Penso também que não é obrigada
Já que pode ser mais um/uma…
Perda de tempo
Na fila, que é muito solitária
Nessa vida que somos tudo
E a todo tempo somos nada
Pensar em você é praxes
É auto busca, é se ver no outro
Gostar de ser, por gostar do outro
Por gostar de si
É egoísmo lhe admirar
Sem que possa partilhar…
Sem sair de si.
FILHOS, NÃO SOU OBRIGADA.
ninguém precisa ter filhos
para ser feliz
mas se é feliz
e por via tiver um filho
vai amar a mudança
não como se faltasse um pedaço
ou uma parte
ou uma perpetuação de si,
espécie
vai amá-lo
porque filho é amor
incondicional ( desprendido do espaço-tempo ou causa)
a felicidade antes de ter filho
é completa.
após o filho é perplexa
é paradoxal
é como adentrar um buraco negro
só com as leis newtoniana.
ninguém precisa ter filhos
para ser feliz
se quer ter filhos
para ser feliz
e se completar,
vai sofrer.
filhos não é felicidade
não é completude
filho é outra viagem
arrisco em dizer
pela leitura rasa da sociedade
por esta cartilha
que filho é egoísmo
é pensar só em si
na imagem-semelhança
na prole
filho é verossímil
a tua verdade
tua cria, tua obra
tua ousadia
muitos carregam como estandartes
sem ao menos refletir
tamanha responsabilidade.
quanto de si
deve morrer-renascer
para que os vícios
não os sufoquem
não os traumatizem
ninguém precisa ter filhos
basta que se cumpram
seus sonhos
sua sina
qualquer razão
basta.
filho é outro compromisso
sem noção, é emoção.
Parabéns ao poeta Carlos Arouca, me identifiquei muito com o poema FILHOS, NÃO SOU OBRIGADA.
Parabéns 👏🏾😍