Demetrios Galvão – habitante da província de Teresina (PI) é poeta, editor e professor. Publicou os livros Fractais Semióticos (FUNDAC/2005), Insólito (Ed. Corsário/ 2011) e Bifurcações (Ed. Patuá/2014). É um dos editores da revista Acrobata.
Bifurcações
ao som de the doors
os animais do inverno hoje são luas.
rubens zárate
bifurcar-se é inventar
um outro, outros…
figuras derivadas de uma cosmologia sem vértebras:
caçada com lança e espinhos
pescaria em céu domesticado.
a escritura diz:
desvendar o alimento que as águas oferecem
dominar o feitiço que existe no útero da lâmina.
estranha fibra que brota das rochas e se irmana nos tendões
luz da manhã amadurecida no pulmão-estufa
experiência selvagem de animal paterno.
bifurcar-se é multiplicar imagem no espelho opaco
exercício em águas inéditas
digestão de raízes lancinantes:
o olhar semiárido vislumbrou uma nova especiaria
fármaco e veneno extraídos da febre de árvores púrpuras.
a voz aconselha:
arremesse as sementes da fé no leito orbital
no planeta maior mesopotâmico
na imensidão garganta da serpente luminosa.
o céu fecundo reproduz pássaros límpidos
o diafragma revela-se uma península de algaravias
estruturas semânticas cavalgam os pontos cardeais:
o verbo-candelabro cega quando pronunciado no escuro.
bifurcar-se é contorcer os ossos
duplicar as artérias no inconfessável
estender a musculatura na dobra sonante
equilibrar-se em movimentos de rotação e translação.
a experiência ensina:
o viveiro de moinhos potencializa o corpo oblíquo
o sangue caudaloso transborda o contorno original
e inunda o outro, no milagre da enchente,
na abundância mar da imaginação líquida.
útero incandescente banhado em larvas
a ternura amolece os pés:
continente que improvisa um arquipélago
na dispersão do zênite que se desfaz.
bifurcar-se é quando um filho inventa um pai.