5 Poemas de Rayana de Carvalho

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Rayana de Carvalho nasceu em Santa Rita, Paraíba, em 1993. É poeta, escritora e educadora popular do campo. Formou-se mestra em educação pela Universidade Federal da Paraíba, em 2018, e, atualmente, é professora da educação infantil. Com Ellaila Andrius e Rayssa de Carvalho, administra o projeto @mulheresquecorremcomlivros desde 2021, um Instagram literário e clube de leitura voltados à divulgação da literatura escrita por mulheres.  Neste ano, em 2024, participou de sua primeira antologia literária  sendo uma das vencedoras do Concurso Literário Luiza Tereza, com poema selecionado para o livro intitulado “Um rio na ponta da língua”, publicado com incentivo da Lei Paulo Gustavo – Governo do Estado da Paraíba em parceria com a Secretaria de Cultura.


Escrava do Desejo

Escrava
do seu desejo
a infernizar

Priva-te o sono
desejo vazio
preenche-te dele
para te esvaziar

Desejo escravo
do teu pecado
a te assombrar

Lança mão
daquilo que é mais sagrado
que é a tua liberdade
de ser livre de amar

Vazio escravo
deseja o desejo
de ser escravo
de te desejar.


Espelho


Acordei.
Senti-me estranha.
Uma pontada no estômago,
um certo fervor no coração,
uma pequena ansiedade.
Não pude identificar, a priori, o que me acontecera.
Levantei-me.
A passos lentos e pesados,
segui em direção ao espelho.
Olhei-me.
Não me reconheci.
O que vi me parecia indistinguível.
Observo o reflexo no espelho,
questiono: diga-me, o que lhe acontecera?
Já não posso dizer se o que vejo se trata de mim mesma.
Mas como?
O que lhe ocorrera de um dia a outro?
Fora substituída?
Não sei ao certo.
Espelhada, aproximo-me,
como alguém que se conhece a primeira vez,
estranho-me,
crio resistência à desconhecida,
ao desconhecido.
As horas passam.
Sinto-me disforme,
como se estivesse nascendo uma segunda vez.
Tudo me parece distante,
incognoscível.
Em frente ao espelho,
assisto às minhas memórias,
fazendo-me uma pergunta que não sei responder:
quem sou?



Ciclo Moderno


Acordo,
levanto-me.
Mal observo o que me rodeia,
lembro que o tempo está passando.
Corro freneticamente.
Palavras me guiam:
alimento.
trabalho.
banho.
Corro!
Tenho pressa.
O tempo está passando.
Prazos a me sucumbir.
Não tenho tempo,
o tempo me devora,
sem pena,
o tempo me devora.
Estou destroçada.
Questiono, quem é este senhor que me engole,
o tempo ou o capitalismo?
Com esse capitalismo,
não sobra tempo para nada.
Corro!
Não tenho tempo.
O capitalismo me devora.
Retira-me o direito ao tempo:
a minha mais-valia mais sagrada.


Poema Suprimento

Eu preciso fazer um poema sobre a minha intensidade!
Intensa idade.
Eu preciso.
Preciso fazer um poema sobre a minha intensidade!
Ansiedade,
em sua totalidade.
Um Poema que sangre,
que arrebate,
que escorra,
como as minhas lágrimas.
Eu preciso expor em palavras as feridas abertas.
Eu preciso cuspir num poema coisas de um coração que bate,
encolhe,
aperta.
Letras que codificam a dor,
que transpareça memórias turbulentas.
Poema caos
que atravessa,
como faca,
a derme macia.
Poema intenso,
arrebatador,
que expresse
o vazio
do que sinto
ao existir.


A Rima

poemas
rimas
o encontro dos sons
as letras a brincar
poemas que rimam são como bons romances
letras almas gêmeas
conectam-se
entrelaçam-se
divertem
comovem
entristecem
o encontro perfeito da rima encontra-se
na língua
no lirismo
na poesia

1 comentário em “5 Poemas de Rayana de Carvalho”

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