Diálogos com Izabel Cruz Melo: cinema, história e outras mumunhas mais.

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Por Aristides Oliveira

Izabel é Doutora em Meios e Processos Audiovisuais (ECA/USP) Professora da UNEB (Colegiado de História – DCH I), pesquisadora associada da Filmografia Baiana, integrante dos Grupos de Pesquisa “História e Audiovisual: circularidades e formas de comunicação” (ECA/USP) e “Cinema, História e Educação: teoria e mediação pedagógica” (UNEB).  Autora do livro “Cinema é mais que filme”: uma história das Jornadas de Cinema da Bahia (1972-1978), (BA, EDUNEB, 2016), além de outras publicações em livros e revistas. Também colabora com festivais, participando de curadorias e júri. Têm interesses de pesquisa vinculados à história e historiografia do cinema, sociabilidades, cineclubismo, festivais de cinema e formação.

Professora universitária. Negra. O que esses lugares significam no Brasil que ainda insiste em viver na Casa Grande?

Eu faço parte de uma família de professores, nela sou da terceira ou quarta geração que vai pra universidade. Isso significa que meus avós, meus pais, tios e primos mais velhos passaram pela universidade, assim como eu, meus irmãos e primos, tanto os mais velhos que eu, quanto os mais novos. E todos nós sabemos que fazemos parte de uma exceção que confirma a regra. Na minha trajetória, a escola e a universidade, com tudo que esses espaços representam, sempre foram normais, no sentido de possíveis, faziam parte do meu horizonte cotidiano. E como estamos em tempos em que é preciso reafirmar o óbvio como, disse Brecht – isso não significa que alguém está autorizado a me transformar em token pra dizer que não existe racismo, que as ações afirmativas são desnecessárias ou qualquer cretinice do tipo. 

Como sempre gostei de estudar, resolvi seguir a carreira acadêmica. Brinco com meus pais dizendo que eu entrei na escola no Maternal e nunca mais saí. Graduação, especialização, mestrado, concurso para universidade pública, doutorado.  Na graduação em História tive muitos colegas negros, como eu, entretanto ao chegar nos espaços da pós-graduação, essa presença negra foi se tornando cada vez mais rarefeita até chegar ao doutorado, em que na minha turma eu era a única e no grupo de pesquisa éramos duas mulheres negras.

 O que isso significa? Que as condições socioeconômicas da maior parte da população negra desse país, que curiosamente (contém ironia), também é a maior parte da população brasileira, dificultam, para não dizer que impossibilitam que as pessoas negras deem prosseguimento aos seus estudos e formação. Essa sobreposição não é casual, ela é fruto das desigualdades que fundaram esse país a partir da empresa colonial com o extermínio dos povos originários e escravização de povos trazidos de modo forçado do continente africano, e que continuam se atualizando de formas variadas e violentas como podemos ver/viver nesse 2020.   

Contudo, apesar de um esforço sistemático racista de apagamento não só no sentido físico, mas também de narrativa, expressão e de controle da representação, as pessoas negras existem, vivem, trabalham, amam, e é por isso que eu estou aqui e ainda assim me levanto todos os dias, como disse Maya Angelou. Me levanto todos os dias, porque pensando no que propõe a pergunta, a universidade que é que escolhi como meu campo de atuação profissional, com ensino, pesquisa e extensão. Eu gosto do que faço. Gosto de pesquisar, de preparar e ministrar as aulas, organizar cursos. Gosto de encontrar os estudantes e dialogar com eles e com os meus colegas.

 Já me emocionei várias vezes ao escutar, principalmente das alunas, o quanto pra elas significa ter uma professora preta na sala de aula. Como a minha presença, assim como a de muitas e muitos outros colegas pretos, significa sinalizar possibilidades para aqueles estudantes também pretos, num espaço que apesar do avanço que são as políticas de ações afirmativas, ainda é tão embranquecido física e epistemologicamente, e que ainda se surpreende com corpos como o meu sendo docentes. O que faz com que o simples fato de existir e ocupar lugar na universidade seja um desafio constante a essa lógica colonial que você nomeou de “casa grande”.

III Jornada em Estudos do Cinema Brasileiro
Foto: Arquivo Pessoal

Quando foi o teu start para o cinema?

É curioso pensar sobre isso. Há uns anos atrás eu daria uma resposta mais objetiva, pensando diretamente na pesquisa. Hoje sinto/entendo como um processo que foi acontecendo aos poucos, como vários rios menores vão desaguando em outros maiores, até chegar no mar. Explico: um dia, entrevistando um cineasta para pesquisa, na época do mestrado, uma fala dele, despertou em mim lembranças de infância… meu avô materno ia nos visitar todos os sábados e levava o jornal, e me dava o encarte de cultura, e líamos juntos. Ali pela primeira vez li e ouvi falar de Walter da Silveira, Glauber, Roberto Pires… e de alguma forma isso ficou adormecido.  Depois, no ensino médio, estudei no CEFET-BA e no primeiro ano tínhamos aulas de artes – cinema, música, teatro, artes visuais e dança. No segundo ano, montamos (era um trabalho de equipe) um videoclipe para discutir globalização, nas aulas de Geografia, a partir da música Pela Internet, de Gil. Nesse período da adolescência, quando comecei a pegar ônibus sozinha, ir ao banco para mainha, descobri a Biblioteca Central do Estado e com ela as salas Alexandre Robatto e Walter da Silveira.  Passava tardes inteiras, lendo e assistindo filmes, muitos dos quais só vim saber a importância depois, como Meteorango Kid, Caveira my friend, Amacord… era um interesse intenso, mas desordenado e solitário, na época os meus amigos não se interessavam por aquela programação e sala de cinema fora dos shoppings. Assim, não era e continuo não me considerando cinéfila, embora a cinefilia me interesse como objeto de pesquisa.

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 Por fim, na graduação, lá nos idos de 2003, 2004, um colega que sabia que eu gostava de cinema, me chamou para trabalhar em uma pesquisa sobre o aniversário de 30 anos da Jornada de Cinema da Bahia, e ai sim, finalmente o rio estava desaguando no mar, mas eu ainda não havia percebido.  Em virtude dessa pesquisa, conheci Guido Araújo e Luís Orlando da Silva e ai um mundo completamente novo se descortinou pra mim e mudou totalmente meus interesses de leitura e pesquisa como uma então estudante do curso de História. Conversando com eles e lidando com a documentação, me encantei pelas coisas que iam aparecendo ali.

Em geral, as pessoas falam das suas pesquisas de uma forma muito pragmática, realçando a parte racional do negócio, que necessariamente existe e deve existir, senão não é investigação, não é trabalho acadêmico. Só que meu processo foi esse mesmo. Eu me apaixonei pelo universo que encontrei ali na documentação escrita, cartazes, filmes, entrevistas… e por conta disso fui atrás de transformar aquele encanto que eu senti e sinto por esse mistério-miragem que é o cinema, em objeto historiográfico e numa pesquisa que está presente na minha vida desde então. Por conta desse processo, que agora consigo olhar e relacionar retrospectivamente, não consigo pensar em um ponto de virada imediato e total, mas como uma confluência de circunstâncias, situações e pessoas que ativaram uma sensibilidade possível para que eu imergisse no campo.

Estamos numa fase que a arte é tratada com descaso pelo bolsonarismo. Bacurau tornou-se uma espécie de referência para nós na conjuntura do Brazil Inverso. Como você pensa a importância do cinema brasileiro para viver em dias nebulosos?

Eu assisti Bacurau em São Paulo, e foi uma experiência bastante curiosa/interessante. Fui ao  Cinesesc, que é uma das salas de cinema de rua que faz parte do circuito dos festivais e do que algumas pessoas ainda chamam de “filme de arte”, ou seja, faz parte de uma sociabilidade muito ligada ao campo cinematográfico, pensando aqui em cinéfilos, cineclubistas, realizadores… Nesse dia, fui com um amigo e ficamos observando a reação das pessoas no fim da sessão. Houve gente aplaudindo, houve gente reclamando da violência tida como sem sentido do filme, pessoas que acharam simplesmente ok.  

Desde aquele momento me chamou atenção como o filme dialoga fortemente com nossos anseios e questões contemporâneas, e estou pensando menos nas questões formais e mais no contexto geral da vida brasileira e ao mesmo tempo também conversa e evoca uma história do cinema brasileiro, repleta de memórias tanto sobre si mesmo, quanto sobre a história das lutas ou pelo menos daquilo que se entendia, desejava ou se projetava que eram as lutas do povo brasileiro. 

De alguma forma é esquisito falar usando essas palavras “lutas”, “povo”, “brasileiro”, porque todas elas me parecem soar gastas e com tantas camadas de sentido e significado que parecem mais embaçar, borrar, do que explicar qualquer coisa.  Mas não consigo usar outras, porque elas estão evocadas tanto no Bacurau, quanto na sua pergunta, que tá atravessada por esse delírio “patriótico” que estamos vivendo, Ari.

Muitas vezes a gente pode medir a importância de alguma coisa, pelo tempo e força empregada contra ela, o que no nosso contexto significa que o cinema brasileiro, que é um cinema múltiplo, diverso e potente, não só é importante, como é essencial.  E aqui, quero chamar atenção que ao falar de cinema, estamos falando dos filmes, mas não só. Existe uma cadeia imensa, que na economia da cultura se chama de cadeia produtiva do audiovisual, e que pensa como o cinema e o audiovisual geram empregos de diversos tipos,  roteiristas, motoristas, diretores, produtores, maquiadores, montadores, cinegrafistas, atores, fotógrafos, etc… Mas sublinho que existe toda um circuito que existe para além ou em paralelo com os filmes, e ai entram os pesquisadores, professores, conservadores, restauradores, programadores, críticos, estudantes, cineclubistas que são responsáveis por lidar, gerir, gestar a memória e a história do cinema brasileiro, que é fundamental para que a gente enquanto sociedade entenda e reconheça seus próprios processos e organizações culturais.  

O cinema faz parte da história do Brasil, e a história é sempre um território sob disputa, ao contrário do que estamos acostumados a pensar cotidianamente. Não à toa que vemos hoje grassar toda sorte de negacionismos e revisionismos. Estamos todos acompanhando o que está acontecendo com a Cinemateca Brasileira e para mim, é inevitável pensar em Walter Benjamin e na Tese VI, quando ele observa que os mortos, o passado não está à salvo se o presente também não estiver. E isso não se trata de messianismo, temos presenciado uma série de ataques a cultura, educação, ciência em diversos âmbitos, e isso é grave, muito sério e tem causado atrasos e perdas, muitas irreparáveis. Mas quero acreditar que assim como de muitas outras formas e vezes, houve resistência, invenção e criatividade, dessa vez também haverá e já existe.  

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Contudo, como as relações sociais, políticas e culturais não obedecem as leis da física, assim, nem sempre a resposta que a sociedade civil pode dar atua com a mesma proporção e intensidade dos ataques sofridos, mas ela sempre existe. E é justamente por isso que o cinema segue, assim como as outras artes, e as ciências sendo essencial, crítico e fundamental. Eles formam o curso d’água que vai nos guiar para fora desse labirinto, porque ninguém para a água. Ela pinga, encharca, contorna… e chega onde pretende.

As pesquisas que você tem acesso na graduação/pós tratam o objeto fílmico dentro das suas expectativas ou ainda estamos longe disso por aqui?

Essa é uma pergunta difícil. O campo de estudos sobre cinema e audiovisual tem crescido bastante e honestamente não dá para acompanhar completamente tudo que está acontecendo. No meu caso, minha pesquisa fala menos dos filmes e mais de uma noção de cinema que implica nos processos de formação ligados aos festivais e cineclubismo, por exemplo. Entretanto, participando de bancas, reuniões dos grupos de pesquisa, seminários, tenho visto muitas pesquisas bacanas.

A questão é que o objeto fílmico ou audiovisual é multi, inter, transdisciplinar… Assim é possível encontrar trabalhos em Cinema, História, Letras, Comunicação, Educação, Economia, Psicologia, Sociologia, Antropologia, Arquitetura e para minha surpresa vi trabalhos em Educação Física e Enfermagem também. O que significa que o filme pode ser apropriado, pensado, discutido de maneiras muito diferentes entre si. Algumas pesquisas vão pensar na dimensão do ensino, tanto exibindo filmes na sala de aula, quanto criando filmes com os estudantes, outras na dimensão de memória social e registro de práticas culturais, sociais, urbanísticas. Algumas na dimensão estética, de análise formal, outras no filme como fonte e documento para pesquisa, entre muitas possibilidades, o que significa que eu não tenho como responder essa pergunta (risos).

Fala um pouco das suas últimas experiências em eventos dedicados ao cinema. O que você colheu de interessante nas vivências e trocas com pesquisadores (as) e o que somou no teu repertório de leituras sobre a linguagem?

Tem acontecido um movimento que para mim era completamente inesperado, mas que tem sido muito bacana: além da dimensão dos eventos acadêmicos – seminários, cursos, palestras, encontros, bancas, participação em livros e revistas, tenho também nos últimos anos escrito textos para catálogos, participado de debates, júris, curadorias e organização de festivais e mostras.  São duas dimensões complementares desse universo e que me dão a oportunidade de pensar os muitos caminhos possíveis pra lidar com o cinema como objeto de pesquisa e afeto.  Nestas duas ambiências tenho contato com pesquisadoras(es), cineastas, críticas (os), curadoras(es), produtoras(es)… Pessoas de muitos estados, cidades, países, gerações e perspectivas diferentes, e isso é muito enriquecedor.  São espaços de trocas muito bacanas (o que não significa que são sempre édens pacíficos, claro que existem discordâncias e tensões), nos quais tenho contato com bibliografias, filmografias, debates que ampliam minha perspectiva e que vão se misturando. 

Tem elementos da minha formação acadêmica que me auxiliam nessa dimensão de atuação, que é recente, quanto essas novas aprendizagens tem renovado muito minha maneira de pensar como historiadora do cinema. As experiências de curadoria e júri, tanto me proporcionam a possibilidade de assistir uma quantidade e diversidade de filmes que normalmente o acesso seria mais difícil, quanto me ensinam a pensar/sentir/perceber os filmes de outra maneira, o que aumenta meu repertório pessoal e também profissional, me dando novos caminhos e possibilidades para pesquisa.  Assim como minha experiência como pesquisadora e professora também me auxilia bastante a pensar nos processos de formação e a desenvolver ferramentas e metodologias para lidar com questões que se interpõem na realização do trabalho.

 E nas duas atuações tenho a oportunidade de reencontrar pessoas queridas e conhecer gente nova, que fazem parte do campo e da interlocução, que muitas vezes é proveitosa por aprofundar as trocas com quem também está nesse trânsito. No fim das contas, minha relação com o cinema vai assumindo e ativando facetas diferentes, o que é muito provocador, às vezes tenso, mas sempre divertido.

Refletir sobre o cinema baiano sem ler seu livro “Cinema é mais que filme”: uma história das Jornadas de Cinema da Bahia (1972-1978) (EDUNEB, 2016) é passar batido. Que análise você faz dos circuitos daqueles tempos com a produção audiovisual do teu Estado levando em conta os últimos dez anos? Que permanências e rupturas podemos observar no contexto de produção e circulação de filmes por aí?

Uau! Obrigada por essa menção tão generosa. Essa pergunta daria um artigo, ou uma pesquisa nova, porque você cria nela uma oportunidade de pensar de forma comparada, o que eu considero desafiador, pensando como metodologia mesmo, mas vou tentar responder de uma forma mais sucinta. Tomara que eu consiga.

 O recorte temporal da pesquisa que origina a dissertação e o livro, está imerso na ditadura, e isso cria uma situação de uma série de restrições e dificuldades na circulação dos filmes, outras obras de arte, livros e informações de modo geral. A Jornada, no caso de Salvador em particular, mas numa articulação que se estabelece nacional e que depois se expande como latino-americana, e até mesmo lusófona, foi importante como um espaço que possibilitou a exibição de filmes e realização de debates importantes, não só do ponto de vista estético, mas também político do cinema brasileiro, por exemplo a ABD (Associação Brasileira de Documentaristas), foi fundada na Jornada de 1973.

Foto: Lissandra Pedreira.

No que diz respeito ao cinema feito na Bahia, a Jornada foi uma janela de exibição importante tanto para os documentaristas do 16 mm, já profissionais, quanto para os jovens, que iniciavam principal, mas não exclusivamente com o Super-8.  Ela fazia, junto com o Clube de Cinema da Bahia e o Grupo Experimental de Cinema (aqui eu já deslizo para questões que trato na tese), uma triangulação que permitiu a formação de algumas gerações de e público interessado, críticos e cineastas, e que inclusive, alguns continuam atuantes. 

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Fazendo esse pulo para os anos 2010-2020, dá para perceber com o golpe de 2016 a retração do campo cinematográfico de forma geral. Se na primeira década dos anos 2000, houve um momento de expansão e crescimento, pelo entendimento do governo federal no período da importância e necessidade da cultura, fortalecendo e criando novos mecanismos de descentralização e investimento no campo cinematográfico, o que proporcionou o aumento de editais, e com isso novos filmes, novos realizadores, festivais, mostras e etc, agora a situação é grave e preocupante.

Há como permanência, e vejo isso não só aqui, mas no cinema brasileiro de forma geral, uma vinculação muito forte aos mecanismos de financiamento público, o que tem a ver com as dificuldades e travas históricas de sermos um cinema sem espaço nas suas próprias salas devido a uma série de questões como as de distribuição, e formação de público, por exemplo. Há também como continuidade, uma hegemonia masculina, branca e de classe média nos espaços, e como ruptura, o questionamento disso, com a produção fílmica e intelectual das mulheres e homens negros, LGTBQ+, pessoas do interior do estado e das periferias também, trazendo outras questões e narrativas, multiplicando as formas possíveis de fazer, pensar e assistir cinema.

Izabel participa da equipe que produziu o site Filmografia baiana.
Lá você encontra uma mapeamento profundo do cenário audiovisual do Estado.
Acesse: http://www.filmografiabaiana.com.br/

Quando a gente fala da representação dos negros e negras no audiovisual lembro Joel Zito Araújo e te pergunto: o que mudou? É possível avaliar que os personagens continuam nas margens da tela ou já temos protagonismos a serem destacados?

As imagens e representações presentes no audiovisual são aquelas que estão também no imaginário social. As coisas não estão dissociadas, então se formos buscar nas mídias hegemônicas, teremos a sensação de que nada ou quase nada mudou mesmo. Aquelas questões trazidas por Joel Zito Araújo, seguem, porque o racismo segue se atualizando na sociedade brasileira, e o capitalismo, usando da sua forma plástica e flexível segue também se apropriando de pautas, questões dos movimentos sociais de forma geral e com as questões ligadas a negritude e relações raciais não é diferente.  

Assim, hoje é bastante comum encontrarmos os termos “diversidade”, “antirracismo” e correlatos nos programas de tv, propagandas, redes sociais, etc, mas de fato, onde estão as roteiristas, diretora(es), produtoras(es) negros? Como é possível criar outras imagens para as atrizes e atores negros se as salas de roteiros continuam majoritariamente brancas?

 Sobre este tema, tenho me interessado mais em pensar nas cineastas, pesquisadoras (es), nas curadoras(es), que tem nos proposto outras imagens possíveis, outras perspectivas de negritude que não se resumem aos estereótipos desumanizantes e violentos aos quais socialmente estamos acostumados e que tem implicações graves em relação a vida concreta das populações negras. Poderia citar aqui rapidamente as/os cineastas Everlane Moraes, Larissa Fulana de Tal, Ana Pi, Grace Passô, Safira Moreira, Renata Martins, Thamires Vieira, Luciana Oliveira, Viviane Ferreira, Marise Urbano, Diego Paulino, Leon Reis, Déo Cardoso, Tais Amordivino, Ulisses Ultra, Clementino Júnior, Íris de Oliveira; as pesquisadoras (es) e/ou curadoras(es) Tatiana Carvalho Costa, Fabio Rodrigues Filho, Kenia Freitas, Janaína Oliveira, Rayanne Layssa, Naymare Azevedo, Flavio Rocha, Heitor Augusto (já participou da Acrobata nº 7 com o ensaio Blaxplotation: um cinema de revolta), Lecco França, Mariana Queen, Daiane Rosário e com certeza falta bastante gente. São pessoas as quais devemos nos atentar para as produções, porque trazem a multiplicidade e o poder de outras imagens e formas de pensar o ser negra/o nesse mundo.

3 super off – Festival Internacional de cinema super-8 de São Paulo.
Local: Centro Cultural São Paulo.

Indica uns filmes pra gente. Por que eles te atravessam?

Pequenas margaridas (1966) – Vera Chytilová

La noire de (1966) – Osmane Sembène

Monangambee (1968) – Sarah Maldoror

Céu sobre água (1978) – José Agrippino de Paula

O mágico e o delegado (1984) – Fernando Cony Campos

Superoutro (1989) – Edgard Navarro

Close up (1990) – Abbas Kiarostami

Amor à flor da pele (2000) –  Wong Kar Wai

Nove musas (2011) – Jonh Akomfrah

Cemitério do esplendor (2015) –  Apichapong Weerasethakul

Noir blue: deslocamentos de uma dança (2017) – Ana Pi

Tudo que é apertado rasga (2019) – Fábio Rodrigues Filho

Vermelha (2019) – Getúlio Ribeiro

Como você pode ver é uma lista completamente aleatória e que o único critério foi o meu amor e interesse, além da força que eles têm em minha memória, porque foram os primeiros que apareceram… A organização que fiz foi coloca-los em ordem cronológica. Eles foram assistidos em momentos muito diferentes da minha vida e falar de cada um deles em particular talvez desse mais 7 páginas de entrevista (risos). Acho que basta dizer que eles me movem, me instigam, alguns pela estranheza, outros pela beleza, outros ainda pela provocação intelectual… alguns por tudo isso junto. Quase todos já assisti várias vezes e ainda assim continuam me convocando a continuar com eles. E é isso.

Para conhecer o trabalho da Izabel, clica aí!

E aqui também!

A tese dela está disponível!

Cinema, circuitos culturais e espaços formativos: novas sociabilidades e ambiência na Bahia (1968-1978) .

Link para acesso:

https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27161/tde-17072018-154239/pt-br.php

Foto da imagem de abertura: Mariana Ser.

2 comentários em “Diálogos com Izabel Cruz Melo: cinema, história e outras mumunhas mais.”

  1. Que ganho conhecer a trajetória de Izabel. Que riqueza de trabalho e paixão pela história e cinema. Parabéns professora pela excelente entrevista e conhecimentos passados. Cheguei a você através do seu pai, um grande amigo que gosto e admiro muito. Abraços.

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