5 Poemas de Demetrios Galvão

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Demetrios Galvão, nasceu e vive na cidade de Teresina/PI. É poeta, editor e professor. Autor dos livros de poemas Fractais Semióticos (2005), Insólito (2011), Bifurcações (2014), O Avesso da Lâmpada (2017), Reabitar (2019) e do objeto poético Capsular (2015). Em 2005 lançou o CD de poemas Um Pandemônio Léxico no Arquipélago Parabólico. Participou do coletivo poético Academia Onírica e foi um dos editores do blog Poesia Tarja Preta (2010-2012) e da AO-Revista (2011-2012). Atualmente edita a revista Acrobata.


a mensagem do santo

é noite de chamar o santo
para se proteger do fim do mundo

o santo mensageiro atende o chamado e
vem falar da leveza do avesso
da temperatura do desequilíbrio alegre
da seiva que fortifica a vida
como substância alimentar do espírito

o santo veio mostrar os caminhos para
os litorais nativos
o interior virgem de olhares estrangeiros
para as ervas que alimentam
na imensidão da floresta festiva

o santo bate tambor e dança
lança enigmas e pinta o rosto
toma cachaça e embola a língua
revela o futuro em conchas do velho mar
revolve lembranças tribais

o santo vai embora depois da festa
e fica o mistério da vidência
a esperança de que o mundo não acabará.


reabitar 2

1
a esperança
desafia a gravidade
e levanta os mortos

reanima os segredos da casa
com o toque do invisível

perturbamos
os domínios da morte
com nossa felicidade.

2
o irromper da luz
e sua energia
intangível

magnetismo
que me faz
manter os olhos
no nascente

e imaginar um lugar
que deus
não conheça.


travessia

saltar do visível para o invisível
pela palavra
travessia que avança
sobre a mortalidade
e prolonga a finitude

nesse espaço
deitar sobre a vida e a morte
plantar o coração
e esperar que germine
entre as mãos da terra

– ficar vazio do mundo
encontrar o silêncio primeiro.


útero paterno

uma voz quebrada
corre dentro do homem

ecoa pelas tubulações
((((((((ósseas))))))))

– o som vira carne-doída –

é o grito de um filho
que pede abrigo
a um pai

o homem sente febre
e tem medo de falar
o que lhe dói

tem medo da física
desse som e da realidade
da palavra
o homem alimenta
o filho com a substância
do seu útero paterno

e torce para acordar bem.


corpos-siderais

cartas estelares são lançadas
no espectro contínuo
de nossos corpos-siderais

nenhum satélite será abrigo
enquanto vagarmos sem controle
seguindo a voz púrpura que queima

ainda guardo no armário
um céu adoecido de urticárias
e a dormência no olhar
mirando ruínas celestes.

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