Celso Borges (MA) É poeta e letrista maranhense. Autor de 10 livros de poesia, entre eles Pelo vesso (1986), Música (2006) e O futuro tem o coração antigo (2013). Parceiro de Zeca Baleiro, Criolina, Chico César, etc. Faz roteiros de vídeo e foi curador da Feira do Livro de São Luís, em 2013 e 2014.
Cuidado!
se gravarem meus poemas em camisetas
que sejam discretos, sem purpurina ou tintas de efeito
a luz de meus versos fabrico no peito.
não pintem carinhos que não fiz, please
beijos que não dei
caminhos que não pisei
ei, cuidado!
não mostrem assim, num banner bandido
num pano qualquer
simples emoções simples com pinta de enfeite
que me baste ser pouco
prefiro o louco que me lê e grita e blasfema
ao outro, sóbrio, sério, falso sábio, cheio de fama
que me olha e não me vê
e me cita em teses de mestrado.
coitado!
prefiro a fúria hemorrágica
às rimas de hemorroidas
Anticage
a poesia é, de fato, o fruto
de um grito meu, teu, de todos nós
voz que acende um barulho
dentro da noite feroz
por isso tenho que gritar,
leitores surdos, ouvintes mudos
com versos, línguas, punhais, absurdos
porque a poesia é, na verdade, um mito
palavra que salta do papel e ousa
ave que pousa no risco do atrito
porque a poesia é uma bomba
susto que o homem ouve quase
como um avião cai
no corpo de um kamikaze
e o silêncio é nada
argila seca, poeira disciplinada
por isso o poeta tem que gritar
gritar em suma
porque o silêncio, porra,
é porra nenhuma