4 Poemas de Geraldo Lavigne de Lemos

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Geraldo Lavigne de Lemos é advogado e poeta, membro da Academia de Letras de Ilhéus, autor de seis livros. Publica em revistas, blogues e jornais. Foi curador do II Festival Literário de Ilhéus, parecerista ad hoc da Editus e membro de comissão julgadora de concursos literários.


sedução

a preparação do café emana
fragrância e envolve o olfato
– o sentido despojado de barreiras.

hábil no jogo,
o cheiro do café
manobra um truque simples:
põe-se em cada pontinho do ar
e narina alguma escapa.

provocado o desejo irresistível,
o efeito é
o primeiro gole…
o segundo…
o terceiro…

assim o café invade e contagia o corpo,
e, da inação ao ânimo, toma-se
uma porção de vida todo dia.


outros pulmões

deitado no chão,
sou cisco na relva.

tempo frio,
sombra da árvore.

olho pra cima,
estou dentro de um pulmão
: a copa da amendoeira
se abre no ar

confundo tronco com traqueia,
galhos com brônquios,
folhas com alvéolos.

deitado na sombra da árvore
sou cisco no pulmão do mundo


embarque

dois trens deixarão a estação:

um seguirá sobre trilhos armados
em solos firmes, porém inundados,
que se estiram na planície nebulosa,
até sumir na tempestade;

outro seguirá sobre trilhos armados
em escoras e rochas soltas, no penhasco,
na curva da montanha ensolarada,
onde os vagões escapam à vista
sob o céu aberto.


por onde andamos

no arranha-céu,
a única referência que se tem do solo
é o termo térreo.

temos pernas,
não asas.

com ares celestes,
distraídos em apartamentos de concreto,
subornamos o destino de povoar o subsolo,
como se nossos ataúdes fossem flutuar em balões.

2 comentários em “4 Poemas de Geraldo Lavigne de Lemos”

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