Pitschieller Pupo: cinco Poemas do livro ‘Peixe Voador’

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Rita Pitschieller Pupo (Lisboa, 1981) Licenciada em Ciências da Comunicação na Nova FCSH, estudou formação de actores na ESTC, literatura e escrita em diversos fóruns. A par do trabalho em comunicação, é curadora e pesquisadora do Centro de Criação Psicanalítica em colaboração com a APPSI – Associação Portuguesa de Psicoterapia Psicanalítica, onde também lecciona o Seminário ‘Estados criativos e expressão poética no processo psicoterapêutico’. Tem poemas publicados em diversas revistas literárias impressas e publicações online. Em Maio de 2022 publicou o livro de poemas ’Peixe Voador’, pela Editora Labirinto.


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Durante o dia recortava jornais
separava palavras e reconfigurava o adn da espécie
passava horas nisto e via por bem gasto cada cêntimo
em anos de assinatura da National Geographic
repetia para si:
cavernas alegóricas para prece de sanidade
paleolíticas para preparar a terra
soube pelas notícias que Itália estava a tentar
uma terapia pelo plasma e pensou que
se reescrevesse a fórmula do sangue
aquela casa estaria a salvo
depois bastaria isolá-la numa semente germinável
a terra encarregar-se-ia de propagar o recomeço.


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Naturalmente, supor o sentido pelo sintoma
oferece uma boa dose de apneia
como voltar onde nada se nomeou
e todas as formas são vultos que ferem
os antigos viam isto mais simples
já estava escrito no céu. constelações
e nebulosas onde mergulhar por instinto
de preservação da história. e nós,
l’attention flottante
de bandeja aceito a busca acre, a tinta impermanente
e a visão nocturna, que é a única sensível às
perturbações da memória
unir o fundo granítico ao salto como um pequeno
tubarão que só aparentemente
não representa qualquer ameaça à espécie humana.


***

Não haverá nunca estrela diurna que amorteça
a amputação de um amor grande demais
observar um pedaço de palmeira
pavoneando-se na boca de um cão
confiando aí a filosofia toda
forçar um pouco a fome para que daí venha
uma parábola de início.
I keep seeking the exit or the home
de qualquer ponto pode irradiar o gérmen grego
com que tocar o mundo.


***

Em todos os mares voam
profecias planadoras como sonhos
cuidadosamente enrolados num cobertor.
pode tudo começar aqui
um peixe a agitar a cauda 70 vezes por segundo
como desde sempre mas, promete
acolher do poema só e todo o espaço
umbilical gerado na intercepção mínima do eco
o excedente breve esculpido entre
filamentos de vulcânica escuta.
a cada um as suas ilhas
e sobre todos conta o enigma
de uma escrita de água. já outra
no acto próprio da escavação.


***

Construir uma casa que nos faça de poema
emoldurado em painéis solares
assim será sempre renovável
o amor.

1 comentário em “Pitschieller Pupo: cinco Poemas do livro ‘Peixe Voador’”

  1. Uma voz de luz e minério
    Em que vibram todos os mistérios dos efêmeros gestos que desejamos eternos.
    Maravilhosos poemas que brilham como estrela oculta no bico de uma gaivota invisível a mergulhar nas ondas revoltas de nosso silêncio- farol de nossos destinos e desatinos de peixes voadores entre nuvens de nunca e talvez
    A flutuar na madrugada que embalamos como um bebê
    De olhos de sóis nascentes.

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