5 Poemas de Rudá Ventura

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Rudá Ventura: poeta, músico e historiador, nascido em São Paulo. Autor do livro Preamar, lançado em 2017 pela editora Laranja Original, tem poemas publicados também em revistas literárias do Brasil, de Portugal e de Moçambique. Integra ainda a antologia Encontro de Utopias, lançada em 2019 pela editora Patuá.
Comprometido com a arte-educação, realiza palestras e apresentações de poesia recitada em escolas e eventos literários. Publicará, em breve, seu segundo livro de poemas.


ÀS MARGENS DO CÉU

Há uma vela que o horizonte ilumina
E um manto de aurora que reclina sobre nós.
Há um vale sob a pele do asfalto
E um canto que ecoa em silêncio,
Por dias se ouvindo
Às margens do céu.

Hoje acordamos com um sonho,
Amanhã despertaremos sem vida.
Há o infinito num instante de aurora
E ainda há luz nos dias sem sol.

Há um futuro que agora amanhece sobre nós
E há um canto que nos guia em silêncio,
Por dias seguindo
Às margens do céu.


QUATRO ESTAÇÕES

Quiseras que enxergasse meu caminho
E sentisse no outono as quatro estações;
Quiseras que eu tocasse os frutos,
Antes mesmo de lançar suas sementes.

Não posso mudar o que vejo,
Mas saber o destino é pressentir a estrada…

Se deixas eu olhar a terra
E me dás a clareza dos planos,
Também fazes conhecer tal sorte
E os espinhos que escondem os ramos

Para que as mãos não temam adiante
E para que minha boca no estio plante
Sonhos na relva.


POENTE

Amor,
Quando passar a tarde,
Encosta teu coração no ocaso
Pra que o fio de luz, que é semente,
Plante minha alma em tua noite
E assim, unidos ao firmamento,
Nasçamos juntos em outra aurora.


RUÍNAS DE ÁGORA

Há tanta boca
E tanta voz desmedida
Nesse silêncio repetido e gritado,

Nesse vazio de palavras que ecoam esquecidas,
Onde à margem de toda prosa
Talvez repouse alguma verdade.

Há tanta boca
E nenhum som profundo;
Há tantos dentes devorando os sonhos
E tão ímpio tornou-se o mundo,
Que mastigado resta pra nós.


DISTOPIA

Por tanto calarem-se à dor de outras vozes,
Por tanto desdém aos verbos atrozes,

Muitas terras conquistou o silêncio.

Quando, enfim, o pranto sentiram
E em desespero, por amparo, gritaram,

Já não era possível escutarem a si mesmos.

1 comentário em “5 Poemas de Rudá Ventura”

  1. Sua poesia é luz para o espírito, na escassez dos dias. Vejo seus versos saindo, pela boca de Neruda, pelas iluminações de Black, e asas criando, para chegar onde o a gente tem sede. Esperamos ansiosos, pelo novo livro e belas criações poéticas, caríssimo amigo, Rudá Ventura .

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