ma njanu é macumbeira, antipoeta, não-artista visual, kuírlombista y valente na tempesta-de (1991). Nasceu em Fortaleza-CE. Publicou a zine na boca do dragão da américa latina (2020), de forma independente e também Cantos Breves (2015); participa de antologias, zines e outras publicações. Integra a Pretarau – Sarau das Pretas, coletiva de artistas negras, a qual também é produtora cultural; e faz parte da Rede de Mulheres Negras do Ceará – RMNC. Atualmente traba-lha na sua primeira publicação de poesia erótica “Olho de tigre com fome: considerações sobre a literatura perversa”, que está em campanha de financiamento coletivo e será lançada ainda este ano.
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quando nunes valente não está em Luanda
já é dezembro
os prédios
/cimento/
e as coisas
tão mais felizes
que nós
– apartados
do mar.
marcha fúnebre
p. serena
carregar o corpo do bicho
pela jovita feitosa
faz ver que não
doi assim a ida
djavan toca.
depois a morte dos seringalistas
uma sumaúma cai –
não,
é uma árvore
derrubada
[o vento nunca sopra contra a vida]
para resistirem os rituais
é preciso queimar a bíblia
e de cada pena do gavião
uma cria nova sairá
yawanawá
do cesto da barriga.
O balanço da rede quando interrompido
três décadas é a
duração do
cansaço
um dia, comendo
uma semente redonda
fruto da colheita,
veio roubar outro
tipo de oxigênio,
necessário ao urro
dos leões quando
querem amedrontar
as capivaras
neste instante, as
crianças não
almoçaram
e a resignação por
aguardar a manhã
seguinte teve algo
de alívio
embora na fome as
horas sejam
intermináveis.
antipoema
é preciso rasurar o cânone
distorcer as regras
as rimas
as métricas
o padrão
a norma que prende a língua
os milionários que se beneficiam do nosso silêncio
do medo de se dizer poeta,
só assim será livre a palavra.
nota: estes poemas foram originalmente publicados na zine na boca do dragão da américa latina (2020).