Crédito da foto: Jonathan Dourado
Bruno Ítalo é de Teresina-PI. Servidor público. Divulga textos nas redes sociais (@bispoesias) e em revistas e antologias. Em 2022, venceu o 7º Prêmio Inglês de Sousa (poesia) e o 4º Concurso Literário Foed Castro Chamma (haicai tradicional). Finalista do Prêmio Internacional Pena de Ouro (conto) e Prêmio Poeta Carvalho Júnior (poesia). Acaba de publicar “Exsicata” pela Editora Reformatório, livro de estreia na poesia.
VÍRGULAS
à beira do infinito
desenho vírgulas na areia
como quem ainda quisesse
cavar pausas
no vazio
vidro olhos nos rastros
arruinados
pelo tempo
parece mesmo
tão bonito
o que o mar destruiu
GALÁXIAS
como me impressiona
o lado negro
dos teus olhos
muito me comove o Cosmos
na expressão de tua face luminosa
vejo infinitas galáxias
nas espirais dos teus cabelos
caio em buracos negros
quando te sinto respirar
e é tudo tão pequeno
tão simples
tão arcano
tão celeste
tão mundano
que eu me encontro suspirando
por tão pouco saber
por tanto mais acreditar
EXSICATA
aperto o passo e ainda assim carrego
presa ao sapato
a folha seca e quebradiça
arrasto a sola
chuto a porta
dou três pulos
impávida, resiste
de repente, a percebi triste
crepitada ao sol – antes fonte
lançada ao solo – antes forte
tangida pelo vento que a embalava
veio a mim buscando novo tronco
nova raiz
orvalho – quem sabe
agora conservo seu limbo prensado
nos versos de um poema
TOMBO
a nostalgia é o que me guia
nestes paços vaporosos
minha sede é de instantes
eternidades esquecidas
nas sombras de um quintal
sinestesias que rugem alto
tacos de madeira, pães e pedras
em tatos vivos fragrantes
cores vagantes de um vitral
em cada abrir de olhos
tomba a casa já tombada
para nada além da fachada
e o som dos sinos na catedral
em cada voz tombada
o menino ávido por lembranças
e sua baladeira de palavras
alvejando a cabeleira branca
e suas taças de cristal
MONÓLITO
o monge
com olhos monolíticos
em suas roupas de linho branco
fitava-me com seu riso mudo
o sábio
de gestos monolíticos
flagrava-me silencioso
em sua oficina medieval
com moldes de gesso
e vozes de bocas mortas
o mestre
de palavras monolíticas
não esmagava o ímpeto infantil
do menino audaz
que lhe repetia perguntas
entre revelações seculares
e profecias apocalípticas
o médium
máximo
trazia outra bisnaga quentinha
enrolada em papel de pão
naquela madrugada distante
um telefonema distante
anunciou sua partida
[morreu como um passarinho]
sublimara-se o anjo
de ralas penas brancas
e etéreas asas de pedra