Fora de ritmo

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Ritmo Louco (1936) é um dos melhores momentos da filmografia da dupla Fred Astaire e Ginger Rogers. Na carreira de Zadie Smith, porém, o título possui um brilho tímido numa obra marcada por livros como Sobre a Beleza e Dentes Brancos (considerado pela Time um dos 100 mais importantes romances de língua inglesa escritos entre 1923 e 2005).

A referência ao musical não é gratuita. Tracey e sua amiga (a narradora, que lembra a relação de amizade desde a infância) são duas aspirantes a bailarinas que têm adoração ao universo da dança e se divertem imitando os passos dos filmes e clipes que veem na televisão. Enquanto Tracey demonstra um talento natural para os holofotes, a narradora vai aos poucos se distanciando dos palcos e penetrando nos bastidores – até o ponto de se tornar a assistente pessoal de Aimee, uma artista pop cuja carreira e caprichos consomem boa parte do tempo de sua vida adulta.

O romance começa de forma potente, numa abertura in media res carregada de culpa. Este trampolim nos impulsiona ao passado da narradora com uma gravidade que não se sustenta ao longo das páginas. O passado vai se dispersando num presente diluído, que enfraquece a densidade das personagens com episódios que não parecem possuir uma carga dramática correspondente aos movimentos narrativos que Smith tenta performatizar.

Provas disso são as pequenas rupturas que vão ocorrendo na amizade com Tracey, contadas ao passo que a relação com Aimee vai se aprofundando e atuando como um torvelinho capaz de tragar todos os laços de afeto da narradora (a exemplo de seu contato com a mãe, que rende de longe as melhores páginas do livro). Tudo isso se dá numa coreografia dispersa, que só piora quando a atmosfera muda do cenário metropolitano, de cidades como Londres e Nova Iorque, para um país no oeste da África onde Aimee pretende estabelecer uma fundação.

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O romance só se equilibra já ao final, quando Tracey retorna como uma figura persecutória que paira sobre a vida da narradora e de sua mãe. É quando o elo com Aimee também começa a se fraturar, e voltamos àquele ponto inicial numa circularidade eficaz, embora marcada por tropeços. Se, no cinema, o feio Fred Astaire tinha o charme e a maestria a seu favor – além do talento e da beleza indiscutíveis de Ginger Rogers -, na literatura, a insípida narradora deste “Ritmo Louco” parece a todo momento querer afastar o leitor, evitando o “cheek to cheek” da empatia.

O resultado é um dueto longo e muitas vezes tedioso, sem o frenesi ou o swing que promete.

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