Gabriel Cortilho é escritor, formado em História (Unesp-Franca) e mestre em Educação (Unicamp). Pesquisa a experiência dos estudantes na pandemia de Covid-19 no doutorado em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Uepg), na linha História e Políticas Educacionais. É membro do Grupo de Pesquisa Capital, Trabalho, Estado, Educação e Políticas Educacionais (GPCATE) e autor de dez livretos de poesia, entre eles: A Transa dos Besouros Verdes (2016) e Golondrina Subterrânea (2018).
INSIGNIFICÂNCIA
gosto da incapacidade
dos que decifram estrelas
& pensam em tocá-las
com frágeis palavras
não querem para si
a constelação de Órion
não sonham em desbravar
as 82 luas de Saturno
não veem qualquer grandeza
nas cifras do mercado financeiro
com os seus abutres da ganância
sabem-se pequenos: filhos do tempo
que a tudo e a todos há de devorar;
gosto da incapacidade
dos que sabem-se um grão
imersos num pálido ponto
azul no espaço sideral
eles veem a grandeza nas miudezas
a potência dos desejos adormecidos
TEMPO
sonha-se sempre
com o futuro
do passado
restam memórias
colheitas nostalgias
o presente, esse micro-instante,
desaparece quando é proferido
pela sutileza dos relógios
seremos um dia engolidos
INDIFERENÇA
lembro-me
da força altiva
para enfrentar
os dias cinzas
os cheiros verde-musgo
que há na mata fechada
como são violetas
as mãos libertárias
as almas amadas
das paisagens que nascem
no abraço de uma conversa:
que a força
da indiferença
não lhe abrace
n’algum dia
ela turva, quando não retira,
as colorações da nossa vida