por Henrique Douglas (jornalista)
A fábrica de “heróis” infames do Brasil não para de entregar os mais inescrupulosos exemplares, e o que é pior, alguns em posição de poder e liderança.
Nosso talento para um ‘sebastianismo’ desesperado por salvadores da pátria desvia nossa atenção e automaticamente adormece instintos de defesa que impedem enxergar os menores sinais de charlatanismo.
“João de Deus” passou a vida cometendo crimes, abusando de privilégios “mediúnicos”, enganando pessoas, envolvido em execuções sumárias, estuprando mulheres fragilizadas, monopolizando ilegalmente o comércio em volta das suas charlatanices e enriquecendo ilegalmente.
Foram muitos anos dos mais perversos abusos, e na maioria das vezes, sem qualquer tipo de consequência para o criminoso.
Como seus tentáculos abarcaram território internacional (cara, como pode?), se iguala, nesse pandemônio de consciências alheias ao famigerado guru indiano OSHO (veja o também inacreditável ‘Wild Wild Country’), que enganou outra comitiva desesperado por salvação.
Como tem gente que ainda acha o Osho um grande guru compartilhando suas frases e livros, temo que ainda possa haver quem defenda esse guru de Abadiânia. A teoria da banalidade do mal de Hannah Arendt poderia ser aplicada novamente.
Creio que devemos alicerçar nossas crenças para uma melhor existência em algo que nos faça sentir melhores, mas não esqueça que depender da magnitude de outros traz riscos que nos expõe. Ainda que nesse terreno da crença não haja espaço para a razão, deixe no cantinho da mente um espaço para desobediência à unanimidade.
O mal sempre deixa rastros e pistas. O tal João, repetia exaustivamente duas coisas: “não sou eu que curo, é Deus” e “ninguém consegue enganar todos por muito tempo” (emulando Abraão Lincoln), quando na verdade, por tudo que se apresenta em sua vida, seria fácil perceber que o que ele queria dizer era “uma mentira contada mil vezes, torna-se uma verdade”, frase que define melhor a existência nefasta desse perigoso charlatão e dita por outra mente perversa. (HD)