Vulva Power! O Corpo Desnudado de Fátima Peixoto

| |

Fátima Peixoto (PI) Designer. Piauiense. Feminista. Acredita na potencialidade de cada mulher. Instagram: @fa.peixoto / @art.linhasApresentação de Aristides Oliveira.


Apresentação de Aristides Oliveira.

Conheci a Fátima através do Jacob Alves, parceiro importante na produção do Porn and Politics, uma mostra audiovisual que organizei com ele e Tássia Araújo no Galpão (Dirceu – Teresina – PI) em 2015. Desde o primeiro contato com os desenhos minimalistas, fiquei instigado com sua leveza na representação dos corpos femininos e a investigação da potência do Desejo nas linhas que, ora marcam a comunhão/harmonia, ora perdem-se nas dobras dessas mulheres em transe, virando-se e desdobrando-se em carne e espírito. Vulva Power vai além do papel. Suas vulvas percorrem plataformas que se movem em bottons, chaveiros, anéis, camisas, canecas, espalhando afetos pela boca, olhos, dedos, penetrando nos poros daqueles que se abrem para mergulhar no seu universo.

O objetivo dos meus desenhos é abordar as múltiplas formas de sentir o desejo, afeto e prazer. O foco são corpos com curvas, onde trago a mulher para se sentir livre com seu próprio corpo. Livre para se tocar e descobrir onde são seus pontos de prazeres. Livre para permitir-se a amar. Existem abordagens sobre as vaginas, a importância que não damos a elas. É onde eu crio uma ênfase maior em tons avermelhados para proporcionalmente criar uma sensação de desejo, uma sinestesia quente e vibrante. A vagina não é apenas um órgão genital feminino e sim um órgão de grande potência de prazer onde podemos falar, podemos procurar conhecer mais profundamente e principalmente senti-lo. Muitas pessoas não tentam conhecer a potência que existe no seu corpo de saber que são capazes, pelo simples fato de achar que isso é algo vulgar ou errado. Valorizar seu corpo significa valorizar a potência que você traz em si, ele não é território de ninguém, além de você mesmo. A potência é o que define nosso corpo, e através dele que somos afetados e estes afetos aumentam a potência. Que seja algo de bom ou ruim. Um corpo que experimenta e se entrega cada vez mais, um corpo que escolhe tudo o que lhe convém sempre da melhor forma possível, sem medo. É um corpo satisfeito, feliz e realizado. Um corpo que experimenta, procura sentir e não que só interpreta. Então é esse sim, o ponto mais forte é transparecer para as mulheres que ela pode sim se masturbar, ela tem todo direito de se tocar e de se sentir, de sentir cada textura, de sentir os lábios que existe em sua vagina. Como diz Gilles Deleuze: “A estrutura de um corpo é a composição da sua relação. O que pode um corpo é a natureza e os limites do seu poder de ser afetado” (Deleuze, Espinosa e o Problema da Expressão p. 147). E mais “Não é carência, mas excesso que ameaça transbordar” (Onfray, A Potência de Existir).

Cada pessoa tem sua própria forma de interpretar cada composição, cada movimento que as linhas dão no emaranhado entre o devir dos corpos e da sinestesia que transforma cada linha, uma compondo a outra. Abordo também sobre o afeto entre as linhas, a forma singela e simples de demonstrar que o melhor da vida existe através da troca de carinho mútuo entre duas pessoas. A forma simples de sentir um abraço firme, intenso e profundo que nos leva para outro universo.

Demonstro que através das linhas podemos trazer inúmeras possibilidades de amor próprio e amor ao próximo. Exponho o que vem de dentro da minha inquietude, minhas verdades parindo entre as linhas, e assim dando formas aos corpos afetos limpos e mútuos. Esse é meu objetivo, mostrar a verdade que existe entre a potência dos corpos e da sensibilidade que existe neles.

A importância do projeto: “A pluralidade das linhas em devir dos corpos”, é mostrar a pluralidade dos corpos entre as linhas, sobre os afetos e desejo. É fazer perceber a potência que existe dentro de nós. É uma forma de demonstrar que o corpo é um conjunto de relações que está sempre em uma determinada harmonia entre o equilíbrio e o desequilíbrio. Existem forças que conectam de uma forma que mantém a sua proporção de velocidades e repousos entre as partes. Com a composição das linhas trago a sua potência, que traduz em: agir para gerar bons encontros. E nessa ênfase maior é mostrar que a mulher pode sim ser um ser humano livre como o homem é entre tantas outras coisas. Quero mostrar nesse projeto que somos donas dos nossos corpos, com roupa ou sem roupa, somos donas das nossas vontades, as vontades que nascem do desejo que nos move para qualquer espaço. Onde nossa atitude é agir pela potência, onde moverse é sempre ir em direção à liberdade. Somos território de nós mesmos e porque não agir da forma que achamos mais leal a nós mesmos? É onde quero chegar com cada linha que faço minhas composições, com cada traço e tons vermelhos. A realidade, como um todo, é um devir e uma desconstrução de produção e criação. As linhas são a forma mais singela e sublime que venho trazendo para demonstrar tamanha potência que existe em nós, mesmo que hoje estejam deixando de acreditar. Não deixem, acredite!

Deixe um comentário

error

Gostando da leitura? :) Compartilhe!