Rafael Sperling (RJ) (1985) Nasceu no Rio de Janeiro. É compositor e produtor musical. É autor de Festa na Usina Nuclear (2011)
Berio estava no
banheiro de casa. Terminou de fazer suas necessidades e deu a descarga. Foi uma
descarga tão forte que gerou uma descarga elétrica, e começaram a sair luzes de
todas as cores de sua querida privada. Ele se assustou um pouco e tentou sair
do banheiro, porém a privada começou a sugar tudo que havia lá dentro. Berio
tentou agarrar-se na pia, mas esta foi arrancada da parede quando a segurou.
Ele foi sugado para dentro da privada e conduzido a uma outra dimensão.
Berio foi expelido pelo chafariz da praça central de Bertrônha, a cidade para
onde havia sido levado. Depois de retirar os pedaços de fezes que cobriam sua
boca, dirigiu-se à primeira pessoa que passava e perguntou onde estava. A
pessoa respondeu, mas ele não acreditou no que ouviu e saiu andando.
Entrou num restaurante para comer, estava faminto; viagens para outra dimensão
deixam você com fome. Lá estavam eu e meu cachorro.
—Oi — eu disse.
—Oi — Berio disse.
—Oi — meu cachorro disse — Estou com muita fome.
Foi aí que Tópi avançou e devorou Bério. O meu cachorro disse que também estava
com sede e lhe dei um belo golpe de karate para que ficasse quieto. Então, para
se vingar, me colocou dentro de uma garrafa de refrigerante, onde fiquei pelos
5 anos seguintes.
Depois de me arrastar para fora da garrafa de refrigerante, peguei uma carona
com o elefante de mármore. Ele disse estar muito satisfeito com a iminente
guerra entre celulares e canetas esferográficas. Foi aí que ele tropeçou e
morreu. Fui lançado com toda a força contra um muro verde, onde havia escrito
“O Ovo é Grande e Alaranjado”, e morri.
Fui levado por cientistas celtas para a clínica de Cavacas, famosa por ser a
única clínica onde são realizados transplantes anais perfeitos. Os médicos
pararam de jogar tênis para me receber. Eu os cumprimentei e disse que havia
morrido devido ao choque contra a parede verde. Eles começaram a gritar
loucamente e a rasgar a carne de seus rostos. Depois que todos caíram mortos no
chão, fui levado à sala de cirurgia. Como todos os médicos haviam morrido eu
seria operado pelo servente da clínica, por ser o funcionário mais qualificado,
depois dos médicos, para uma cirurgia de revitalização.
Ele colocou os meus pedaços estraçalhados na mesa de cirurgia e jogou muita cola em cima deles. Por engano, colou a minha cabeça no lugar de meu pênis, e meu pênis no lugar de minha cabeça. Quando lhe chamei a atenção para isso, ele disse que quase não se notava. Então, dentro de 15 minutos, fui liberado. Antes de sair do hospital fui ao banheiro. Urinei pela minha boca, que agora era a minha uretra, e gritei de nojo pela minha uretra, que agora era a minha boca.
Saindo do hospital encontrei minha namorada. Ela disse que eu estava lindo e
que havia um ar sexual em mim que ela não conseguia definir. Em seguida, ela
chupou o meu pênis e saímos para passear. Após algumas horas voltamos para
casa. Ela queria transar. Tiramos as roupas e eu a penetrei com minha cabeça. De
inicio, ela sentiu um pouco de dor, mas depois se acostumou. Na verdade, ela
não havia se acostumado, havia morrido, pois minha cabeça estraçalhou sua vagina,
causando uma grande hemorragia interna. Eu disse:
—Querida, você morreu; vá para o lixo.
—Sim, já vou, deixe apenas eu retocar a maquiagem.
Então ela esfregou o batom vermelho em seu cabelo, e jogou pó de arroz nos seus
olhos. Depois foi para a cozinha e entrou dentro do lixo.
No dia seguinte, coloquei o lixo no lado de fora, para que fosse levado. Voltei
para a cozinha, estava com muita fome. Eu estava comendo Miojo quando ele apareceu. O Homem Aranha apareceu na minha cozinha
e começou a dançar lambada. Ele dançava com muita técnica. Poderia dançar no televisão.
—Por que você está dançando lambada?
—Porque é o que eu amo.
—Acho que isso não ajuda a salvar as pessoas, que é sua função, né?
—Errado, minha função é dançar lambada. Mas, por preconceito, isso nunca foi mostrado nos quadrinhos.
—Entendo.
—Na verdade, eu salvo as pessoas dançando lambada. Só que o efeito é retardado, eu danço em casa, saio, e quando chego no local já está começando a fazer efeito, e é só dar uns soquinhos que os caras caem mortos.
—Poxa, que incrível.
—Quer ver só? Tá vendo aquele cara lá embaixo? — ele apontou pela janela.
—Sim.
O Homem Aranha começou a dançar lambada. Sua dança era quente e sensual. Dois minutos depois, o cara começou a cambalear, então, o Homem Aranha pegou uma bala Halls e tacou no cara. A bala bateu em sua cabeça e o derrubou no chão, caiu morto.
—Meu Deus, não é que funciona mesmo?
Foi aí que meu cachorro apareceu e disse que ia matar o Homem Aranha. Ele, meu
cachorro, começou a dançar lambada. Então, ele vomitou Berio, que também
começou a dançar lambada. Logo, eu também comecei a dançar lambada. O Homem
Aranha começou a ficar tonto.
—Estou começando a ficar tonto — ele disse.
Eu, Berio, e o cachorro começamos a chutá-lo. Depois que ele morreu, saímos
para comer umas putas. Como não tínhamos muito dinheiro, rachamos uma puta.
Por estarmos muitos transtornados, por causa da lambada, que também havia nos
atingido, não conseguimos acertar os orifícios da puta, e acabamos transando
entre nós. Fizemos um trenzinho. Eu comia Berio, que comia o cachorro, que me
comia. Para não causar a morte da pessoa com quem eu copulava, utilizei o meu
pênis, que agora era a minha cabeça. Foi uma experiência singular, diria.
Quando terminamos, pagamos a puta e voltamos para casa. Berio disse que
precisava voltar para casa, então o colocamos na privada e demos a descarga.
Meu cachorro me perguntou:
—Por que é que…
Antes que ele terminasse a frase, chutei seu rosto e o matei. Por ter chutado
seu rosto de mau jeito, meu joelho quebrou e a parte de baixo da minha perna
apodreceu e caiu. Como não estava mais conseguindo me mover, fiquei no chão,
esperando o resto do meu corpo terminar de apodrecer. Enquanto isso, fiquei
pensando:
—Ainda não lustrei a minha bigorna hoje. Espero que ela não se sinta triste e
cometa um suicídio abstrato.
Foi aí que a bigorna, que estava colada no teto, exatamente acima de mim, caiu
e esmagou a minha cabeça abstrata.
—Bêngolas. Oi?