Filipe Marinheiro, natural de Aveiro, nasceu em 30 de Julho de 1982 em Coimbra, tem 32 anos. No liceu seguiu o agrupamento de humanidades, licenciando-se em Gestão de Marketing pelo Ipam Aveiro entre 2001-2006, antes do processo de bolonha, e publicou o primeiro livro, “Um Cândido Dilúvio – Acto I e Sombras em Derivas – Acto II”, em Março de 2013 e «Silêncios» em Dezembro de 2013.
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tenho uma pérola de espinhos a circular ligeiramente desmaiada
dentro do sangue
e todo geométrico sangue sai pelas guelras fora
gesticulando
na profundidade etérea
da minha garganta contra a radiação solar
e nas poças transparentes do pulmão
um fumo astronómico a inclinar o outro pulmão
que baila peito acima e abaixo
numa fúria
em forma de trovoada
as genialidades que mais amo estão viradas para o avesso
e essa pérola de espinhos
chora dulcíssima com todo o seu génio
sobre choques térmicos deste frágil som eléctrico
e um trémulo bolor solta-se
como repuxos abruptos
depois subo tantos degraus quantos tombo enrolado numa treva
em delírio adentro no incêndio deste crime
roubo o futuro da luz
e das cidades sem qualquer desvastação
ou beleza
que magneticamente racha o ilusório nocturno lugar
como a pancada desse sangue brutal
compõe esses espinhos formidáveis até colocar as pérolas
em cima da boca sedutora e doce
e a garganta em chaga aniquila todos os espinhos e pérolas
desaparecendo-os
um por um
destes movimentos muito quentes
estrangulando-se sem memória nem coração
***
fecho os olhos
abro-me nos teus como uma balada impune no seu sangue
oscilante
entretido percorro-te, estremeço-me nas veias singulares
depois com a ponta da língua
afável caligrafia reponho as cordas giratórias
e andas no meu imenso chão
um chão embalado p’los nossos sorrisos de cetim
só teu, só meu a transformar-se
porém nunca a concluir ou terminar salvo esse romance
nada súbito a apertarem violetas durante
jactos perfumados
decerto uma bondade eterna
eis donde chegam os meus afectos
e nas artérias de seda cristal
crias novas meigas cores novos ligeiros ares
novos amantes tons
novos endurecidos ruídos
novo auroreal amor para eu continuar a ver
a ver-te debruçada sobre mar transparente
com veludo de orvalho entre os poros
a ver-nos encalhados continuando a moldar
brancos banhos
como numa nossa gargalhada
a dormir no cume de videntes astros adentro
só dessa maneira
estaremos destinados a tais grandes coisas