MARLON E OS BRANDOS LANÇAM PSICODRAMATRONIC

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O tempero essencial da Banda Marlon e Os Brandos traz uma fórmula pungente do rock and roll, com influência visível dos anos 80, pós-punk e o grunge, como o velho e bom feijão com arroz: certeiro e direto.

Cantar tem um sentido especialmente diferente para o cantor e compositor Marlon Rodner. Toda a força de sua voz ou qualquer sussurro parece transmitir com o mesmo ímpeto a música que corre em suas veias.

E para compor a lista de canções do disco, o artista usa músicas que acumulou por vários anos, fazendo um registro do melhor que produziu pelas bandas que passou e novas canções com vários parceiros que conheceu em tantos anos de estrada. Mas a principal parceria é com o Guitarrista Filipe de Sousa, ao longo desses 14 anos de banda.

Com rock correndo pelas veias, a Banda Marlon e Os Brandos lança um disco atemporal, mostrando a velha e certeira fórmula do rock n’ roll temperada com pegadas e influências atuais. Em suas letras a banda traz à tona questões existenciais ligadas ao EU e ao coletivo, ora com pitadas de sarcasmo, ora com críticas sociais, mas sempre com uma ideia de resiliência em relação ao tipo de sociedade consumista e efêmera em que vivemos, o que, decerto, conseguiremos notar no disco PsicoDramaTronic.

A Banda Marlon e Os Brandos lança o disco PsicoDramaTronic nos principais streamings de música hoje e você confere um bate papo com Aristides Oliveira.

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Fala sobre o conceito da capa. Como foi esse processo de criação visual que gerou o “Psicodramatronic”?

Se a gente pegar o conceito de criação visual, pegamos pelo nome do disco mesmo. A ideia remete, a questão da letra é uma crítica social, tem aquela coisa de falar a verdade por meio de sarcasmo, de certo modo, remetendo aquela ideia de que as pessoas têm do que é ruim, não acontece com elas, o que está ruim não está próximo a elas, o ruim está ali só para o outro. Você nunca vai passar por aquilo ali.

A concepção da música em si, criação e conceito visual é de que as pessoas sempre estão alheias as mazelas da sociedade, mazelas mundiais, sendo questão de crise financeira, sócio-política, econômica, saúde e que você pensa que aquilo só está ali para o outro, que nunca vai acontecer com você.

A história do “Psicodramatronic” é isso. A relação que você tem com o psicodrama, pois você vê por meio das mídias eletrônicas, das redes sociais… Você se colocando muito distante, não se envolvendo dentro do que está acontecendo. A partir desse conceito, convidei o Sanatiel Costa, que é um puta artista plástico de Teresina e passei essa ideia pra ele e me apresentou várias propostas e a gente chegou na “onda”, uma silhueta e a onda se propagando ali como se fosse uma onda de pensamento.

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Abrir sua mente para as coisas que são maiores que você.

Em quanto tempo o disco foi produzido? Que perrengues financeiros/produção você passou para chegar ao formato ideal?

A ideia de fazer esse disco é de 2011. A ideia era gravar ele ao vivo, inclusive a gente gravou todo ele, mas com o passar do tempo não conseguimos lançar na época. A ideia era ser um CD e DVD, mas a gente viu que era melhor fazer no estúdio com mais tranquilidade. Eu sempre tive essa preocupação de fazer de fazer a coisa bem feita.

A gente viu a necessidade de trabalhar mais o disco no amadurecimento musical. Marlon e os Brandos sempre teve uma troca muito grande de componentes, então vimos que o lance da pegada, da banda ir mudando com o tempo e a questão financeira fez que levássemos um bom tempo… Como tinha vontade de fazer um trabalho mais apurado e ganhamos um patrocínio do SIEC (SISTEMA DE INCENTIVO ESTADUAL À CULTURA), me inscrevi com o projeto. A primeira ideia de fazer o disco ao vivo foi em 2011, em 2017 fomos aprovados na lei da Secretaria de Cultura do Estado.

A partir desse momento a gente gravou o disco e agora lançamos nas plataformas. Eu acredito que o disco chegou onde estávamos pensando. Algumas músicas eu fiz há muito tempo atrás, tocando e amadurecendo ao longo dos anos. Marlon e o Brandos foi uma banda que tocou autoral e cover. A ideia era mesclar as duas coisas para atingir o público.

E as letras? Estavam guardadas há muito tempo ou são escritas recentes? Quais os elementos poéticos te inspiraram a pensar o universo do disco?

Os elementos poéticos estão em cima do Eu no mundo, na sociedade participando dessa loucura toda que é a vida. A ideia é a gente questionar, de certo modo o que estamos vivendo, tentar interpretar certas situações que a gente passa, tentar passar por cima dessas situações. As letras falam dessas mazelas que o ser humano passa, mas sempre com a ideia que você pode dar um passo a frente.

Eu acredito que nós temos as nossas limitações, às vezes vemos aquela coisa de “ah, você pode ser o que você quiser”, eu acho que não é desse jeito, pois temos nossas limitações. A gente não consegue ser tudo na vida, por isso que tem as variações na sociedade em relação às profissões, porque você não tem aquele poder de ser tudo, mas tem o poder ser aquilo de certo modo encaminhado, predestinado, que você tem um dom, empatia.

As letras passam por essas mazelas, dificuldades, mas com o conceito de resiliência, que você pode fazer alguma coisa para mudar, valer a pena.

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“Back to Therezina” é uma canção massa porque não cai no artifício clichê das pegadas regionalistas. Ao mesmo tempo em que situa o local, tem um aspecto urbano, pop, noturno. Marlon é “um mero espectador” de Teresina? Qual o mote gerador para essa relação que você constrói com a cidade?

Eu morei um tempo em Brasília e voltei e meu amigo Marcos estava morando em São Paulo e voltou também. Acho que em 1996 a gente se encontrou e daí começou o “Back to Therezina”. Sentamos num boteco que a gente costumava frequentar um pouco antes da gente ir para essas cidades e escrevemos. Saudade de Teresina, como era antigamente, fizemos em cima disso. Ela foge um pouco daquelas questões regionalistas musicais, mas ao mesmo tempo a letra tem a coisa da gente usar figuras de linguagem dentro dela.

Depois sentei com Paulo Utti, baixista e compositor de mão cheia e fez essa música. A gente tentou sair daquelas rimas mais tradicionais, corriqueiras sem ser um mero espectador. Fizemos parte da mudança da cultura da cidade e ajudou a influenciar na cultura de Teresina. 

A influência do Marlon e os Brandos é muito punk rock, pós-punk, que era o que a gente escutava mais no final da década de 80, que é uma vertente que eu fiz parte. Tinha influência do meu pai e familiares que escutava rock e me lembro das guitarradas do Pará.

Que influências você identifica como fundamentais para construção deste projeto? Como elas desenham a paisagem sonora do Marlon durante os primeiros acordes?

É uma influência dos anos 80 nacional, mas não de forma descarada, trazendo para uma coisa mais nova. Por mais que a gente tenha vivenciado aquele período com intensidade, a gente não para no tempo.

Que avaliação/retrospectiva você faz da sua carreira tomando o resultado do “Psicodramatronic”?

No começo você tem aquela coisa mais empolgada, pensa em fazer sucesso. Hoje, chegou um tempo que não pensei nisso. Depois que a gente vê como a coisa funciona mesmo, na realidade a gente para de pensar muito nisso e colocar os pés no chão. As coisas não são fáceis para ninguém.

Você tem que ter trabalho duro, árduo, tem que ter sorte, estar no lugar certo e eu nunca fui aquela pessoa do sucesso, mas de poder ser escutado. Acho que a grande questão do artista é que seja notado. No caso do músico, que as músicas dele rolem, que possam ser escutadas. Quando eu vejo a rapaziada falando para alguns artistas piauienses: “Pô cara, a tua música me fez um bem danando porque eu estava vivendo um momento interessante da minha vida e tua música ajudou a dar uma ideia boa. Tua música é a trilha sonora do meu relacionamento, casamento”. Essas coisas são massa!

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Isso é mais gratificante do que a história do “sucesso” em si. Porque isso aí não é sucesso, são relatos de coisas que você está realmente transmitindo para algumas pessoas, ou traduzindo o que algumas pessoas sentem, pensam, anseiam. Isso que é o mais bacana.

Eu lia muito a [revista] Bizz e numa entrevista do Renato Russo ele falou que o sucesso era muito chato, que ele não podia fazer porra nenhuma, nem curtir uma praia porque a galera rasgava a roupa deles. Deve ser um inferno. É legal porque as pessoas gostam do que você fez. Estou usando o exemplo do Renato porque isso acontece com vários outros.

Meu trabalho nunca foi pelo sucesso, mas por gostar de fazer música, cantar, do palco, de ver a rapaziada cantando junto, que você está fazendo bem as pessoas naquele momento. Participei de bandas que gravaram os primeiros discos em Teresina, como Asseclas, Acesso, onde tocamos para um público maravilhoso, que cantava junto. Tudo isso é fantástico!

Eu chego nesse novo disco com a serenidade, para que as pessoas possam curtir e que em algum momento essas músicas possam fazer parte do cotidiano delas.

Para ouvir o som:

PsicoDramaTronic – Marlon e Os Brandos (2020)

1. A Última

2. Back To Theresina

3. Coração Valente

4. Destino em Minhas Mãos

 5. De Vagar

6. Fantoches Malditos

 7. Teu Olhar

 8. Preso em Você

 9. PsicoDramaTronic

10. Rumo ao Infinito

11. Fissurado

12. Notívago

Ficha Técnica:

 As músicas do álbum – Psico Drama Tronic – foram compostas por Marlon Rodner, em parceria nas faixas: Back To Theresina com Marcos Nery e Paulo Utti, Coração Valente com Flávio Stambowsky, De Vagar com Filipe de Sousa, Fantoches Malditos com Filipe de Sousa e Ricardo Totte, Rumo ao Infinito com Filipe de Sousa, Fissurado com Alexandre Rabello, Notívago com Filipe de Sousa.

 Produzido por Mike Soares.

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Gravado, Mixado e Masterizado por Orange Studio, Teresina – Piauí, 2020.

 Fissurado e Notívago, gravadas ao vivo no Palácio da Música, Teresina – Piauí em 2011, por Orange Studio.

Vozes Gravadas por ZR Estúdio, Teresina – Piauí, exceto: Rumo ao Infinito, Fissurado e Notívago, gravadas por Orange Studio.

Direção Artística : Marlon Rodner | Direção Musical : Filipe de Sousa e Mike Soares | Arranjos : Filipe de Sousa e Mike Soares | Capa e Projeto gráfico : Saná Costa | Foto de Capa : Mauricio Pokemon.

 Marlon Rodner: voz e backing vocal, Filipe de Sousa : guitarra e violão, Luciano Reis : baixo, Vinicius Carvalho : bateria, exceto em Fissurado e Notívago, gravado por Otto Soares. Músico convidado : Alan Vieira – Teclados, exceto em De Vagar, Fantoches Malditos e Rumo ao Infinito. Participações especiais :  Mike Soares – guitarra em Back To Theresina e fantoches Malditos e backing vocal em PsicoDramaTronic. Giu Albano – backing vocal em Rumo ao Infinito.

O Álbum  PsicoDramaTronic da Banda Marlon e Os Brandos tem parceria de incentivo fiscal com o Siec / Secult-PI, e lançado pelo selo independente Solar 6 Voltz.

Crédito da foto de abertura: Rômulo Piauilino.

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