.3 Poemas de Marcelo Ariel

| |

Marcelo Ariel nasceu em Santos em 1968,  é escritor e performer, autor dos livros Retornaremos das cinzas para sonhar com o silêncio, Com o Daimon no Contrafluxo entre outros, coordena oficinas de criação literária em Santos e São Paulo e mora em Cubatão. Contato: [email protected]


Sem Senhas Para as Cinzas na Água
“ Das coisas lançadas ao acaso, a mais bela, o cosmo”
Heráclito

1

A luz do ser é como a água
também veio do Sol
onde todos os planetas querem entrar

Dentro do Sol
O ser é imóvel
como a gratuidade de um êxtase
parecido com a respiração

Fora do Sol
o ser é móvel
Tempo eternidade
e tempo cronológico

2

A água é a Alma
dentro do corpo
Em um quadrado
há um triângulo
de fogo
dentro do triângulo
um eneagrama
de ar

Em nós
a água
é o que ama
enquanto o ar pensa
e a emoção é a chama
que o incêndio da morte
alimenta

A água é o que sonha
o que o tempo desenha
os círculos que somos
criados pela pedra
que afunda
quando acordamos

3

O Eu
é o vapor que se desprende
do gelo:
essa ilusão chamada identidade
no fogo do Ser se dissolvendo
Quando dizemos Eu
a alma que é a água dorme
e o que perdemos é a nuvem
do que não sabemos

É música tudo
o que a água pensa
No rastro das nuvens
se esconde a harmonia
dessa sentença, mesmo na tempestade
o relâmpago
rasgando o ar
é um silencioso canto
mas o trovão, quer nosso despertar
e fracassa, esse rugido estelar
que acorda em nós, apenas medo e espanto,
para a estrela retorna
silente fúria
que não compreende
nosso pranto


A Morte de David Bowie

Morrer não deveria ser tão agônico quanto nascer
talvez seja como abortar a existência entre dois pontos de inexistência
a Estrela Negra dentro do Buraco Negro
brilhando com sua luz cinza-prateada
com um ponto azul
ou um peixe abissal disfarçado de canção
o momento em que perdemos nossa consciência
se confunde com a liberdade
minha palavra favorita era ‘ agir’
antes que a música silenciosa fosse interrompida
pensei em escorregar por dentro
é possível criar algo em um local, em um ponto
que dissolva um poder infinito
como o seu
Ele disse para ela
enquanto ela tentava explicar a teoria dos fractais
‘ Eu sou uma realidade desconhecida’
ele ouviu sua própria voz cantar
como a ideia de uma luz caindo
por dentro dos ossos
o espaço que você ocupava era como uma espécie de céu
transparente entre uma pessoa e outra
disse o som da sua voz separado do seu rosto
se expandindo
entre espessuras de luz bicadas por pássaros
vou por teu corpo como por um rio
por tua forma como por um bosque
começamos nesse repentino abismo
não há nada diante de mim
apenas um instante que não se move


Comentário Poético Sobre Alguns Fragmentos de Novalis
As traduções dos fragmentos são de Rubens Rodrigues Torres Filho, a quem este poema é dedicado

Amor pode por vontade absoluta passar a religião. Do ser supremo só nos tornamos dignos pela morte. Morte de reconciliação

Este absoluto da vontade é fora do eu, logo o ser nada tem e pode ser tudo,
A dignidade de morrer desejando não ter forma
É uma reconciliação com o mundo ao desejar nele
Se dissolver

A morte é uma vitória sobre si ,que como toda auto-superação, proporciona uma existência nova, mais leve e fácil

Por esta minha cura, disse Sócrates
E uma existência nova, soltou-se de si
Divino afastamento de qualquer ideia de divindade
que deseja
desde o princípio
a anterioridade

Estamos próximos do despertar, quando sonhamos que sonhamos

Stein e sua rosa dentro de uma rosa dentro de uma rosa
se abrindo infindavelmente
pétalas sonhando com a rosa
raios com a roda
linhas retas sonhando com o círculo
tu, seja você quem for
é um poeta, uma poeta
ao tentar lembrar
como é esta rosa
do mundo
que há dentro do sonhar

Darwin faz a observação de que somos menos ofuscados pela luz, ao acordar, quando tivermos sonhado com objetos visíveis. Afortunados portanto, aqueles que já aqui sonharam com ver, poderão mais cedo suportar a glória daquele mundo!

e mais tarde , sem nenhuma razão
perceberão também a glória deste,

Deixe um comentário

error

Gostando da leitura? :) Compartilhe!