.2 Poemas de Lucas Rolim

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Lucas Rolim (PI) é poeta, editor independente e fez algumas traduções. Como poeta, é autor de O Mirábolo (Ed. Moinhos, 2017) e dos livrinhos artesanais No Panorama do Tempo o Menino se Alarga (2015), Os Cantos de Eleanor (Selo Kizumba, 2017) e Terrários (Selo Kizumba, 2017). Nasceu em Teresina, onde habita e é habitado.


Todos os Tambores Monte Acima

“[…] e gastamos as mãos até o osso
E seguimos batendo nos tambores paraque volte o sol.”
Ludwig Zeller

metade desta árvore é um homem
& dentro de seu corpo dança uma tribo.

as quatro ventanias amansam o vale
& um tambor ruge alto no seio de fogo.

o velho pajé reverencia um jardim
para ter em sua voz a cura das plantas.

com o canto dos vagalumes vira raposa
& ao monte dos olhos guia todo o seu clã.

(quando inventava o corpo sua vigília,
                ali se reunia a tribo e rezava à lua.

inventavam noites para a chegada do dia.
enchiam os tamborins com a força do sol.
a velhice chegava
                                              onde folhas caídas
                                              crivavam um outono.)


Estranhos Viajantes

eu saudava o nosso amor
com toques de tambor e maracás
e tu eras a chuva do pau-de-chuva
e a própria queda da chuva
incendiando os contornos da noite

éramos dois entre o céu, a terra
e seus orbitais mágicos

éramos os amantes no alto da torre,
estranhos viajantes de um outro mar
costurando o desejo das águas

teu beijo de ácido era o caminho
da floresta e na floresta o xamã
de penas coloridas

(eu me estendia na sombra do xamã,
um acorde maior iluminando o quarto;
um alfarrábio em língua estranha
guardando nosso segredo)

as palavras mais doces escorriam
de teus olhos de incenso;
mariposas de âmbar dançavam
à luz do nosso amor

nós éramos um corpo sonoro entre
os fluidos da tarde; sol e lua sobre
as janelas do mundo; uma ardência
inquieta à espera do incêndio

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