Nathaly Felipe é poeta, pesquisadora, professora e crítica literária sempre em formação. Doutora em Teoria e História Literária (UNICAMP/FAPESP), com estágio pós-doutoral (PUC-SP/CNPq). Autora de Poemas dissonantes (coedição: Reformatório e Patuá, 2020), livro ganhador do Prêmio Maraã de Poesia, da plaquete voragem (Alpharrabio Edições, Coleção PerVersas, 2023), além de poemas publicados em revistas literárias, podcasts e antologias poéticas.
Os poemas publicados são do livro Poemas dissonantes. Reformatório; Patuá, 2020, p. 135.
Gesto
Minha mãe criava peixes
no gesto
incerto
do cesto de flores.
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Silêncio
Círculos concêntricos
invadem vazios.
Rasgam o silêncio,
esta intranquila
lavra.
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Gramática do delírio
No começo não havia
verbo, só́ delírio.
Descomeçou-se o delírio
e o já velho verbo veio.
O que o verbo não sabia?
[O poeta surdo-mudo não se submete à gramática
de começos]
Sempre recomeça. E o verbo,
este pobre acuado, delira.
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Paisagem íntima
A presença
não minha
situa o horizonte.
Paisagens
passeiam-me.
Arrebentam limites.
[o amor se doa]
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Icária
A cauda do peixe-fêmea
queria rastejar o chão dos céus.
Alçou voo veemente:
caiu alto, era abismo demais.