Vozes do Punk vol 1 – Entrevista com Eduardo Djow

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Vozes do Punk é um projeto que começou em julho de 2018 buscando valorizar a memória do cenário musical no Estado. Organizado por Aristides Oliveira e Eduardo Djow, a Revista Acrobata irá publicar uma série de entrevistas com artistas, pensadores e ativistas do gênero para esboçar um mapa do Punk piaiuense e produzir uma narrativa aberta, contribuindo com a história do rock nacional. Sim, temos punk e muita coisa para descobrir…

Boa leitura e divirtam-se.

Entrevista com Eduardo Djow realizada por Aristides Oliveira em junho de 2018.

Eduardo Djow ou Djow Punk (“os caras me chamam assim”) é um arquivista e agitador cultural. Desde quando era jovem, lá pelos finais dos anos oitenta, ele frequentava os primeiros shows de punk em Teresina. A paixão pelo som trouxe a vontade de guardar os cartazes de cada evento que participava, bem como recolher as poucas notícias de jornal vinculadas à cena. Djow é uma pessoa que  se dedica a preservar a memória do punk na cidade e atualmente possui um vasto material que amplia nosso olhar sobre esta sonoridade pouco explorada. Djow é rápido nas palavras, certeiro nas lembranças e hoje representa um dos poucos que mantém a chama do punk-rock acesa, organizando festivais e compartilhando informações com frequência nas redes sociais (@piauipunk).

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Aristides: Fala um pouco sobre como tu vê o cenário punk em Teresina.

Djow: O movimento punk, sem ser o movimento musical, que começou com a banda Grito Absurdo, Verminoise, Fimose… aí tinham essas bandas que eram punk, mas musicalmente, os caras ainda não tinham movimento… Tipo, 95 foi o tempo que chegou o GEA (Grupo de Estudos Anarquistas), que era o Fofão, um dos organizadores. Aí os caras começaram a ter atitude, tipo, fazer manifestação, andar de moicano, protestar, fazer zine…

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Com o GEA, os caras se reuniam, tipo intocado, pra policia não ver, os caras eram perseguidos né?! Teve uma época que eles saíram no Jornal da Globo, que eles invadiram a Vila Irmã Dulce. Eles ajudavam os moradores e eram muito amigos da população. Quando a polícia vinha, a população não deixava pegar os caras.

Nos anos 80 era só Metal em Teresina. Megahertz, Avalon, Demolidor, Cura Moderna, Scud e não tinha banda Punk. Aí quando foi em 88 chegou a primeira banda Grito Absurdo (Raudeflan, Negão, Júnior e tal). Os caras fizeram só dois shows ou três. Eles tocavam em show de Metal também. Quando o Grito Absurdo acabou chegou o Verminoise, de 89 para 90. Aí o Verminoise acabou sendo considerada a primeira banda Punk da época. Era Punk mesmo! Já o Grito Absurdo era Punk, mas tinha um lado para o Metal. Quando o Verminoise acabou, veio o Fimose. Fimose era uma banda meio Grind. Aí veio o Carniça e várias bandas que não eram consideradas “Punk”, pois eles tocavam junto com os caras do Metal ainda.

Aristides: Mas quando tu fala “não ser considerado Punk”. O que significa isso?

Djow: Eles tocavam músicas Grind. Só que alguns caras que eram diferentes do Metal eles se consideravam Punk. “Ah essa banda aqui é Punk, é Hardcore”, mas a banda era Grind, outros estilos, mas não era Punk. Eram considerados Punks pelo visual dos caras e eram muito louco por Punk na época. Os caras se achavam Punk, mas eu não achava. O Punk que eu considero mesmo veio com o Evidência, Ingovernáveis, Terra Podre, Dilúvio, que foi uma banda fez três shows ainda e aí começou o movimento, junto com o GEA, por volta de 95 a 99. Os caras tinham atitude de ir para passeatas e enfrentar a polícia e tudo! Grupo de resistência mesmo! O Dionísio, um cara do Evidência, ele tinha uma rádio chamada 1º de Maio, que ele colocavam umas músicas punk e as bandas iam ensaiar lá. A rádio ficava próximo ao [bar] Elis Regina, na rua David Caldas.

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Eduardo Djow e Aristides Oliveira com o vinil coletânea “Emergência” que tem a participação da banda anarcopunk piauiense Ingovernáveis

Aristides: O que vocês estavam ouvindo de fora? O que estava chegando? Como vocês tinham acesso ao material?

Djow: Naquela época, em termos de fita K7, os caras mandavam pra gente. O Léo Punk trazia a maioria das coisas… O Bernardo. Parece que a mãe do Léo Punk viajava até pra fora e trazia o material e ele ficava gravando pra gente. Eu ia na casa do Léo Punk só pra gravar fita. As primeiras fitas dos Ratos de Porão, que nunca tinha ouvido foi com ele. A gente ia lá gravar disco para fita e ficar ouvindo.

Aristides: Vocês distribuíam entre si?

Djow: Ficava passando. “Ah, eu tenho aquela fita tal”. Tinha uma galera especializada em fazer Fanzine. Rogério Deathtrash, Serginho Canibal e tinham outros nomes que não estou lembrando. Tinha o Fanzine Boca de Esgoto, que as artes eram do Braga (Fimose). Era o zine mais requisitado na época, todo mundo pirava quando saia o Boca de Esgoto. Tinha o Intestino Podre também, feitos aqui na cidade.

Aristides: Como era Teresina como espaço cultural para o Punk?

Djow: Show era difícil. Rolava no Teatro do Boi (bairro Matadouro). As coisas foram melhorando quando começou a ter show no Centro, no [bar] Elis Regina, lá foi o lugar que mais fui para show, era todo fim de semana. Haviam os jornais O Dia e Meio Norte, que falavam do Punk, além dos Fanzines. Káfila e Obtus são bandas que resistiram ao tempo. O RG-00 já é de 2002. Atualmente temos o Campo Minado, Resistência Libertária, por volta de 2005. A maioria dessas bandas de 2004/2005 pra cá são assim: elas param e voltam novamente.

Aristides: Como você vê o rock desse cenário ontem e hoje?

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Djow: A galera está mais separada hoje em dia. Antigamente tinha um show do Demolidor e ia todo mundo do Metal, Punk, do rock and roll, geral. Agora, está tendo um show do Anno Zero e os caras do Punk não vão, só a galera do Metal. Tudo dividido. Em todo canto tem banda de Metal. Todo bairro tem de três a quatro bandas! Dirceu tem umas 100 bandas! Mocambinho tem mais 100! No Centro tem mais 100! (risos) É muita banda e pouco espaço. Tem muito show em cima do outro aí o pessoal fica dividido.

Aristides: A carência de shows daquela época fazia com que todo mundo se juntasse…

Djow: Era!  Naquele tempo era um show por mês. Tinha vez que passava era 5 meses sem show! Quando tinha, todo mundo do rock ia. Rolava show também na Brisa Danceteria, a antiga Brilhos, que teve o Independência e Rock, no Cabos e Soldados, Clube do Flamengo, Centro de Artesanato, Trilhos, Templum Panteon… mas aí foi se fechando porque os caras quebravam as coisas! Bagunçava muito e foi se fechando. Ninguém aceitava mais. Tinham os caras que iam pra curtir e outros pra bagunçar. A gente fez um show no Cabos e Soldados e os caras quebraram o espelho. Aí o policial botou todo mundo pra correr com o revólver: “Pega suas coisas e vão embora seus vagabundos!” Hoje tem o Espaço DK para os Punks, Dama da Noite, Bueiro do Rock…

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