Jota – A e o Salão de Humor do Piauí

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por Bernardo Aurélio (convidado especial)

Entrevista realizada dia 17 de janeiro de 2015, às 14h, na redação do jornal O Dia.

Estive conversando com Jota A sobre o Salão de Humor do Piauí. Ele é um grande colecionador de prêmios em Salões pelo Brasil e mundo afora, mas me contou que só veio mesmo participar do salão do Piauí depois dos anos 2000. Antes disso participava observando os desenhos, apendendo com os convidados. Nos primeiros anos que concorreu ao Salão do Piauí, não teve êxito, pois fazia trabalhos apressados, só depois que começou a trabalhar no jornal O Dia passou a produzir charges e cartuns regularmente e a se preparar com antecedência para concorrer ao evento local, onde já teve 4 primeiros lugares e várias menções honrosos ou prêmios em juris populares.

Mas Jota A não limita sua participação ao humor gráfico do Piauí apenas como concorrente de salões. Confessou-me que sempre foi uma pessoa próxima ao Albert Piauhy quando o assunto era realização do Salão. Era um engajado no evento. Entretanto, desde 2010, isso começou a mudar, quando publicou em seu blog o texto “Desabafo” onde reclama do atraso na divulgação dos premiados do Salão daquele ano, diz que o evento aconteceu e ninguém viu, que, na verdade, o evento estava na UTI.

Segundo ele, os graves problemas do Salão de Humor começaram a acontecer quando a Fundação Nacional de Humor foi criada, ainda em 1997, ou seja, quando a organização do evento deixou de ser executada diretamente pelo governo do estado e passou para uma instituição privada.

Para Jota A, “a Fundação Nacional de Humor não deu certo”, a administração das coisas dentro da Fundação era muito difícil, lidar com o Albert era muito difícil, as opiniões dos colegas sobre os rumos do evento não eram ouvidas. Até mesmo a FUNDAC, que repassava recursos do governo do Estado para a Fundação Nacional de Humor – FNH (em 2013 o valor do convênio foi de R$150mil) não tinha voz dentro do evento.

Artistas e colegas sentiam-se desmotivadas a continuar fazendo o Salão, o que provocava certo esvaziamento de pessoal da FNH, corroborando com o que disse Sônia Terra em minha entrevista, que por vezes, Albert Piauhy parecia estar sozinho fazendo aquele evento, e que é impossível realizar algo tão grande à contento quando se está só.

Um ano antes do “desabafo”, não por motivos ou iniciativa pessoal, Jota A foi convidado pelo empresário José Cerqueira Dantas, dono do hospital Medplan para mudar os rumos da história do humor gráfico em Teresina, através da realização de um novo evento.

Essa entrevista não tinha sido publicada por Bernardo em revistas ou sites. É material inédito, carregado de atualidade para que possamos refletir a relação entre políticas públicas e a situação da cultura piauiense na mão dos governantes.

***

Quando você descobriu e começou a participar do Salão de Humor do Piauí?

Jota A: Comecei a participar vendo os trabalhos, antes mesmo de trabalhar aqui no Jornal O Dia. Creio que em 1987 ou 1988 eu já participava do Salão de Humor. Lembro que eu levava papel e tentava reproduzir alguns desenhos expostos. Sempre ia ao salão ver os desenhos e falar com algum cartunista.

A minha ida ao salão aumentou quando eu entrei no Jornal O Dia, em 1988, pois pude me dedicar mais ao desenho e manter mais contato com os cartunistas, pra discutir e falar sobre a arte do cartum, porque então eu já era cartunista que trabalhava no jornal, tinha mais assunto para falar. Perguntava sobre papéis, tintas, livros de humor.

Antes disso eu apenas ia para olhar os desenhos, concorrer não. Só a partir de 1989 que eu comecei mesmo a mandar meus desenhos pra valer. Antes disso, às vezes não era nem selecionado. O que aconteceu era que eu não me preparava para o Salão de Humor do Piauí.

Às vezes eu ia fazer um desenho faltando 2 dias ou uma semana para o final do prazo de inscrição. E, às vezes, eu mandava dois desenhos e não tinha nenhum selecionado, mas não ligava muito pra isso não. Só a partir de 1990 que eu realmente pude colocar o regulamento do Salão de Humor do Piauí na minha agenda pra valer. Se eu sabia que o Salão seria em setembro, dois, três meses antes eu já começava a pensar nos desenhos que iria fazer.

Não era mais aquilo de “eu vou fazer qualquer coisa”, não! Eu me preparava para o Salão. E aí foi quando as coisas começaram a dar certo, por exemplo: eu tenho 5 primeiros lugares no Salão, muitas menções honrosas, além de prêmios na categoria júri popular, onde as pessoas que vão visitar o Salão votam no melhor trabalho. Acho que eu tenho 3 ou 4 premiações nessa categoria.  Outro dia eu tava olhando minhas coisas e encontrei os certificados do Salão de Humor do Piauí. Coisa que eu nem lembrava mais. Eles faziam um diploma e aí eu pude relembrar dos meus primeiros passos dentro do Salão de Humor do Piauí.

Cartunistas Ique Woitschach, Nilton Magalhaes e Jota A, Salão de Humor do Piauí, 2006.
Arquivo pessoal.

 De lá pra cá o Salão começou a apresentar alguns problemas. Em 2010 você escreveu um texto chamado “desabafo” em seu blog, onde você diz: “Nos últimos anos o salão entrou em franca decadência culminando nessa última edição onde o salão aconteceu e ‘ninguém viu’!” O que estava acontecendo com o Salão?

 Olha, eu participei de grande parte da história do Salão de Humor no Piauí, participei como cartunista que envia trabalhos, participei sendo amigo das pessoas que organizam o Salão e posso te dizer, sem sombra de dúvidas, indo até de encontro a alguns textos que vi nesse teu material: o Salão de Humor do Piauí começou a sua decadência no exato ano em que ele passou do Estado para a Fundação Nacional de Humor – FNH.

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Eu não sei o que aconteceu, se foi má administração ou se não foi. O que eu sei é que no ano que o governo deixou de fazer, começou a decadência do Salão de Humor do Piauí. Só pra ter uma ideia, eu fui premiado 5 vezes no Salão de Humor do Piauí, nas primeiras premiações o governo era quem fazia o salão e eu recebi o dinheiro, no mesmo dia da abertura, e aí quando passou para a Fundação Nacional de Humor eu levei quase 2 anos para receber o último prêmio.

Estou dando um exemplo meu, mas tem outros casos de pessoas que não receberam ou levaram muito tempo para receber as premiações. Fui premiado com os primeiros lugares nos anos de 1995, na categoria Proposta, em 98, na categoria Charge, em 2002, em Cartum, 2004, Cartum Temático e em 2006, novamente Cartum Temático.

(Não lembro o ano, o governo do Estado tirou a FNH da função de promotora do salão e  chamou o cartunista Fred para fazer o evento.)

Acho que o governo deixou de fazer o Salão, não deu estrutura ou a estrutura que ele deu não foi suficiente e aí começou a derrocada do Salão até que, como eu coloquei em meu blog, aconteceu um Salão que ninguém viu, ninguém participou. Por exemplo, em 2010, eu enviei meu trabalho para o Salão de Humor, o evento foi aberto, não publicaram o desenho de ninguém e aí as pessoas ficaram me cobrando: “Jota, cadê o Salão? Cadê a lista dos selecionados? Quem ganhou?”.

E eu enviei e-mails pro mailing do Salão, pra quem eu tinha nos meus contatos, pedindo uma explicação. Acho que isso era o mínimo que a organização deveria fazer. Não recebi nenhuma resposta. O que eu fiz? Coloquei no meu blog que estava muito triste, que eu era uma cria do Salão que havia chegado ao nível onde os artistas mandavam o trabalho e não tinham nenhuma resposta. Eu coloquei isso como a maior falta de respeito. Depois que a matéria foi feita no blog, foi realizada uma matéria no jornal O Dia e aí escolheram um desenho do Fred como o melhor do Salão. Mas até 2012 ele não havia sido pago. Encontrei com ele em Piracicaba e ele me falou que não tinha recebido o dinheiro do prêmio. Depois disso o salão continuou decaindo até chegar no fundo do poço, que foi quando entraram na Fundação de Humor e levaram grande parte dos desenhos que tinha por lá.

Não estou querendo dizer aqui que a Fundação foi a responsável, sozinha, pela decadência do Salão de Humor nem que ela não tenha um projeto para a utilização da sede. Estou querendo dizer que, infelizmente, caiu muito a qualidade do Salão como evento de humor.

Eu até coloquei no meu texto o que poderia ser uma solução, que é o que já acontece no Salão de Piracicaba. Lá, a cidade tem uma verba no orçamento para o Salão de Humor de Piracicaba e dá muito certo. Eu já propus isso muitas vezes para o Albert: “Albert, rapaz, você poderia continuar como mentor do Salão de Humor, mas que tal se ele voltasse para o Estado?”, mas ele não gostou muito da ideia não. Então eu acho que a saída para o Salão hoje é essa, voltar para o Estado pra ver se consegue o retorno aos seus grandes tempos áureos.

Olha só, assim como se fala muito bem do Salão Medplan de Humor, se fala muito mal do Salão de Humor do Piauí. Outra coisa: se eu ganhar o Salão de Humor do Piauí e os caras não me pagarem. E aí? Que é que tem? Não tem nada, pô! Vou jogar uma bomba no Albert? Não! Com o Salão organizado pelo Estado pelo menos a gente podia fazer uma passeata: “Olha aí! O Governo não me pagou! Esse Wilson, Wellington, Zé Filho!” Aí há toda uma repercussão, as pessoas se mobilizando. No caso da FNH não tem isso. Quer dizer, o cara pensa: não vou mais mandar desenho pro Salão do Piauí não. Vou mandar pra outros. Todo mês tem Salão internacional por aí.

Jota A, Kenard Kruel, Lourdes Rufino, Fred e Airton, no Salão de HUmor do Piaui, em 2006.
Arquivo pessoal.

Em 2009, antes do seu “desabafo”, teve início o Salão Medplan de Humor. Porque fazê-lo?

Conversando com o Dr. José Cerqueira Dantas, que é o diretor do Medplan, ele me perguntou o que é que a gente poderia fazer para mexer com a cidade. Eu disse: “olha, doutor, eu entendo de humor. Posso fazer um projeto nessa área”. Eu fiz um projeto, levei pra ele, que gostou muito e disse: “Vamos fazer!”.

Nós fizemos e foi o maior sucesso. Nós tivemos uma resposta muito grande. O Salão Medplan tem um diferencial dos outros salões, pois é um salão itinerante, passa o ano inteiro sendo exposto, nos pontos turísticos e culturais de Teresina, universidades, faculdades, aeroporto, escolas.

O salão já foi exposto também em Parnaíba e em Floriano através de uma parceria entre o Medplan e o Sesc. É um salão itinerante e a gente produz todo ano um catálogo e um calendário. Ou seja, a gente faz com que o cartunista receba o resultado do seu trabalho. Uma coisa é eu fazer um Salão durante uma semana e pronto. Outra coisa é o artista participante receber um catálogo ou calendário, que pode utilizar como portfólio do trabalho dele. Ou seja, nós estamos valorizando o trabalho do artista.

No calendário, a gente só publica o trabalho dos vencedores: 1º lugar, 2º lugar, Prêmio Internet e as menções honrosas. No catálogo publicamos os 100 melhores desenhos. Era nossa intenção apenas estarmos no mesmo espaço com o Salão de Humor do Piauí. Não era nossa intenção ser melhor, nem ser igual. Queríamos apenas ser um Salão de Humor diferente, uma coisa que pudesse passar o ano inteirinho sendo visto.

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Ano após ano o Salão Medplan foi crescendo, começamos com 300 trabalhos, depois foi aumentando para, 400, 500, 600, 700 trabalhos e temos tido uma resposta muito grande dos artistas que participam e do público. Só pra se ter uma ideia, a gente tem uma lista muito grande de lugares que ele é exposto. E a cada ano essa lista cresce.

A mostra é formada por quarenta trabalhos que a gente escolhe, e sempre temos lugares como faculdades, escolas, pedindo para levar a exposição para lá, para que eles possam também utilizar os desenhos para os alunos discutirem. Lembro que as charges sobre as redes sociais foram muito utilizadas em salas de aula. Isso é muito gratificante pra gente que faz o Salão.

José Cerqueira Dantas, no catálogo do Salão Medplan de 2014, diz: “Se você ainda tem alguma dúvida sobre o que se tornou esse evento cultural nascido e criado em Teresina-Piauí, acesse o Google e digite: salão de humor. Surgirão o Salão de Humor de Piracicaba (o mais famoso do Brasil) e… o Salão Medplan de Humor!”. Você comentou que não era a intenção substituir o Salão da FNH, mas isso parece que aconteceu…

Pois é, parece que aconteceu, a gente tem se tornado a principal referência no que tange a salão de humor aqui no Piauí. E foi uma alegria muito grande porque quanto mais sucesso esse Salão Medplan vai fazendo, mais ele vai se ampliando. Não posso lhe dizer agora, mas nós temos grandes novidades pra essa edição de 2015.

A gente sempre se reúne no começo do ano, discute o salão e vê essa questão do tema e estou com umas ideias interessantes a respeito do Salão, e essas ideias só serão feitas graças ao sucesso do Salão nas edições passadas. Só pra você ter uma ideia, a gente recebeu um cartunista de Belém do Pará. No dia da abertura, de repente, o cartunista apareceu lá: “Beleza, Jota A, eu sou o cartunista fulano de tal, sou do Pará”. “Pô, cara, que legal, a gente tá chegando tão longe!”. “Pois é! Eu vi o Salão na internet, peguei um ônibus e vim pra cá”. Cara! Isso nos deixou extasiados! O cara láááaá do Pará pega um ônibus, vem pra Teresina só pra ver a abertura do Salão Medplan!! A gente ficou muito feliz com o sucesso que o Salão alcançou.

Outra coisa é com relação aos prêmios. Eu acho que o maior respeito que um organizador de Salão tem que ter em relação aos artistas que participam é com o pagamento dos prêmios: divulgou os premiados do Salão hoje, amanhã pagou o prêmio. É impressionante o boca-a-boca quando isso ocorre. Os artistas, a maioria se conhece, a maioria está interligados, em redes sociais.

E aí quando acontece, por exemplo, abertura do Salão hoje e amanhã o dinheiro já tá na conta, isso se espalha.  As pessoas também mostram o catálogo nas redes sociais, as pessoas enaltecem o Salão, as pessoas vêem a seriedade com que a gente trabalha. Só pra você ter uma ideia, os desenhos dos artistas são emoldurados numa moldura comumente usada para emoldurar telas de pintura. Ou seja, tratamos os desenhos dos cartunistas como obras de arte. 

E aí os cartunistas vêem isso na internet e se empolgam ao ver como seus desenhos são tratados. Comentam com outro cartunista e a tendência é que cresça cada vez mais a participação desses cartunistas. Não sabemos aonde nós vamos parar, só sabemos que estamos crescendo a cada dia pra fazer sempre um Salão sempre melhor do que o outro.

Em conversa com Sônia Terra, ela lamentou que durante certo tempo o Albert Piauhy esteve só, sem julgar o porquê, mas disse que isso atrapalhava muito. No texto “desabafo” você diz que fez “tudo o que julguei necessário: divulguei o regulamento do salão (…). Enviei os meus trabalhos ao salão. Fui à abertura e dei um abraço aos amigos cartunistas que vieram de outros estados”. Não seria uma opção mais fácil para um cartunista como você, se engajar e ajudar em um salão que já existia a quase 30 anos do que criar um novo Salão?

Acho que ninguém queria que o Salão de Humor do Piauí crescesse e se tornasse o maior salão de humor do mundo, mais do que eu. Acho que ninguém esteve tão próximo do Albert tentando falar algumas coisas pra ele quanto eu. Só pra você ter uma ideia eu já recebi ligação do Albert e ele dizia: “Jota, vamos fazer uma reunião sobre o Salão aqui na FNH”, isso, sei lá, uns 10 anos atrás.

E aí fui eu e o Aerlon Charles. Duas horas de sábado esperando o ônibus na parada. Mais 20 minutos caminhando até chegar à Fundação de humor. E a gente ficou lá, esperando o Albert. Tínhamos marcado 17h e quando deu 18h eu liguei pro Albert e perguntei: “Albert, rapaz, você não vem pra reunião não?” e ele disse: “Jota A, rapaz, você não tá vendo que tá bonito pra chover?” [imitando a voz do Albert. Risos].

Acho que ninguém fez tanta reunião com o Albert acerca do Salão de Humor do Piauí quanto eu, muitas vezes era só eu e ele. Também sou membro da FNH. Agora o que é que acontece? O Albert é genial desenhando e é genial com algumas ações no Salão de Humor, mas o Albert tem, eu não diria um “defeito” grande, por que acho que isso faz parte da essência dele, mas o Albert não ouve ninguém.

Ou se ele ouve não muda o seu modo de pensar e agir. Ou seja, o Albert é muito difícil pra gente conviver. Muito, muito difícil. Eu dizia: “Albert, que tal se a gente fizesse desse jeito!” e ele “Rapaz, não é assim!”. Participei de um projeto, que é um dos melhores projetos que já vi, o Humor na Escola. Fui dar aulas em muitas escolas, já participei ilustrando em muitas tardes que ele nos convocava para desenhar e discutir a fundação, fui à reuniões com o prefeito Firmino Filho, Sônia Terra, presidente da FUNDAC, todas procurando apoio pra FNH… enfim, eu fiz tudo que podia para contribuir de alguma forma para o Salão de Humor junto ao Albert, acontece, cara, que uma hora a gente cansa. Pô! Você dá uma sugestão, não é aceita, você fala uma coisa e não dá em nada. Cansei.

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Lembro que a gente participou de muitas reuniões no tempo do Vida Nova Cidadão, que era um programa do então governador Hugo Napoleão e tinha a missão de fazer vários eventos em algumas áreas, inclusive a cultural. Onde o Albert convocava os artistas: “Vamos lá!”. A gente fez um projeto, aliás, a gente não! Ele fez um projeto e entregou para a dona Leda Napoleão e aí eu vi um pouquinho de melhoria acontecer quando a sede da FNH foi revitalizada e ele apresentou um projeto muito bonito, com cursos, biblioteca, enfim. Depois disso pouca coisa aconteceu realmente e acabei me afastando.

Em todos os meus textos, no meu blog, em nenhum momento eu respondi às agressões do Albert, que chegou inclusive a me chamar de “cristão Fundamentalista”, porque eu tenho um carinho muito grande e jamais irei responder. Mesmo que ele diga qualquer coisa a meu respeito. Tenho um carinho muito grande pelo artista e um dos criadores do Salão de Humor do Piauí.

Eu jamais iria brigar com o Albert. Mas fui, aos poucos, me afastando, ficando mais com meus projetos, com o trabalho no Jornal O Dia, fazendo capas de livro, enfim, tocando a minha vida. Espero que o Salão de Humor do Piauí retorne à sua grandiosidade. Acredito que quanto mais ações no gênero humor tiver mais cartunistas surgirão. Quanto mais salões de humor tivermos, mais cartunistas serão premiados, mais cartunistas surgirão.

Dino e Jota A, jurados do 11º Salão Medplan, 2019. Entrega da premiação aos ganhadores do salão.
Arquivo pessoal.

Aí nós temos um problema. O Salão não aconteceu em 2014 e o Estado também o tomou pra si…

Não tomou. Eu acho que era uma responsabilidade do Estado.  Eu fico impressionado com a letargia das pessoas. Por exemplo: é aberto o Salão e ninguém da imprensa questiona: “Cadê os premiados? Cadê a exposição? Cadê a mostra competitiva? Quem ganhou o salão?”. Eu vi dezenas de matérias sobre o Salão de Humor do Piauí e nenhuma pessoa questionou isso, ou seja, infelizmente a cultura nunca será prioridade nem do governo nem das pessoas de uma forma em geral, que poderiam ter um maior comprometimento também na hora dos questionamentos.

Se a FNH não tem condições de fazer o Salão, e o Salão é tão importante para o povo do Piauí, porque que o Estado não o pega de volta? Não sei se existe um contrato assinado entre a FNH e o Estado, deve ter alguma coisa, mas eu acho que o Salão é tão importante que a gente deveria ter um Salão de Humor do Piauí, senão feito pela FNH feito pelo o Estado ou a prefeitura.

Creio que não seria um dinheiro jogado fora. Seria um investimento, porque o Salão envolve muitas pessoas e a principal força do Salão é a criação de uma nova geração de artistas. Se você não tem um espaço onde os cartunistas se encontram, colocam seus trabalhos, discutem o humor, a tendência é que novos cartunistas surjam, porque não existe um espaço como um Salão de Humor. É necessário esses eventos para que haja essa possibilidade da criação de novos artistas. Sem isso, dificilmente nós teremos a criação de uma nova geração cartunistas.

No caso, o Salão do Medplan é feito por uma entidade privada, um plano de Saúde, não tem nenhuma participação do Estado?

Não. O Medplan patrocina todo o evento e assim, ao contrário do que as pessoas pensam, o Salão do Medplan é barato. Com o que a gente gasta? Com as impressões, molduras, a gente gasta com a confecção do catálogo, o calendário, o pagamento dos prêmios, a exposição itinerante. Enfim, é um salão que rende muito e o custo dele é baixíssimo tendo-se em conta a repercussão dele para a empresa. E que isso sirva de modelo para que outras empresas façam algo parecido em relação à outros eventos culturais.

O último contrato com do Salão de Humor do Piauí com a FUNDAC, para o 30º Salão (que aconteceu em Parnaíba, em 2013) foi de R$150mil e eu soube que o Salão do Medplan se faz com menos de R$30mil.

É, cara. Baixíssimo. Que eu lembre, gasta-se R$9 mil com os prêmios, confecção de 40 molduras, o que eu recebo lá para fazer o cartaz, regulamento e convite aos cartunistas, impressão do catálogo, do calendário, camisas, impressão dos convites e pagamento de um caminhoneiro para o transporte dos trabalhos até o local das exposições. Tem algumas atividades que são desenvolvidas pelos funcionários do próprio Medplan, como o recebimento dos trabalhos via internet. O investimento é baixo diante da grande repercussão do salão. É por isso que o Dr. Cerqueira Dantas, que é um empresário, aposta no salão Medplan. Se tivesse dando prejuízo já teria acabado. Agora tu imagina o que faríamos com R$150mil!

Arquivo pessoal.

O Medplan nunca pensou em trabalhar com o Governo do Estado?

Não, nunca pensou. O que a gente pensou uma vez era colocar o Salão numa dessas leis de incentivo à cultura, mas aí teria de mudar o nome, porque não poderia ser mais “Salão Medplan” que é o nome do plano de saúde.

Então a FNH falhou onde uma iniciativa privada funciona? Quer dizer, porque uma instituição que trabalha com saúde realiza um evento sobre humor melhor que uma fundação específica para cuidar do humor?

Falhou. E não é nem eu quem está dizendo isto. São os acontecimentos. Falhou porque foi caindo, caindo, caindo… Eu vou te dizer uma coisa que mostra o prestígio da FNH entre os nossos governantes. A primeira vez que o Wellington foi eleito, durante o Salão, a gente foi a um jantar na casa dele.

Todos lá: os cartunistas, jornalistas. Lotamos a casa. Jantar da melhor qualidade. Bebidas à vontade. No segundo ano a gente foi, acho que para o restaurante “Panela de Barro”. No terceiro ano do Wellington, quando terminou o show de abertura no Theatro 4 de Setembro, os pobres dos cartunistas, se quisessem comer alguma coisa, tinham que comprar aqueles “espetinhos” da praça Pedro II, à meia-noite.

Então, para que o salão de Humor do Piauí retorne é necessário um bom administrador e parcerias importantes. Sem isso, creio que o salão jamais retornará.

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