4 Poemas de Tiago D. Oliveira

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Tiago D. Oliveira nasceu em 1984, em Salvador/BA, graduado e mestrando em Letras pela UFBA, tendo passado pela UNL (Portugal). Tem poemas publicados em blogs, portais, revistas e jornais especializados no Brasil, Portugal e Espanha. Participou também de antologias no Brasil e em Portugal, dentre elas: Contos nos is (Edições Ecopy, 2011, Portugal), Entre o sono e o sonho – tomo I, II e IV ( Chiado Editora, 2013 e 2016, Portugal), Publicou Distraído, poesia (Editora Pinaúna, 2014), Debaixo do vazio, poesia (Editora Córrego, 2016) e Contações, poesia (Editora Patuá, 2018).

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As solas dos pés de meu avô

xv.

fecho os olhos e escuto a sua voz
dentro de uma pega de boi no mato.
o corpo do vaqueiro é o seu mundo,
cada galho e espinho a marcar
a pele, seu manto sagrado:
perneira, gibão, chapéu, peitoral, luvas, botas.
fecho os olhos e não há mais fim,
apenas o boi correndo solto
como um trovão sem chuva
a ecoar em labirintos
o desvencilhar dos pingos
até alcançarem a terra

xxv.

foi o meu pai
o primeiro a dizer
que somos água
até o fim

você está
pela beira
a derra
mar
a con
ter.

xxvi.

o vô cuspiu no chão
ao meio dia em ponto.
disse que somos nós,
depois fechou os olhos
levantando a cabeça sob
o sol.

xxviii.

um homem é fé.
mais que tardia, sua valia
há de chegar, como do pé
o fruto maduro a despencar
sobre o seu eixo, a fria
imagem ainda a acontecer
de um firmamento solar.
a fé da vó Maria era
nas galinhas comendo o milho
de manhã, a fé do vô era
no mesmo milho
a entranhar na terra, então.
ganhando o mundo, a fé
do pai, como as espigas feitas,
se deu nas estradas.
carrego no sangue vestígios
que aconselham a minha fé:
creio nas palavras. de não despencar
em escombros a memória das cinzas
que a própria memória carrega.
que a letra gera o que grafa em nós,
no silêncio mais desconhecido possível.

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