Vozes do Punk Vol. 17: Sid Blues e o punk rock nos anos 2000 em Teresina

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Sid Blues é um dos melhores guitarristas que temos em atividade. Domina o instrumento como poucos e quem ganha são nossos ouvidos. Tive a alegria de entrevistá-lo por aqui e pudemos conhecer melhor suas influências atuais no mundo da música. Hoje mora em São Paulo, mas nunca esqueceu suas raízes no punk rock 40 graus de Teresina. E é para isso que ele voltou à revista, para reviver fragmentos dessas memórias. Suas experiências nos ajudam a acessar momentos importantes na cena hardcore na capital de duas décadas atrás.

Crescido numa cidade sedimentada em seus costumes tradicionais, principalmente no que se diz respeito a música, escutei o que a rádio ou o momento passava ou mesmo o que o entorno e pessoas as quais convivia me mostravam, o que quase em sua totalidade não tinha nada a ver com rock, mas o meu primeiro contato com o gênero vem da minha infância com bandas e artistas como Raul Seixas, Mamonas Assassinas e Legião Urbana estando entre as principais, por serem as mais radiofônicas até então para um menino vivendo nos anos 90, mas o que viria a ser meu primeiro real contato com o rock, o qual desde moleque já havia plantado a semente e o interesse viria a ser fomentado na 6ª série do ensino fundamental.

Nesse período, quando fui reprovado no colégio por birra de não gostar mais de lá e meus pais me colocaram em outra escola, nos anos 90 havia escutado Nirvana de um vizinho que havia me mostrado e comentou que o cantor havia morrido.

Muitos anos depois viria a montar este quebra-cabeça, porém isso começou a se materializar com os lugares e pessoas que agora passaram a ser novos amigos. Fui estudar no centro da cidade, da árida e cíclica Tristeresina.

No colégio fui apresentado aos sons do Nirvana formalmente, Red Hot, dentre outras bandas legais que rodeavam. No colégio Sinopse – acredito que 2002 – já tendo conhecido várias pessoas e visto como funcionava as dinâmicas no Centro, festas, descoberto bandas da cidade, na época, existiam coisas específicas que várias pessoas se interessavam.

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Tinha a loja Moral, onde o pessoal se encontrava para comprar camisas, adereços de bandas, etc. As praças foram abrigos de muitos encontros, onde acabei por conhecer bastante gente e músicos, inclusive ficar amigo dessa gente.

Nesse colégio e ano especificamente, conheci o amigo que sentava ao lado chamado Neto (Joaquin) e costumava levar o violão para tocar os clássicos que falei a princípio. Ele tinha o mesmo gosto por Nirvana que eu e sempre que levava o violão, além de ser um ótimo baixista e o primeiro cara o qual eu tive banda na minha vida, perguntara se eu gostaria de aprender.

Eu achava que não teria capacidade, mas logo ele me ensinou a tocar umas notinhas. Isso foi o pontapé para começar a tocar, e meu irmão tinha os mesmos gostos que eu, então passamos a tocar juntos com esse amigo e outra pessoa que havia montado um estúdio no meu bairro. Tocávamos a princípio coisas mais ligadas ao grunge, mas daí veio o meu interesse por punk, pois eu sempre fui um curioso nato, coisa de escorpiano.

Fui destrinchar as influências das bandas que era fã e nessa brincadeira conheci o Sex Pistols, Ramones, Black Flag, dentre uma imensidão de outras bandas legais. Isso abriu um horizonte jamais imaginado, pois vi ali de onde vinha a atitude, a sujeira, a “malvadeza”, a coisa de fugir da regra que eu sempre odiara, de seguir tudo bonito e perfeito no modelo hipócrita dos costumes da sociedade.

Comecei a ir em algumas festas, lembro desse início tocar em alguns eventos como Saci Underground que ocorreram duas edições. A primeira veio com a banda de punk RG 00. Adorava os desenhos das suas insígnias, a caveira com punk. Nesta época todos os meus amigos começamos a produzir fanzines, nos encontrar para tomar vinho e cachaça barata. Era uma forma de socializar e comentar sobre as coisas e músicas naquele momento. Nessa festa veio outras bandas de punk, como o Sem Pátria de Demerval Lobão, e a partir daí conheci também os Mocorongos, com o Eduardo Pipoca, o Fofão, Ravel, e logo em seguida me veio ser apresentado o primeiro registro que me impressionou pela visceralidade da voz grotesca e gritos de ódio sobre o mundo, a banda Anarcóticos.

Saci Underground – dezembro 2003

Achei o máximo a voz do Dante, isso me lembra algo engraçado de como Teresina todo mundo acaba se conhecendo. Tinha amigos que conhecia esse pessoal, até então naquele momento eu havia montado o Escoliose, com Thiago meu irmão, e tocamos na primeira formação com o Cainã. Ele não ficou por muito tempo na banda. Nessa época na Universidade Federal do Piauí, tinha a banda os Cara di Rato, que tendia para essa selvageria também, onde conheci o João Cabelão.

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Daí ele se juntou a mim e meu irmão e demos andamento a podrera. O Escoliose veio de quando as bandas que toquei como Damagers, e várias outras não deram certo, e a primeira influência sobre ser autoral e essa perspectiva, foram essas bandas aí somadas a outras coisas que vinha escutando.

Neste caminho, tinha descoberto a banda a qual foi o pilar para mim montar o Escoliose: Obtus. Eu lembro quando gravei a demo, queria cantar como o Chakal. As primeiras vezes que vi o Obtus foi no recém inaugurado Bueiro do rock, e no palco do tradicional projeto Boca da Noite. O Bueiro foi a casa a qual conhecia Driênio e Dieudes, que também tinha banda de punk/hc Apple Juice.

Todos estudávamos na UFPI, posteriormente lá onde aconteceu muito show também de punk, hard core e metal. O Escoliose seguiu firme. Ensaiávamos em lugares como o estúdio Biz, um amontoado de latarias, amps surrados remendados e um ambiente que mais parecia uma gambiarra do que um estúdio.

Desde então tocamos em muitos lugares na cidade, festas na UESPI, calouradas, ou qualquer buraco que nos enfiavam. Conseguimos gravar infelizmente apenas um demo, mas chegamos a levar uma banda inteira no fundo do ônibus. Tocamos muitas vezes em condições precárias, em lugares adjacentes de Teresina.

Era difícil conseguir equipamentos legais, todos nós não tínhamos dinheiro, mas o que era o máximo era juntar as pessoas para ir ver essa podrera. Tocamos nos piores buracos e aquilo era de uma alegria sem tamanho, não tinha cachê. Lembro que tocamos em uma festa punk, no clube Cabos e Soldados onde teve até tiroteio e pessoas transando na piscina do clube.

Mal tocamos duas músicas o show foi encerrado, geralmente era isso, mas era uma forma também de confraternização juntar pessoas que curtiam o estilo e as bandas que vinham fazendo o som na época, e todo esse rolê não foi algo aleatório, sempre teve algo político nisso, desde insatisfação com as propostas e atitudes de governantes.

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Se você ler uma letra do Escoliose ou qualquer banda da nossa época era literalmente o mesmo contexto, ou seja, essas reuniões até produzir fanzine.

Até o momento que estávamos colocando as palavras em músicas era puramente insatisfação, com passagem de ônibus alta, onde íamos muito em manifestações, aumento da pobreza, desemprego, consumismo desenfreado, toda e qualquer manifestação de descontentamento. Essa época acabou por solidificar na minha mente, comportamento consciente e empatia.

O punk me fez visitar lugares de péssima qualidade de vida para levar meu som. Íamos de ônibus levando os equipamentos e nunca ganhamos nada. Acho que o que mais nos instigava era tocar e passar essas mensagens além da coisa de unir as pessoas.

Ter vivenciado isso, me fez olhar para as coisas com mais desconfiança e critérios, sobre como o mundo maquia sua maldade, a música em si sempre foi apenas o transporte da mensagem, mas que transporte hein, quem dirá a mensagem. 

1 comentário em “Vozes do Punk Vol. 17: Sid Blues e o punk rock nos anos 2000 em Teresina”

  1. Muito boa sua história meu amigo Victor. Nosso som sempre será desse jeito, aglomerar uns e tentar unir todos para contestar o status quo vigente. Viva o Punk!!

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