por Ariane Moraes
O filme A Hora da Estrela foi lançado inicialmente em 1985, mas ganhou uma nova edição digital, desta vez em 4K, e assim retornou aos cinemas quase 40 anos depois de sua estreia. O processo de remasterização do filme foi feito através do projeto Sessão Vitrine Petrobras, com o apoio da Cinemateca Brasileira. Antes de começar esta resenha, eu gostaria de destacar a experiência que tive quando fui ao cinema assistir o filme. Era uma terça-feira, com sessão única às 19h30, e você bem pode pensar que há muitas coisas melhores para se fazer numa terça à noite. Contudo, aparentemente não é isso que o público teresinense acha, já que me deparei com a sessão completamente lotada. Ficou claro para mim que o poder de Clarice Lispector é inescrutável, se antes eu já não soubesse disso. Também gostaria de agradecer à Sessão Vitrine Petrobras e à Editora Rocco pelo convite.
Hora da Estrela narra a vida de Macabéa, uma nordestina que se muda para o Rio de Janeiro em busca de uma vida melhor. Trabalhando como datilógrafa, sua existência é marcada pela simplicidade, pela falta de ambição e pela invisibilidade social. A história de Macabéa é contada com uma sensibilidade crua, destacando sua luta silenciosa e sua solidão profunda em meio à metrópole indiferente.
Suzana Amaral, ao adaptar A Hora da Estrela para o cinema, realiza um trabalho primoroso ao capturar a essência da narrativa de Clarice Lispector. A obra de Clarice, conhecida por sua introspecção e pelo mergulho profundo na alma dos personagens, encontra uma tradução visual que respeita e enriquece o texto original.
Ao meu ver, Suzana optou por uma direção que privilegia o ritmo lento e contemplativo, permitindo que o público absorva cada detalhe da vida de Macabéa. Essa escolha pode não agradar a todos, especialmente aos que preferem narrativas mais dinâmicas, mas é uma decisão que se alinha perfeitamente com o tom do livro de Lispector. Amaral não busca respostas fáceis ou finais felizes; ao contrário, o filme nos confronta com a dura realidade da vida da nossa protagonista, uma existência marcada pela luta constante e pela falta de esperança.
Para mim, o ponto alto do filme é, sem dúvida, a interpretação de Marcélia Cartaxo como Macabéa. Sua performance é comovente e autêntica, conseguindo transmitir a ingenuidade, a tristeza e a resiliência da personagem. Cartaxo não apenas interpreta Macabéa, mas parece encarnar sua essência, dando vida a uma personagem que é, ao mesmo tempo, simples e complexa.
A adaptação de A Hora da Estrela por Suzana Amaral é um tributo fiel e respeitoso à obra de Clarice Lispector. Com uma direção sensível, uma interpretação brilhante de Marcélia Cartaxo e uma estética cuidadosamente elaborada, o filme consegue capturar a essência da história original, oferecendo ao público uma experiência cinematográfica rica e emocionalmente impactante. É uma obra que merece ser vista e revisitada, não apenas pelos fãs de Lispector, mas por todos que apreciam o cinema como forma de arte e reflexão.
Ariane é graduanda em Letras, habilitação Português, na Universidade Federal do Piauí, e geralmente anda com um copo de café na mão.
Indica livros na internet, dos contemporâneos aos clássicos, desde 2020.