5 Poemas de Rosana Batista Almeida

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Rosana Batista Almeida é baiana, de Salvador. Formada em engenharia civil pela UFBA. Graduada, desenvolve pesquisa na área de meio ambiente, como mestranda, na Universidade Federal de Pernambuco. A partir de 2003, desenvolve trabalhos na área ambiental, na esfera pública. Escreve Artigos Científicos nesta área, com interface com a Mecânica dos Solos. Em 2014, participa do primeiro concurso literário nacional, sendo classificada com a poesia Voar. Em 2016, classifica-se em Concurso Literário, promovido pela Editora Vivara e participa da Antologia A Poética da Madrugada, da Editora gaúcha Pragmatha. Em 2017, publica em Revistas Literárias Marinatambalo e Mallamargens, sendo, então, em 2018, classificada no Concurso Literário UFG-Campos Catalão, com o poema intitulado Elo. Ainda em 2018, publica, pela editora Pragmatha, o seu primeiro livro de poemas intitulado Circuitos de Solaris. Em 2020, publica poemas na Revista Quatetê e em Antologias pela editora Pragmatha.


Regaço turvo

Da boca escorre o limo, a água, a águia.
Os dedos desenham montanhas e lixos.
Os ouvidos não ouvem,
não reconhecem,
não discretizam símbolos.

Não há mais máquinas de brincar.
Esgotaram-se os métodos de construção,
de arquiteturas mudas.
Não há saber, nem código.

Na carência de tudo, esbarrei-me no caos,
no excesso do mundo.

Espaços vazios.
O que não pode ser dito.
O abstrato, o incomensurável.
A bicicleta no céu.

O fantástico.
A Realidade sutil, o ininteligível.
O sopro, o ímpar, a incongruência.

Não. Não vamos chegar.
Não, não vou chegar ao final.
Não há porta, não há janela.
Não há nada.

E quem dirá: ainda há estrelas para nos guiar?
Não se apresse, escute.
Não fale, deite-se.
Hesite, não confie.
O infinito, a curva:
o desespero de não saber.
O animal e o regaço turvo.


As trombetas tocam

As trombetas tocam de dia.
O lobo rastejando nos pântanos.
Azuis anis cobertos de gelo colorido.
O fogo das mentes cheira às vozes mortas.

As trombetas tocam de dia.
Dormem sob o mar.
Reiniciam computadores mortos e navalhas frias.
Sorriem dos mortos.

As trombetas tocam de dia,
a esperar a lua contornar o círculo das mentes,
dos náufragos, dos anjos sem visão, dos colecionadores de nada.
Da lama que inunda o dia.

As trombetas tocam, tocam.
E o Ser gira no vazio, despedaça-se em flores frias
e colhe os mortos de dia.
E não há noite nem dia – só Vazio.


Vitrais

Vôo alto dentro do palácio de vitrais.
Os cantos de brisa me envolvem.
Deslizo sobre o teu rosto de anjo.
Somente assim.
Somente, sim, estrelas vêm me buscar
para viajar.

Estou do tamanho do Ser.
Nada busco nem me afasto:
o absoluto dilata a consciência.
Não existem falsas verdades:
endereço-me ao azul.

Repousando na areia,
o mar vem me abraçar.
Ó mar, leva-me para dançar!


Companhia

Alguém me acompanha pela lama sombria.
Avisa-me quem virá por detrás da montanha.
Somente esta mente a me mostrar
que são sempre essas coisas
por onde não vejo o mar.

Alguém me acompanha,
mesmo quando não há mais frio, nem Vazio,
que me faz parar.
No espelho, o campo de primavera
e a aridez de não poder dançar.

À procura do meu rosto,
sempre mergulho profundo em ti,
mas tu estás perdido de ti em mim.
E sempre alguém a me acompanhar no espelho.

O campo de primavera,
a aridez de não poder dançar,
mas tu estás perdido de ti em mim:
sempre alguém a me acompanhar.
E toda vez que te alcanço,
já é hora de voltar.


Bandeira sem símbolos

Estamos com bandeiras, estandartes,
malas diretas, bugigangas, liquidificador de cosmo.
Setas vermelhas, de povos de outrora.

Vivemos em mundos outros, em formas amorfas.
De matemáticas siderais,
passeamos deslizando em almofadas do tempo.

A poeira ficou antes de nossos olhos nascerem,
antes das pernas apontarem nas ruas de computador.

Segure nos parapeitos do vento:
sua pele circular avisa quem desponta no infinito.
Não sente, descanse no ocaso, à beira dos fantasmas lilás.

As casas reais, de giz, como a terra úmida.
Nas janelas, muita gente.
No sofá, o pássaro se aninha e dorme.

Assista TV, está frio!
A pele não dorme, a Terra corre,
a água relincha das montanhas.
E cai, e cai, e desliza.
A pele vive.

O homem engole, vomita, apedreja e morre.
Estamos com bandeiras, sem símbolos – sem nada.

8 comentários em “5 Poemas de Rosana Batista Almeida”

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