1.Notas rápidas sobre política: compartilhando livros para entender o Brasil

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por Aristides Oliveira

Mês de abril chegando e até agora não consegui me concentrar para organizar pautas para a Revista Acrobata. Minha cabeça está tentando encaixar as peças desse mosaico político|cultural em torno do Brasil pós-2016.

Como não sou estudioso na área de política e me sinto confuso nesse período amargo da história, decidi desacelerar meu trabalho como editor ligado a temas relacionados à cultura e ler sobre o assunto, assumindo um lugar de estudante curioso, para que seja possível compreender a dimensão do que estamos vivendo. Gostaria de compartilhar com vocês esse percurso.

Ler os jornais não está sendo suficiente. Há uma profundeza – talvez um abismo – entre o golpe-civil-parlamentar e a ascensão do bolsonarismo que meus pés ainda não alcançaram. Fui numa livraria e comprei vários títulos que analisam a conjuntura, desde o assassinato de Marielle Franco, passando pela República das Milícias até chegar à construção das ruínas brasileiras narrada por Eliane Brum.

A inquietação se conecta com essas histórias do Brasil longe da utopia de Stefan Zweig, mas um país com o cartucho cheio de bala, ódio e intolerância, imerso na crise republicana antes vista em 1964.

Quero convidar aos leitores/leitoras para conhecer algumas [rápidas] indicações dos livros que estou lendo para refletirmos juntos e atravessar estes dias sombrios, em que morrer mais de três mil pessoas por dia é rotina. Se possível, leiam. São obras que nos puxam para a realidade urgente.

Minha primeira indicação é o livro Estado pós-democrático: neo-obscurantismo e gestão dos indesejáveis (Civilização Brasileira: 2019) do juiz Rubens Casara.

A análise de Rubens aponta para a crise do Estado Democrático de Direito – que garantiam as liberdades e direitos – através da superação desse modelo, levando ao enfraquecimento dos valores que fundamentavam um regime político capaz de frear os excessos de autoritarismos e oportunismos golpistas.

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A investigação traçada pelo autor deu-se a partir dos sintomas que levam a crise da Democracia. No seu ponto de vista, podemos identificá-la a partir do aprofundamento do modelo neoliberal contemporâneo, através da mercantilização nas relações humanas, autocentrada no espetáculo e narcisismo, bem como (este é ponto forte do livro) o avanço da intimidade entre poder político/econômico, que juntos nutrem as bases para fortalecer o pensamento autoritário.

É assustador concordar com Rubens: a democracia aparece como simulacro (perde seu conteúdo, mas não é anulada), incapaz de estabelecer uma fronteira de proteção contra a falta de pudor envolvendo os interesses econômicos, sobrepondo-se aos interesses sociais, utilizando a estrutura republicana para reforçar práticas fascistas. E é nessa democracia em frangalhos que a pós-democracia se sustenta, servindo como “discurso apaziguador” para justificar o fisiologismo entre a economia, judiciário e política.

Como é possível romper os princípios democráticos em nome da democracia?

Rubens Casara se debruça nessa problemática através de sua experiência na área jurídica.

Convido a todos/todas para refletir e – principalmente – encontrar saída para manutenção da nossa liberdade.

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