5 Poemas de Fernanda de Almeida Nóbrega

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Fernanda de Almeida Nóbrega, graduada em Letras pelo IFPB, Especializada em Estudos Linguísticos e Literários. Também graduada em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda. Natural da cidade de Pombal, sertão da PB. Poetisa desde a infância. Diagnosticada aos 27 anos com TAB, Transtorno Afetivo Bipolar, passa a dedicar seus versos à expressar os sentimentos e sensações do indivíduo com transtorno de humor. Um grupo silencioso para o mundo, mas inundado por uma intensidade que só encontra vazão na arte.


***

Forjados no fogo
Os não filhos da terra
São filhos do sol
Quem não nasce peça
Nunca vai se encaixar
Enigmas da esfinge
Decifra-me ou vou te devorar
Em uma linha tênue
seguimos a andar
Do Olimpo ao Limbo
Roda viva
Que o caos faz girar
Coração ardente
Alma fugaz
Quem pode resistir
ao seu tortuoso amar?
“Labareda e labirinto”
Tudo consome em um piscar
E embora tudo derrubes a noite
Recosntrói em um novo raiar
Pois “sois sóis”
E assim como teu pai
Podes mil vezes mil se reinventar


***

Nebuloso e imponente
Como és majestoso em sua plenitude
Da minha pequenice o observo
Boquiaberta, maravilhada
Onde começa? Onde acaba?
Empresta-me sua inconstância suprema!?
Seu aval para seres o que és
sem que haja contestação
Não importa o que vistas
Se cinza opaco ou azul celeste
Estando sombrio ou alegórico
nunca és hostilizado
Pois tu já eras tu, antes de tudo ter sido
E não há o que contigo possa ser comparativo
Quem me dera poder
abrir da minh’alma todas as janelas
E encontrar nos olhos de outrem
o mesmo espanto virtuoso
que me sobrepõe ao mirar-te oras a fio.


***

Tenho um peito que incendeia
Uma alma em constante ebulição
um rio enfurecido corre em minha veia
em um curso sem direção
o meu rio dois vales permeia
hora vale da luz que encandeia
hora vale da escuridão
A este mundo já cheguei marcada
pelo tudo e pelo nada
Vezes canto de sereia
Vezes choro de escravidão
Engolindo todos os dias
doses bruscas de repressão
Pois meu sentir não cabe em medida
Euforia e melancolia
Oscilando em total transfiguração
No espelho, a moça que habita
é um qualquer alguém, desconhecida
eu escrevo para não falar
não ouvir a voz que desconheço
aqui fora tudo é organizado avesso
do que tenho lá dentro em turbilhão.


***

Janelas de minh’alma
Porque nunca se calam?
Denunciam abertamente
Meus “medos e coragens absurdas”
Porque essa profunidade não é muda
E vive sempre a berrar?
Nem ciganos nem felinos
Como ousaram comparar
Apenas pequeninos
Eternamente mancebos
Que não aprenderam a secretamente amar
Como rege a cartilha dos desapegados
Nunca se desviam daquilo que desejam
Procuram o primeiro ensejo
para se jogarem em tudo que é a vós proibido
Não fossem vós grudados comigo
Botaria-os de castigo
Como à crianças medievais
Mas comungo dessa teimosa
Que moral teria para repreendê-los?
De certo levantariam e correriam
Para qualquer lugar onde não pudesse controlá-los
Rindo, deixando-me em frangalhos
E é mesmo isto que tens sempre feito
Corrido à minha frente
onde as vezes não posso ir.


***

Sou chama que arde em pleno ártico
Nada me perpassa sem ser tocado
Nunca no meio, sempre nos extremos
Meu coração, Mauna Loa
Minha mente, Kingda ka
Meu destino sentinelense
Traça os caminhos para eu andar
Do Evereste ao poço Kola,
tudo é meu lugar
Eu não tenho asas
Mas bem sei como voar
Quem é esta que vejo no espelho?
De quem é a voz que me ouço falar?
Em constante tempestade
Minha poesia
não precisa de métrica para rimar
Pois tudo que eu ousar falar
Sempre terminará
rimando com intensidade.

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